Pelo Dia do Orgulho Humano

Wilson Correia

Parece não haver discordância quanto ao fato de nossa sociedade ser caracterizada por uma mentalidade machista, patriarcal, centrada no masculino, falocêntrica e unissexual.

Enganam-se aqueles que pensam que apenas as pessoas do sexo masculino filiam-se a essa mentalidade. No dia-a-dia, não é raro encontrarmos mulheres que são mais machistas que os própros homens, por exemplo.

Exatamente por ser elemento fundador e um constructo cultural milenarmente enraizado em nós, dele compartilhamos todos e todas.

Iniciativas rumo a uma compreensão mais pluralista, democrática e aberta sobre a condição humana no mundo têm sido empreendidas, rumo ao plurissexualismo.

Esse assunto implica relações de saberes e poderes bem mais intricadas do que se imagina, mas a visibilidade que setores “minoritários” desse contexto (como as empreendidas pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT) dão à defesa de uma convivência humana mais aberta nos princípios, valores e normas éticas (e de etiqueta) mostram a pertinência de lutarmos contra a hegemonia de certos valores para lá de questionáveis nesse setor.

Nesse contexto, parece-me, primeiro veio o “Dia do Orgulho Gay”. Agora surge em São Paulo o debate em torno de uma lei municipal paulistana para marcar o “Dia do Orgulho Hétero”, com uma motivação para lá de bizarra: “em nome da família e dos bons costumes”, algo assim.

A fonte dessa motivação evidencia bem seu fundamento: a vontade de assujeitar todos à verdade única, de matiz religiosa. Fundamentalista, portanto.

A reação da ABGLT não poderia ser mais contraditória, pois pretende estancar a via da qual se serve para sua própria auto-afirmação: a convivência democrática de diferentes estilos existenciais. Ao pedir o veto a essa lei, a ABGLT atira contra a lebre da qual tem se alimentado e quer continuar a se alimentar.

Sinal de tempos ruins esses dois tipos de extremismo. É como se esses sujeitos sociais estivessem lutando para fazer valer os interesses considerados mais apropriados para a sociedade, o que quebra o princípio da isonomia do qual se valem diuturnamente.

Reconhecer e proceder a reparações de injustiças históricas cometidas contra minorias é uma coisa; outra, bem diferente, é essa vontade de hegemonia, em cuja trilha o injustiçado reivindica o direito de se tornar o justiceiro da vez.

Preocupante! De minha parte, estou aguardando a iniciativa de alguém que pugne em favor do “Dia do Orgulho Humano”. Ou será que também isso não passa de uma quimera?