A PAIXÃO PELO ATO DE LER
Nas minhas andanças por obras de educadores, estudiosos ou pesquisadores durante a pesquisa da tese de mestrado, passei por uma frase de Paulo Freire que merece ênfase para uma discussão: “... não aprende aquele que é ‘preenchido’ por outros com conteúdos que contradizem sua própria forma de estar no mundo”.
Reside, talvez, nestas palavras o motivo da grande reprovação que sempre ocorre nas áreas de Física, Química, Matemática e, infelizmente, na área de Língua Portuguesa. Acredito que o que sempre faltou aos nossos educadores é conhecer a visão de mundo do educando com o qual convive para poder mudar-lhe a atitude, como também ainda se percebe uma preocupação grande de acentuar os princípios e a fundamentação de uma educação como prática de liberdade reduzida à mera capacitação técnica, sem incluir o esforço do homem em se decifrar.
No retorno à sala de aula, depois da defesa das minhas idéias sobre a importância da leitura à banca cubana, pude colocar em prática o projeto da minha pesquisa, uma vez que a amostra que havia escolhido para aplicar o projeto se encontrava, na época, na sétima série do ensino fundamental. Com a visão de mundo conhecida durante as entrevistas, não me foi difícil inserir neles o amor ao ato de ler, buscando sempre ajudá-los a uma autodecifração. E os dois anos de exílio da sala de aula já apresentavam os frutos de um trabalho educativo exercido em situações concretas, e não de devaneios intelectuais ou simplesmente da leitura exacerbada de livros durante a pesquisa: descobri diversas formas de avaliar os educandos.
Os testes de gramática continuavam, porém além deles, após a inserção do amor à leitura de gibis, livros infanto-juvenis, jornais da região e outros, avaliava a sua leitura através de testes orais, corrigindo sempre as semipausas e a pausa maior, além de solicitar sempre a tonicidade correta nas palavras. Enfim, durante quase um ano pude trabalhar com meus educandos o amor que sempre tive à leitura e facilmente contagiá-los. Recordo que encontrei diversas formas de avaliá-los, e se os conceitos adquiridos em testes gramaticais eram regulares ou satisfatórios, os testes orais compensavam os outros, levando-os a conseguirem, todos eles, conceitos bastante altos no final de cada bimestre. Daí surgiam as interrogações dos colegas educadores: - O que você está fazendo com toda esta turma, que os fez conseguirem média final máxima para quase todos?
Resposta que concedi àqueles que me interrogaram na época:
1º) Ensino com amor;
2º) Contagio o ato de ler com a paixão que tenho por ele.
Como educadora que fui, mãe, colega de cursos de graduação e pós-graduação sempre contagiei os que conviviam diariamente comigo. Se muitos utilizam uma potência para matar, invadir territórios, na autodefesa argumentada e sustentada na embriaguez do sangue e da dor alheia, eu, de minha parte, leio.
Tomara que vocês, educadores, façam o mesmo. É muito bom sentir o que vem depois!