Um Breve Olhar Psicopedagógico Institucional
O processo de investigação psicopedagógica na instituição escolar possibilita exercício do olhar e da escuta ampliada, de como os sujeitos aprendentes-ensinantes concebem e vivenciam o seu aprender em interação com seus pares.
Com uma leitura holística e focada na dinâmica da instituição, nas situações de sala de aula, nos procedimentos metodológicos utilizados, bem como na filosofia implícita nos programas e conteúdos curriculares é possível entrever a natureza dos obstáculos que se interpõem na elaboração do aprender dos alunos e da instituição como um todo. Esse todo pode ser abordado pela Epistemologia Convergente (VISCA, 1987 apud BARBOSA) a partir de um ECRO (Esquema Conceitual Referencial Operativo), que são esquemas de conhecimento, conceitos e que passa a ser referência para a atuação do psicopedagogo na instituição.
Durante um Encontro Pedagógico, realizado durante três dias, nas dependências do Colégio Alfa e Ômega*, foi possível traçar uma análise momentânea do processo intergrupal, tomando como instrumento de diagnóstico, o Cone Invertido, idealizado por Enrique Pichón-Rivière, utilizado por Jorge Visca, para medir a mudança e avaliar a dinâmica dos grupos durante a realização de uma tarefa. Os pontos referenciais, tomando como pressuposto de investigação, o Cone Invertido, são:
Pertença Comunicação
Cooperação Aprendizagem
Pertinência Tele
Mudança
Nesta breve análise podemos sinalizar que:
_ O grupo se filia à tarefa como mero observador ou torcedor sem se sentir como elemento do interjogo grupal. É possível perceber certo grau de "pertença" e de "cooperação", apesar de apresentar baixo sentimento de pertencer à dinâmica grupal, isso é evidenciado nas intervenções, diante de algumas respostas e daquilo que é lido nas entrelinhas quanto o que é dito e não-dito;
_ A "pertinência" desejada é mobilizada com grande esforço e demanda energética. Dessa forma os resultados acabam não refletindo a potencialidade do grupo ou resultando na eficácia, já que isso só se consegue a partir do desejo grupal e não de alguns membros isolados;
_ Os aspectos referentes à "comunicação" no momento observado revelaram algumas dificuldades, pois o canal escolhido para a transmissão do código é predominantemente o oral, ou seja, pautado na queixa, dificultando o equilíbrio das relações interpessoais, já que os membros em geral, apresentam dificuldades em discutir idéias e assumir postura auto-avaliativa, acabando por ser redundantes em suas colocações, limitando-se em apontar o erro do outro e ou caindo numa postura de inautencidade e de melindres;
_ O intercâmbio de sentimentos e informação expressa para dificuldades no lidar com aquilo que vem de fora, que precisa ser acolhido para a "aprendizagem" do grupo. A demanda energética é de razoável entropia implicando em ecos na comunicabilidade intergrupal e possivelmente desencontros nas ações com resultados confusos e empobrecidos. É observado que apenas alguns elementos dão sustentabilidade ao processo, permitindo que resultados sejam percebidos e apresentados como fonte para novas construções e sucesso da instituição;
_ Nesse caso, a "tele" parece se configurar como resultante do vínculo indiscriminado com as situações vivenciadas, refletindo sentimentos contraditórios quanto à função exercida e diante das necessidades do grupo. Isso traduz uma distância afetiva que traz velada, sentimentos negativos quanto ao comprometimento e envolvimento da equipe como um todo.
Portanto, o fazer psicopedagógico na instituição escolar implica num desatar de fios emaranhados, pontos cegos compostos em “nós” da ignorância. Ignorância esta, que se institucionaliza, principalmente, nos organismos retidos, aprisionados naquilo que já sabem, no anteriormente construído, na visão pré-concebida, na repetição de fórmulas emboloradas por limitadas concepções de realidades, na falta de um espaço- tempo reflexivo, no medo da mudança. Rever essas questões resultaria forçosamente num movimento de desequilibração, num exercitar de aprendências em que sair das zonas de conforto e atingir zonas potencializadoras, significaria ter que desaprender, aprender, aprender a aprender, aprender a ensinar, ou seja, um esforço dialético que custa a quebra e/ou a reedição dos paradigmas cerceadores.
(*) Por questões éticas o nome da instituição escolar foi substituído.
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Seilla Regina Fernandes de Carvalho – Pedagoga (UNEB-BA), Psicopedagoga Clínica e Institucional (FAP-PR), com Formação na Docência do Ensino Superior, Mediadora em Cursos de Aperfeiçoamento e Formação Continuada dos Profissionais de Educação; Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes; Consultora Educacional e Co-autora, com João Beauclair, do livro “Sinergia: Aprender e Ensinar na Magia da Vida” (no prelo).