O SUJEITO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Desde os tempos remotos, percebe-se que a educação vem sendo utilizada como um instrumento de dominação, alienação, exclusão e empobrecimento sócio-cultural. Nesta obra, o autor propõe aos profissionais da área educacional, uma reflexão séria e consciente sobre a responsabilidade que o ofício lhes propõe.

O profissional da educação tem a oportunidade de refletir sobre dois grupos de Teorias educacionais mediante os apontamentos e a percepção crítica do autor faz, sendo: o o primeiro grupo das “Teorias não-críticas” e o segundo grupo das “Teorias crítico-reprodutivistas”. O primeiro, defende que a educação é um forte instrumento de hamonização, superação e integração dos membros da sociedade, podendo transformar a vida do cidadão marginalizado; o segundo grupo defende, no entanto, que a educação passa a ser influenciada pela sociedade e pela força exercida pelas “classes dominantes”, produzindo a marginalidade social e escolar. Nessas relações de poder e domínio, a escola e os professores precisam respeitar e reconhecer, os direitos, os deveres, os saberes e a identidade cultural dos educandos a fim de promover uma prática pedagógica ética e igualitária; não excludente. Desta maneira, possibilitar uma ação político-pedagógica que seja planejada atendendo às necessidades e interesses de todos. Portanto, ensinar exige bom senso, uma vez que, deve-se observar o quão coerente e coeso os educadores estão sendo ao cobrar os uma posição autônoma e participativa dos alunos que educam. “Só assim seria possível transformar os súditos em cidadãos” (SAVIANI, 2000, p.6).

Dentre alguns fatores importantes abordados nesta obra, podemos citar a importância que o professor deve dar ao estimular o aluno à busca do seu próprio conhecimento, através da pesquisa, criticidade e curiosidade; ele precisa desejar explorar o objeto de estudo, aprofundando seu conhecimento e desempenho intelectual através da construção e reconstrução do saber ensinado socialmente e inicialmente transmitido pelo "mestre". Por meio dessas “quebras de paradigmas” iniciamos uma transformação histórica em nossos tempos. É preciso então que se tome consciência das lutas sociais e das formas de dominação ideológicas que sofre a educação hoje, regulando o equilíbrio dos conteúdos a serem desenvolvidos nas salas de aula e o discurso político e histórico usado pelos educadores.

Esta é uma obra eminentemente sócio-cultural e política, que visa o progresso à médio prazo e pelas próprias comunidades, numa maneira coesa, propondo a ruptura do sistema dominante e de suas influências na comunidade escolar. Aconselha que os educadores se posicionem criticamente, questionando, orientando e incentivando aos educandos a pensar e reivindicar seus direitos, influindo na sociedade. Todavia, sugere ainda que, ao assumir este compromisso, o educador o assuma com ética, amor e alegria por ensinar, porque será das crianças que educamos hoje que partirão as mudanças que renovarão a sociedade.

O PODER TRANSFORMADOR E O EXERCÍCIO DA EDUCAÇÃO

Conhecer a história da educação, segundo suas influências políticas, possibilita o traçado de uma práxis pedagógica que permita a formação do sujeito como um homem livre, crítico, participativo, autônomo e consciente do seu papel no seu tempo. Em sua obra entitulada “Escola e Democracia”, Saviani faz também algumas provocações, quanto às questões de influência histórica e política e do papel da escola na vida social.

Ao mostrar a necessidade e a importância do professor como transformador da realidade educacional, o autor estrutura proposições e abre possibilidades para diálogos e discussões que questionam se o educador está realmente a serviço do educando ou das políticas governamentais e sistemas atualmente vigentes. Assim como já temos discutido nos demais temas estudados nesse semestre, percebemos mais uma oportunidade de reflexão, por meio desta obra, quanto ao nosso verdadeiro papel no contexto social, histórico e político neste tempo. O autor tenta esclarecer a situação da Educação nesse âmbito (político e histórico) propondo uma melhor compreensão em relação aos diferentes aspectos da sociedade, da história e dos momentos políticos; levanta questões distintas e importantes envolvendo dois grupos opostos.

O primeiro grupo -o das ˝Teorias não-Críticas˝- é classificado por três tipos de prática pedagógica: Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista. Ambas defendem ser a educação capaz de fazer um milagre, erradicando a marginalidade na nossa sociedade. Os pensadores deste grupo não consideram que os problemas e a estrutura social são influenciadores da educação. Estas teorias “já encaram a educação como autônoma e buscam compreendê-la a partir dela mesma”( SAVIANI, 2000, p. 05). Destaca também as diferenças entre as três concepções pedagógicas e sua relação com o problema da marginalidade: Na Pedagogia Tradicional, a educação é vista como direito de todos e dever do Estado, sendo a marginalidade associada à ignorância. A escola surge como um “remédio”, capaz de sanar o problema. Na Escola Nova, começa a surgir um movimento reformador da pedagogia tradicional, no qual a marginalidade não é mais atribuída ao ignorante e sim ao rejeitado, ao anormal e inapto, desajustado biológica e psiquicamente. A escola passa a ser então a forma de adaptação e ajuste desses indivíduos à sociedade. No Tecnicismo, define-se a marginalidade como ineficiência, improdutividade. A função da escola, então, passa a ser de formação de indivíduos eficientes, para o aumento da produtividade social, associado diretamente ao rendimento e capacidades de produção capitalistas.

Tanto a Escola Tradicional quanto a Escola Nova são muito criticadas nas décadas de 60 e 70 e Saviani explica de forma simplificada estas questões. As teses Tradicionais e Novistas, que eram centradas no professor ou no aluno como principais responsáveis pelo ensino e o aprendizado, eram imperfeitas. Se achava que, tanto professor quanto aluno podiam, separadamente, ensinar e aprender sem que para isso houvesse uma interação entre si. Esta mesma crítica também foi abordada pelo Professor Paulo Freire, em sua obra “Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa”, conforme pudemos averiguar no semestre anterior;o mesmo considerava esta como uma prática “bancária”, onde o mestre deposita seu conhecimento no aluno.

“Ora, vejam vocês: o que é a pedagogia da existência senão diferentemente da pedagoia da essência”[...] (SAVIANI, 2000, p.40).

Saviani analisa algumas características específicas das teorias educacionais, afirmando que a tradicional surge historicamente com o interesse de superar o Antigo Regime, que se baseava nas conquistas da Revolução Francesa e propunha a universalização do ensino para retirar as pessoas da condição inferior, súditos e transformando-os em cidadãos esclarecidos. Nesse contexto, entende-se que a marginalidade é um fenômeno derivado do déficit intelectual ocasionado pela falta do ensino, sendo a escola o remédio para este problema, na medida em que se difunde um ensino centrado e organizado em torno da figura do professor. O professor direcionava as lições aos alunos, seguidas com disciplina e atenção; competia a estes somente “aprender”.

O segundo grupo - o das ˝Teorias Crítico Reprodutivistas˝ - nas quais não pode ser possível “compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociai” é subdivididas em׃ Teoria de Sistema enquanto violência simbólica, Teoria da Escola, enquanto aparelho ideológico do Estado e Teoria da Escola Dualista. Neste caso, de forma oposta, a educação aparece como fator agravante, através da discriminação e responsável pela marginalidade. Saviani propõe ainda uma Teoria Crítica da Educação, frisando que os dois primeiros grupos explicam a marginalização com relação, entre educação e sociedade.

Estas teorias consideram a Educação como um instrumento da classe dominante capaz de reproduzir o sistema “dominante-dominado”, sendo responsável pela marginalização, uma vez que percebe a dependência da educação em relação à sociedade, tendo em sua estruturação a reprodução da sociedade na qual ela se insere. Elas reproduzem o modelo capitalista vigente (são citados na obra o sistema de ensino como violência simbólica; a teoria da escola como aparelho ideológico do Estado ou da classe dominante; e a teoria da escola dualista).

Pode-se observar a atual política educacional brasileira, que privilegia o ensino fundamental como formação de mão-de-obra (países em desenvolvimento/ mão-de-obra barata, acrítico e subserviente), que saiba ler para operar as tecnologias desenvolvidas no “Primeiro Mundo”, retentor de tecnologia, dos poderes econômico, bélico e político.

Num segundo momento do livro, Saviani faz referência à Teoria da Curvatura da Vara, fazendo alusão à política interna da escola a partir de três teses, sendo todas elas, políticas: Tese filosófico-histórica, propõe refletir sobre a história do homem e a influência desta na educação, as mudanças sociais e a luta de classes trazida com o capitalismo e seus reflexos na educação. Tese pedagógico-metodológica, O autor discute aqui a relação entre ensino e pesquisa e como o “escolanovismo” - método tradicional o articulava como produto da ciência. Escola Nova, voltando então à falta de democracia , que remete o autor à terceira tese que deriva, segundo ele das duas primeiras.

“Como e quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática foi a escola; e como e quando se menos falou em democracia, mais a escola esteve articulada com a construção de uma ordem democrática”. (SAVIANI, 2000, p. 36)

E como o autor destaca, a Teoria de Curvatura da Vara de Lênin pode ser a forma de a Educação criar – desde que conheça seus períodos e as suas inúmeras mudanças- uma revolução para a quebra desse sistema, uma vez que se quebra a sua neutralidade para que, de fato, seja considerada parte ativa neste processo de transformação.

A educação que deveria ser o instrumento para as escolhas do homem livre, democrático, cidadão e autônomo acaba, então se tornando mais uma ferramenta de manipulação e de homogeneização do pensamento crítico da sociedade. Ela legitima as diferenças sociais e marginaliza, ao invés de tencionar a luta contra a ideologia das classes dominantes, e dos direitos dos seres humanos: o conhecimento, que deve ser universal e possibilitado a todos. A relação entre educação e a sociedade, deve abranger o desejo de que o educador seja um agente transformador, não do mundo, mas de cada indivíduo que assiste a sua aula, possibilitando a este uma compreensão melhor do sistema, assunmindo seus deveres e direitos para a construção de um país melhor.

BIBLIOGRAFIA

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 33. ª ed. revisada. Campinas: Autores Associados, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MAJESK, Jaime Vital. Análise do livro Escola e Democracia: fichamento técnico. In: Apostila de estudos e anotações pessoais da disciplina Articulação dos Eixos Temáticos - 2.º período/2007. Universidade Norte do Paraná. Vitória: 2007.