Bullying, essa peste

A esta altura da vida eu pensei em não tocar mais em determinados temas sobre educação. O Bullying é um deles. Primeiro porque se trata de um termo que se toma emprestado da língua inglesa; segundo porque tive a sorte de quase nada haver presenciado dessa prática abjeta; terceiro porque trabalhei em curso de Pedagogia e, quando orientei trabalhos de pesquisa, a preferência das orientandas era por este tema. Resultado deste terceiro item: é insuportável avaliar trabalhos estranhamente tão semelhantes, repetitivos e sem esperanças de resolver a questão.

Quanto ao empréstimo da língua estrangeira, não se trata de preconceito, mas me parece criar um clima de supervalorização de algo ruim. Temos em nossa língua termos que cabem muito bem à situação de violência existente em muitas escolas: molecagem, vagabundagem, bandalheira, esculhambação, azaração, desordem _ e milhares de outros vocábulos e expressões, sejam da variante padrão ou da popular/coloquial.

São muitas as opiniões e resultados de pesquisas sobre a violência nas escolas e em toda a sociedade. Talvez esses resultados de investigações e de tantos projetos desenvolvidos tenham servido para, na contramão do que se esperava, gerar mais e mais violência. É o que, à primeira vista, salta aos olhos diante do quadro que se desenha em pinceladas de sangue e dor nos ambientes escolares e familiares.

Há uma tendência de caça às bruxas, de possíveis réus para a fogueira inquisitória. No texto das notícias de hoje, os pais foram chamados à responsabilidade por especialistas do comportamento humano. Claro que os pais e outros responsáveis e familiares têm direta influência sobre a maneira como seus filhos e netos se portam socialmente. Entretanto, pais e professores têm sido apontados de forma meio equivocada.

Não apenas esses mencionados responsáveis têm a ver com a violência que nem é mais urbana, mas que está por toda parte, inclusive no menor e mais pobre município. Há uma padronização social que é promovida pelos ares da globalização e pela força das comunicações. O mundo tornou-se tão pequeno quanto um grão de areia nesse ambiente de poderoso acesso à informação. Nem todos os atores sociais aproveitam o melhor veiculado pelos meios de comunicação, muito menos pela especificidade da Web.

Recentemente encontrei, em uma lan house, uma linda menina de apenas 7 anos de idade acessando a Internet e, ao conversar com ela, me disse que aprendera a navegar na rede por ela mesma, e desde os 3 anos de idade. Agora uma lei tenta impedir que menores de até 15 anos de idade frequentem lan houses em um período que se estenda além das oito da noite. Ora, e que tem o horário com o acesso? Sim, é muito importante essa atitude da lei, mas não resolverá a questão. E que tem este assunto a ver com a violência, com o Bullying? Respostas: quase tudo. Sente-se o leitor por meia hora apenas em uma cadeira de lan e observe que a maioria dos frequentadores é de tenra idade e se dedica a jogos de excessiva violência. Além disto, abram os ouvidos para as palavras que gritam enquanto jogam.

Penso que cada estabelecimento desse tipo referido deveria contratar um pedagogo para acompanhar as atividades dos jovens. Ah, que bobagem estou dizendo, pois, quem se proporia a tal contrato? Dirão que sou louca. Que o digam. A minha loucura ainda não me impediu de ver como proprietários de espaços de diversão gostam do dinheiro que ali circula.

Agora, e saindo da lan para a escola, é hora de perguntar: Que estão fazendo os funcionários do corpo técnico-administrativo que não caminham pelos espaços da unidade escolar para ver o que acontece por ali, inclusive pelos banheiros? Que fazem todos os envolvidos na escola que não ouvem a gritaria das brigas, dos engalfinhamentos e agressões físicas, psicológicas e verbais? Onde estão todos? Dá vontade de dizer: “Acorda, Nathalie!”

As crianças e os adolescentes ficam abandonados pelos corredores, salas, quadras e ali é mesmo onde o pau quebra. Quando explode uma tragédia correm todos e nada mais se pode fazer. Passa aquele momento, tudo volta ao esquecimento até que outra vez a violência aconteça.

Dentro das salas de aula, a única e preciosa preocupação; o único e mais importante objetivo é a ministração de conteúdo dos repetitivos e esvaziados livros didáticos. Contas, textos, datas históricas, processos biológicos, umas palavrinhas de língua estrangeira; ditados, cópias, exercícios, deveres; avaliações P M G – um verdadeiro inferno disfarçado de processo ensino-aprendizagem. Não se fala de Deus, de espiritualidade, de boas maneiras, de respeito aos mais velhos e aos diferentes. Pra que isto? O importante é tirar dez e, futuramente passar em qualquer vestibular _ com ou sem vocação para uma carreira.

As aulas, em geral, são violências psicológicas e o processo começa nas séries iniciais (veja Célestin Freinet). E, quanto mais queira se sentir importante a escola, mais a tortura se faz astro. Há um conjunto de responsabilidades. De todos nós e da sociedade inteira. Dessas pessoas que estudam, por exemplo, a obra de Piaget e a de Paulo Freire, e fazem tudo muito pelo contrário. Quanta hipocrisia didático-pedagógico-metodológica. Quanta! E tanta! Puro discurso teórico.

A hipocrisia gera violência e as crianças e adolescentes são pós-doutorados em reconhecer hipócritas, pergunte a Freud.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 09/08/2011
Reeditado em 09/08/2011
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