CRIANÇAS NA RUA – CRIANÇAS SEM FAMÍLIA

Em vez de falar de "crianças de rua" seria muito mais significativo falar em "crianças sem famílias". O problema não se resolve deixando na rua ou recolhendo as crianças que perambulam por aí. A sociedade brasileira deixará de ser hipócrita, quanto ao problema das crianças desamparadas, somente quando resolver enfrentar o problema dos adultos desamparados. Quem produz estas crianças? Certamente os adultos. No Brasil nunca houve uma política e uma educação que orientassem as leis e os hábitos no sentido da solidificação da estrutura familiar. O homem não é um ser a quem se possa permitir um sexo sem limites. O filho que nasce, para chegar a ser pessoa útil à sociedade, necessita de um ambiente familiar estável que possa acolhê-lo com carinho e com responsabilidade. E isto não será possível onde os pais apenas se ajuntam para procriar. É preciso que a sociedade incentive, proteja e possibilite legalmente a estabilidade familiar. Aqueles que se propõem ser pais necessitam de seu país formação e condições econômicas para poderem assumir responsavelmente a sua prole, e mediar-lhe a cidadania a que tem direito. O cidadão que coloca um filho no mundo deve poder ser responsável por ele. Se esta responsabilidade não existe, quem fica responsável por ele é a sociedade. E quem deve fazer as leis que garantem o bem estar de todos os cidadãos são os políticos. E onde estão as leis no Brasil que fortificam, possibilitam e garantem a solidez familiar aos milhões de brasileiros na miséria absoluta? Batalha-se neste país por leis que facilitam o divórcio, por isenção penal do adultério, por pena de morte, mas onde estão as leis que garantem ao cidadão as condições mínimas para uma vida familiar digna?

No meu entender, uma sociedade que deixa crianças na rua, desamparadas, desprotegidas e sujeitas a abusos animalescos deve ser denunciada e condenada como um todo. Lugar de criança é no lar e na escola. Depois de massacres de menores, é pura hipocrisia de políticos e religiosos se escandalizarem e lamentarem o ocorrido. Será que antes do "massacre da Candelária" ninguém viu as crianças deitadas por aí? E por que não se abria as portas da igreja para que elas dormissem lá dentro, num gesto profético e denunciador? Isto teria sido muito mais cristão do que, depois, rezar "missa de sétimo dia". Não acham?

Inácio Strieder é professor de Filosofia – Recife/PE