A formação do professor

A educação deve ter como o foco os estudantes e não o conteúdo, se almeja ser efetiva e não apenas formal. De fato, cada grupo possui características que o torna único. Não se pode educar dois grupos da mesma forma. Há diversas variações a serem observadas: idade, contexto cultural, histórico escolar... Se é absurdo conceber que um professor(a) lecione da mesma forma em grupos distintos, não seria também estranho que a formação do professor não leva essas diferenças em conta?

Um curso de licenciatura deve desenvolver uma confiança inabalável nos professores em formação em relação à capacidade dos educandos. Portanto, o foco não deveria ser o repertório de técnicas e conhecimentos, ainda que seja relevante, mas sim buscar forjar tal confiança incondicional do educador, condição essa fundamental para superar qualquer obstáculo.

Um professor cônscio de seu papel como educador e extremamente confiante na capacidade de seus estudantes pode superar paulatinamente suas próprias debilidades em termos de "repertório". Contudo, o contrário não se verifica. Mesmo com um vasto repertório teórico, um professor pode facilmente desistir dos educandos diante das adversidades cumulativas.

De fato, a iniciativa do PCC veio a impulsionar a relação entre teoria e prática. PCC significa Prática como Componente Curricular e prevê uma carga horária determinada para disciplinas da área de educação em atividades de observação ou pesquisa no contexto escolar. Contudo, muitos professores universitários encaram a iniciativa como apenas mais uma avaliação e não se preocupam em estimular os "licenciandos" a pesquisar temas relativos à sua prática. Salvo louváveis exceções, é claro.

Uma limitação do PCC é que não proporciona um envolvimento real do licenciando com o grupo que observa. O licenciando apenas observa algumas aulas de um professor e escreve um relatório. Geralmente, o licenciando não se engaja nas atividades em sala de aula, nem estabelece uma relação mais próxima com os estudantes. Seu foco, causar uma reflexão para orientar a prática do professor, é desviado para a mera comprovação das teorias aprendidas. Logo, deve-se fazer uso do PCC da melhor forma possível, mas reconhecer suas limitações.

Além do PCC, existe o estágio. Através dele, o licenciando mergulha no contexto de sala de aula e há a exigência de relatórios regulares.

Contudo, o estágio se dá nas fases finais, revelando a crença de que o graduando estaria "pronto" após 4 anos de curso e que o estágio seria, portanto, mera oportunidade de testemunhar esse fato. Nada poderia estar mais longe da verdade! De fato, deveríamos reformar os cursos de licenciatura, buscando fundir o PCC das disciplinas com o estágio final, de forma que houvesse uma disciplina por semestre de estágio. Dessa forma, o estudante estaria desde o início do curso em contato com o contexto do ensino regular, o que teria um duplo efeito positivo: catapultando sua formação profissional e propiciando a multiplicação dos esforços educacionais para a sociedade. Finalmente, tal inovação contribuiria sobremaneira para a construção da confiança do profissional, condição a que já fiz referência no início desse breve artigo.

É imprescindível avançar a relação entre prática e teoria nos cursos de licenciatura, muito além da mera observação, de maneira que os profissionais estejam mais preparados para os desafios que terão pela frente. Os educandos agradecem!

Olegario da Costa
Enviado por Olegario da Costa em 24/07/2011
Reeditado em 08/04/2015
Código do texto: T3115759
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