O espaço da leitura e da escrita na educação pré-escolar

Este texto vem mostrar, que a criança da pré-escola deve ser mais respeitada e melhor compreendida. Coloca-a como ser capaz, mesmo muito pequena, de criar hipóteses, de testá-las e de criar sistemas interpretativos na busca de compreender o universo que a cerca, e que a aprendizagem da leitura e da escrita não se limita à sala de aula. Pois a criança inicia o seu processo de alfabetização muito antes de entrar para a escola.

São duas as opiniões divergentes

A primeira diz que as crianças não têm o direito a aprender, isto já diz tudo, pois quando se é tirado o direito, se tira tudo de alguém, pois nesta condição as crianças não podem aprender. São tiradas todas as formas escritas que possam dar continuidade ao seu aprendizado, que vem desde seu nascimento sendo somente permitido desenhar. A escrita e a leitura não são usadas na sala de aula, mas a criança sabe da existência destes, pois ela já tem conhecimento de um mundo letrado em seu dia a dia.

A segunda opinião diz que as crianças na pré-escola já estão prontas para serem letradas como se fossem do primário, enche-se a sala de aula com o alfabeto e silabas de palavras que ela ainda não compreende e nem consegue se assimilar com este ambiente mais maduro. Essa diferença só faz sentido quando concebemos a alfabetização como um processo, no qual o aprendiz vai construindo e reconstruindo suas idéias sobre o sistema de escrita.

Deve se achar um meio termo para essa discussão, pois nem a primeira e nem a segunda opinião estão corretas. Há de se pensar que as crianças é que decidem quando, e como aprender, não cabendo aos adultos acharem que as crianças só aprendem o que lhes ensinam, pois estas já vivem em um mundo cercado por letras símbolos e palavras deste o nascimento. As crianças na educação infantil devem ter acesso à leitura e a escrita, de forma lúdica para que não deixem de brincar, mas que continuem brincando e aprendendo, porque o brincar nesta fase é essencial para melhor aprender. Deve-se permitir que a criança aprenda, ainda que não se tenha nenhuma intenção de ensinar nada. E deve-se permitir às crianças assistir a atos de leitura e de escrita produzidos pelos educadores ou outras pessoas que saibam ler e escrever, e dar a criança o incentivo para que ela escreva por si só sem usar copias ou modelos para que esta não fique presa. Mas seja livre a escrever o que quiser e como quiser usando sua própria imaginação, aprendendo desde cedo a ser livre para pensar e escrever a seu modo. Este processo não ocorre só na escola, mas também na vida e no mundo, pois a escrita está por toda parte no meio urbano. Portanto, desse ponto de vista, aprender ou não a ler e escrever na Educação Infantil passa a ter um significado muito diferente. Passa a significar não só ter acesso à informação sobre a escrita, dentro de situações de aprendizagem intencionalmente planejadas pela professora para ajudar a criança a avançar em seu processo de alfabetização, Mas também ter ou não oportunidade de participar de alguma forma, de práticas sociais mediadas pela escrita.

Os dados contextuais são importantes nesta fase, à criança já os conhece em seu dia a dia. Quando quer um refrigerante ou um biscoito já os conhece mesmo sem saber ler, pois os símbolos que estão ali colocados já são identificados e isto ajuda muito na hora de aprender a leitura e a escrita,, pois são os mesmos símbolos e ela se sente familiarizada. Quando a curiosidade se aguça ela tem prazer em aprender a decifrar tais símbolos.

Crianças de classe média e alta que moram na região urbana aprendem a ler na Educação Infantil com mais facilidade. Porque vivem imersos em um cotidiano cheio do que podemos chamar de eventos de cultura escrita. Uma família de classe média, mesmo quando não composta por leitores de livros, realiza uma grande quantidade de práticas sociais mediadas pela escrita: vive e circula em lugares que têm placas com o nome da rua (e as crianças observam os adultos utilizando essa informação); recebe e envia correspondências; consulta listas telefônicas e agendas; lê jornais e revistas para se informar ou se divertir (as crianças observam os adultos utilizando essas informações e são freqüentemente as beneficiárias delas). As crianças de classe média costumam receber informação sobre como seu nome é escrito (em letra de forma) ,e freqüentemente, os dos pais e irmãos. Recebem jogos com letras para brincar, possuem livros de histórias mesmo que não saibam ler, e principalmente costumam ter adultos que lêem para elas. E agora, além de tudo isso, crianças cada vez menores têm acesso ao computador e ao processador de textos. Os pais que garantem todas essas oportunidades não estão com isso, se propondo a ensinar nada. Essas práticas fazem parte do mundo onde eles vivem: o mundo letrado. Um mundo que a maior parte das escolas públicas de Educação Infantil não deixa entrar (ou tenta substituir por uma caricatura das práticas tradicionais de cópia e memorização de padrões silábicos, práticas que são e continuam sendo hegemônicas na escola fundamental). Enquanto crianças pobres e da zona rural não tem todo esse aparato cultural.

Precisamos compreender é que o processo de alfabetização é longo e começa assim que a criança se encontra com material impresso, desde que alguém diga a ela o que está escrito. E que a maioria das crianças que estão na escola pública depende quase exclusivamente das oportunidades escolares para ter acesso ao mundo da cultura escrita. Esse acesso tem um papel decisivo em suas possibilidades de sucesso escolar. E é preciso deixar claro que fazer entrar a língua escrita na Educação Infantil, não significa propor uma linha de educação compensatória. Todas as crianças, ricas ou pobres, têm direito a aprender tanto o sistema alfabético de escrita em português como a linguagem escrita.

O que chamamos dar acesso desde cedo à escrita e à linguagem que se usa para escrever, vai bem além da reflexão sobre o modo de funcionamento do sistema de escrita, de chegar à escrita alfabética.

Conclusão:

Considerar a alfabetização como construção de conhecimento em lugar de simples acúmulo de informações não significa assumir uma posição espontânea no que se refere ao ensino. Muito pelo contrário, uma abordagem psicogenética da alfabetização aumenta a responsabilidade da escola, em vez de diminuí-la. Nem significa que as crianças não precisem aprender o valor das letras. O que a psicogênese da língua escrita permitiu compreender é que esse saber não é suficiente para aprender a ler e a escrever. Mas insuficiente não significa desnecessário.

A leitura diária de histórias pela professora e o contato sistemático com material impresso fazem uma diferença significativa no desenvolvimento da competência leitora e escritora dos alunos. Trazer para dentro da escola as práticas sociais de leitura que existem nas famílias letradas pode fazer uma enorme diferença.

Bibliografia:

FERREIRO, Emilia. O espaço da leitura e da escrita na educação pré-escolar. In Reflexões sobre alfabetização. São Paulo Cortez 2001.