A LEITURA E A INFÂNCIA
Analisando a educação atual, percebe-se que os educadores estão cientes de que em toda e qualquer escola infantil os principais elementos de trabalho não se caracterizam como sendo os pequenos livretos.
É claro que toda criança já nasce com um potencial físico e psíquico para ler o mundo e quaisquer símbolos que expressam a cultura; a transformação dessa criança em leitor depende do conjunto de estímulos sócio-ambientais ao qual ela responde e com o qual ela se identifica no transcorrer de sua vida. Pode-se assim afirmar porque estivemos inseridos, já na infância, neste contexto transformista, que nos concedeu a paixão pela arte de ler.
Nossa primeira escola sempre foi o lar, onde em um cantinho qualquer despencavam estas paixões, que naquele instante pareciam loucas, mas ora analisadas como sábias.
Tendo como base essa e outras experiências, afirma-se que o ensino das séries iniciais pode ser tomado como sinônimo de ensino da leitura, de modo que as crianças possam se situar no mundo da escrita, na escola ou em seu pequeno pedaço também. Nesse trabalho cabe à escola entusiasmar a criança a expor seus pensamentos e não fazer apenas o trabalho da leitura e da escrita, sem conexão com os sentimentos. Exposição de pensamentos próprios significa liberdade de expressão que, conectada com um bom trabalho de leitura realizado, fará do leitor um sujeito inteligente e capaz de defender suas idéias, e não retraí-las, como já se tem observado. O entusiasmo ao trabalho contínuo do leitor não será um pequeno prêmio pela melhor leitura realizada - réu condecorado a não falar - já nas séries iniciais, mas sim, outorgar-lhe o direito de expor seus pensamentos.
A infância atual tem apresentado idéias e pensamentos mais louváveis e admiráveis da infância de seus pais.
Por que não lhes conceder também este direito em sala de aula?
Percebe-se que a criança, na fase inicial de alfabetização, ainda não reconhece o livro como o instrumento básico para o ato de ler, já que a palavra ainda não se manifestou totalmente a ela, tanto na sua forma escrita quanto na sua forma oral. Nas demais séries iniciais, onde a alfabetização ainda se manifesta, aos poucos o livro vem sendo reconhecido, e já no final desta fase que chamamos “primária”, na 6ª série a criticidade começa a se manifestar nos educandos de forma mais lógica e social.
Mas se a leitura pode ser vista como uma atividade questionadora e contestatória, que permite o posicionamento crítico dos educandos frente à realidade social, então por que existe um número tão restrito de leitores neste país? Sempre pensei, assim como outros autores e educadores, que nos faltou e ainda nos falta um projeto sociopolítico democrático, que facilite o acesso do povo aos bens culturais registrados pela linguagem escrita.
É claro que a sabedoria popular tem se manifestado, por vezes, maior do que a de muitos de nossos mestres.
Mas onde está enclausurada em todo cidadão a vontade de ler aqueles poucos livros de grandes mestres ou escritores já existentes em nossas bibliotecas escolares ou municipais?
O que ainda não se faz presente em nossas escolas, educadores e governos?
Não seria bom refletir?