PARA ONDE VAI O ENSINO NO BRASIL?

Ontem, o Jornal Nacional apresentou uma reportagem que deveria deixar nossas “altoridades” preocupadas, ou pelo menos vermelhas de vergonha, se é que elas tem vergonha. A reportagem falava sobre oferta de emprego. Numa determinada empresa, uma vaga estava aberta há mais de quatro meses, e não era preenchida por que os candidatos sempre eram reprovados em Português.

Entretanto, o mais preocupante foi o fato de setenta por cento dos estudantes de jornalismo serem reprovados justamente na língua pátria. E ainda para piorar as coisas, uma futura jornalista deu entrevista e afirmou que pensava que o diferencial fosse o Inglês, língua que segundo ela dominava. Diferencial foi o termo usado por ela. Outro modismo.

É cômico.

Mas, ao analisar o fato, fiquei bastante feliz pela reportagem ter sido apresentada e pela Rede Globo. Pois assim, as nossas doutas “altoridades”, que insistem em chamar a presidente Dilma de presidenta, aliás termo exigido por ela própria, que em breve passará a nos chamar de “genta”, podem ver o caminho que estão dando ao ensino no país, principalmente, depois da tal cartilha do MEC, que incentiva a não se estudar, dados os erros lá apresentados e justificados pelo ministro da pasta, que inclusive não suspendeu a impressão da tal cartilha.

Isso, porém, é fruto de se eleger um analfabeto à Presidência da República, não pelo fato de ser analfabeto, mas por ter incentivado o analfabetismo por diversas vezes.

Também chama bastante atenção o fato de futuros jornalistas não saberem escrever. Mas os atuais nos elevaram justamente a este cenário, pois o que vemos são verdadeiros analfabetos escrevendo e dando opiniões em jornais de grande repercussão nacional.

Antigamente, não havia a tal profissão de jornalista. Quem escrevia em jornais eram pessoas cultas de largo conhecimento da língua portuguesa e dos assuntos que abordavam. Hoje, limitam-se esses jornalistas, formados em qualquer espelunca país a fora, a escrever mil e uma besteiras, usando somente jargões e lugar comum, termo que não deixa de ser também um famigerado jargão. Observem, por exemplo, uma transmissão de futebol. Outrora, cada locutor, comentarista, narrador, seja lá o que fosse, tinha seu próprio estilo. Comentava, falava, tudo a seu modo. Hoje, todos falam as mesmas coisas, os mesmos bordões. Somente para se ter um exemplo, quando um time ganha um jogo de virada, todos narradores, sem qualquer exceção, dizem que time A virou para cima de time B. A bola, por exemplo, sempre é chamada de essa bola. É essa bola para cá, essa bola para lá, passando, no meu entender, o pronome demonstrativo essa a figurar agora como artigo definido feminino singular. Assim também se comporta a imprensa escrita. Quando vão falar sobre transferência de determinado jogador da Europa para o Brasil, eles, jornalista tem que escrever janela de transferência, senão o texto não fica legal, completo.E assim vai.

A entrevista da estudante merece um capítulo à parte. A pessoa ser estudante de jornalismo e não ter a menor noção de que deve ser grande conhecedora da língua pátria é de lasca. Ainda por cima, ter a coragem de dizer que não sabia que Português fizesse a diferença, fazer a diferença, é outra dessas modas brasileira, e que achava que o inglês fosse o diferencial, outro modismo, usado aqui somente para repetir o que ela falou, língua que segundo ela dominava. Acho que não. Pois se a coitada não escreve em Português vai escrever em Inglês? Por outro lado, mostra também o nível intelectual da coitada, chamo coitada por que uma pessoa que estuda para fazer da comunicação sua profissão e não saber que terá que escrever e que escreverá em sua própria língua merece pena. Embora a culpa não seja dela totalmente, mas de um ensino falido, em que um aluno nem reprovado pode ser mais.

Mas isso serve para mostrar ao povo brasileiro de um modo geral para onde caminhamos com a valorização estúpida que se dá à língua inglesa. Deixamos de lado o idioma pátrio para nos dedicarmos a outra língua.

Na reportagem também chamou a atenção o comentário feito por uma senhora, que parecia ser de uma empresa de seleção. Na reportagem ela disse não sei o que e acrescentou “... que te interessa.” Aqui merece ser lembrado o Joselino Barbacena, aquele personagem que trabalhava na Escolinha do Professor Raimundo, quando eu era criança pequena lá em Barbacena, aprendia-se a conjugar verbos, pois tínhamos que aprender todos os tempos e a finalidade de cada um e também escrever ditados.

O verbo interessar como utilizado pela senhora mencionada, expressava uma dúvida, e quando isso ocorre devemos usar o modo subjuntivo e não o indicativo, isso se aprendia de ouvido, e nossos ouvidos já ficavam treinados para a concordância verbal. E na frase, ela deveria ter dito: “...que te interesse.”

Mas é por isso e muitas outras que vamos seguindo firmes para o analfabetismo total do país, graças aos nossos doutores, mestres, analfabeto, no singular mesmo, e aos puxa-sacos de plantão.

Não é à toa que Ronaldinho Gaúcho recebe comenda da Academia Brasileira de Letras, que outrora foi a casa de Machado de Assis.

Henrique César Pinheiro

Fortaleza, 28 de junho de 2011