MELANCIAS NO PESCOÇO
Indignação e surpresa foram alguns dos sentimentos que tomaram conta de mim, quando assisti, completamente atônita, à reportagem informando que o Ministério Público vai fiscalizar a merenda que os professores comem nas escolas públicas. Segundo a notícia, a fiscalização será realizada para fazer valer uma lei criada e que, caso não seja respeitada poderá levar para a cadeia, diretores das escolas, merendeiras e professores, ou seja, quem comer a comidinha das crianças poderá conhecer os rigores da Lei.
O fato é, no mínimo, curioso e deixou-se com a sensação de que o Ministério Público não tem muito com que se ocupar. Essa lei vem contribuir para formar crianças cada vez mais egoístas; senhoras de si e certas de que o mundo está cheio de pessoas apenas para servi-las.
Ora, é público e notório que a Educação Brasileira enfrenta problemas realmente sérios e ao invés de procurar meios para solucionar esses problemas, o MP se preocupa com um prato de cuscuz que professores comem nas escolas!!! Não dá para acreditar!!!
Na minha opinião, o MP teria muito mais visibilidade e receberia muito mais crédito da opinião pública, se passasse a fiscalizar a quantidade de material didático que é destinado às escolas, no início de cada ano letivo, por exemplo.
Seria bem mais proveitoso para o MP, fiscalizar os motivos pelos quais as verbas destinadas à Educação não chegam ao seu destino, conforme as notícias veiculadas na Imprensa Nacional todos os dias. Ora, façam-me o favor.
Se um nobre representante do Ministério Público estivesse dentro de uma escola, iria perceber que um prato de cuscuz destinado a um professor, não irá deixar qualquer aluno com fome. Mesmo porque, na maioria das vezes, eles apenas pegam a merenda, experimentam e jogam fora. Qualquer pessoa que conheça a rotina de uma escola sabe muito bem do que eu estou falando. O valor de trinta centavos destinado à compra da merenda escolar é que deveria ser fiscalizado pelo Ministério Púbico.
Essa proibição era só o que faltava para a classe de trabalhadores na Educação. Tenho certeza de que os membros do MP, que demonstram uma grande preocupação com um prato de comida fornecida a um professor, desconhecem o fato de que os professores deixam por ano, dentro das escolas onde trabalham, o equivalente a um mês de salário.
Esse dinheiro é utilizado para que os profissionais paguem pela água que bebem, paguem pelas festas comemoradas dentro da escola, tais como Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Encerramento do Ao Letivo, enfim, todos os eventos promovidos e praticados dentro da escola são realizados com o dinheiro do professor, que não é lá grande coisa.
Se o MP quer mostrar serviço à Sociedade, sugiro que comece fiscalizando essa prática. Afinal, por que é o que o professor tem que arcar também com a responsabilidade de pagar pelas festas da escola? Se elas fazem parte do calendário letivo e se o professor é obrigado a promover o evento, que o pagamento com esses custos sejam cobrados à Secretaria de Educação.
Existe um ditado popular, cuja afirmação é a de que, “as leis no Brasil existem para serem descumpridas”. Se essa prática for mesmo verdadeira, ela não pode ser aplicada à Educação, porque o professor é o único servidor púbico, que jamais fica invisível para o chefe.
Ele é o único servidor público presente ao seu local de trabalho às 07:00h; também é o único que faz greve e é obrigado a repor os dias parados. Dou um doce e uma cocada a quem conhecer um médico sequer, que participou de uma greve e que foi obrigado a realizar plantões extras para compensar a população pelos dias não trabalhados.
O profissional da Educação é o único servidor que vê sua carga de tarefas aumentar, sem poder cobrar horas extras; agora torna-se também o único a correr o risco de ser vítima de um processo, caso coma um prato de cuscuz no seu ambiente de trabalho. Pendurar uma melancia no pescoço e desfilar por entre os corredores de um Shopping Center também faz uma pessoa aparecer. (30/ago/2011)