INVERNO: VESTIBULAR SEM LEITOR?

E o inverno apareceu. Com ele aparecem mil casos da pobreza brasileira. Mas o cidadão brasileiro, mesmo nessas condições em que se encontra, ainda enfrenta o vestibular de inverno, que em grande parte do Brasil, este cidadão, leitor ou não, terá que resgatar para si o espírito de luta para conseguir controlar, pode-se dizer, as mensalidades das universidades. E é um espetáculo o jogo de controle que o brasileiro, sem condições financeiras, faz para quase no final do curso dizer com firmeza: consegui! O brasileiro e o estudante são jogadores extraordinários, que por não terem condições financeiras de fazer uso da porta de entrada para sair do país e conseguir lá fora o que podem, durante a partida, tentam aqui mesmo neste campo de jogada e sempre conseguem.

No estágio atual das coisas, as reflexões sobre a escolha dos cursos são, ao mesmo tempo, obsoletas e prematuras. É claro que todo estudante geralmente procura relacionar a satisfação que lhe proporcionará determinado curso com as suas intenções e desejos. Mas, ainda assim, sem uma resposta íntegra a isso, e para não sofrer o efeito da derrota, provoca o porteiro e a porta da universidade se abre a ele para qualquer outro curso.

O nosso ousado estudante universitário não pode agora dizer que sabe ler latim só porque é capaz de pronunciar frases escritas naquela língua. Agora, como tolerou a amputação de seus ideais terá de se fazer pequeno e pobre conhecedor da realidade pela qual optou.

Tenho observado que mesmo assim, o estudante brasileiro, agora graduado, toma consciência de onde está, o que pretende fazer e faz. Esse é o chamado “jeitinho brasileiro”. E nesse “jeitinho” será que também se transformou em um cidadão leitor? Creio que nessa tomada de consciência ele compreendeu que há diferença entre ver e olhar, ouvir e escutar... e que ler não é apenas passar os olhos por algo escrito, ou fazer a versão oral de um escrito.

Acredito, também, que vez ou outra este estudante mergulha em um bom livro e sai fascinado com a beleza da língua e das idéias inseridas ali.

Depois de um desejo sufocado, lendo a escrita de sua vida, de sua rua, de sua televisão e dos livros, pode-se afirmar que ele está pronto, portanto, para continuar na escola da vida, porque finalmente tornou-se um cidadão brasileiro crítico.

E é disso que o Brasil precisa.

Ivonete Frasson
Enviado por Ivonete Frasson em 05/07/2011
Reeditado em 05/07/2011
Código do texto: T3077720
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