Co-autores do bullying

O bullying é uma realidade estando presente em todas as sociedades.

Sendo um fenômeno relacional, depende diretamente de quem pratica e de quem sofre, além das testemunhas que aplaudem ou reprovam tais ações. As implicações dos papeis podem levar aquele que pratica o bullying a ser autor em certas situações e vitima em outras, podendo ocorrer a mesma situação com as testemunhas.

Nesta relação de poder as vitimas passivas ficam intimidadas, deixando de pedir ajuda aos professores, pais e mesmo aos colegas. O medo das agressões físicas e psicológicas do bullying gera o sentimento de medo, facilita as humilhações, desenvolve o conformismo, dificultando seu relacionamento escolar e social, tornando-a tímida, prejudicando sensivelmente seu rendimento escolar. Atitudes que fortalecem o comportamento repetitivo dos agressores ao mesmo alvo. Já as vitimas provocadoras, apresentam dificuldades em controlar suas emoções e comportamentos, reagem com brigas e excesso de cólera.

Os alvos autores são aqueles que por sofrerem bullying pelos ditos agressores mais poderosos, revidam essas agressões aos ditos mais fracos que ele. Os alvos autores por se sentirem inferiorizados procuram outros alvos para hostilizar e se sentirem superiores.

Aqueles que praticam somente o bullying, são denominados de autores. Mostram-se confiante, destemidos, não aceitam ser contrariados, sua popularidade é flutuante (aceito aqui/rejeitado ali), contam sempre com aqueles que apóiam suas práticas, estando sempre em grupo.

Chegamos às testemunhas, ponto central do nosso contexto.

As testemunhas não têm envolvimento direto com as práticas do bullying, todavia desempenham um importantíssimo papel, seja como testemunha passiva ou ativa.

As testemunhas passivas se calam e se omitem por medo de se tornarem vítimas, ou simplesmente porque acham que isso é algo que não lhes diz respeito. Enquanto as testemunhas ativas, podem aplaudir e apoiar os agressores, tornando-se importante platéia no fortalecimento do bullying. Também, podem ajudar ou apoiar às vitimas.

A questão é justamente o que estamos fazendo, quanto cidadão em relação ao Bullying?

Entendermos as causas culturais, familiares e as consequências do bullying é o primeiro passo para enfrentarmos de frente este problema que vem assolando a sociedade brasileira de forma naturalizada e banalizada.

O caso do Wellington Menezes de Oliveira (Realengo – R.J. – 2010) é um exemplo, apesar de outros fatores agregados. Por sua timidez era visto como diferente, passando a ser alvo dos ditos alunos valentões.

Numa série de vídeos que Wellington gravou enquanto planejava o ataque, ele disse que ia matar para expiar as humilhações que sofrera no colégio - Tipo: colocaram-no de cabeça no vaso do banheiro e deram descarga, em outra ocasião lhe colocaram dentro do latão de lixo.

Segundo a psicóloga americana Dorothy Espelage: “Ele repete o padrão de outros que cometeram crime semelhante”. Como os casos de Edimar de Taiúva em São Paulo (2005) e do sul-coreano Cho Seung-hui, de 23 anos de idade, responsável pelo pior massacre em uma universidade americana.

Em uma das gravações, Wellington menciona novamente o bullying: “Se tivessem descruzado os braços antes e feito algo sério no combate a esse tipo de prática, provavelmente eu estaria vivo; todos os que matei estariam vivos”.

Quem apertou o gatilho?

Quem matou doze adolescentes e feriu mais doze?

Wellington?

Quantos co-autores estão inseridos neste contexto?

Os colegas que o rejeitaram, zoaram, esnobaram, ofenderam, espancaram, os que venderam as armas, a família das vitimas e dos agressores, a direção, professores e funcionários da escola por omissão, o poder público seja na proteção escolar, quanto aos investimentos na prevenção deste e dos demais tipos de violência escolar.

Somos ou não co-autores da naturalização e banalização das diversas formas de violência?

Quantos de nós temos arquivado em nosso inconsciente encarnações, zoações (hoje bullying), que afetaram nossa trajetória ou ainda afetam e mesmo assim ainda nos calamos, por responsabilizar o outro e nos ocultarmos em nossa própria sombra.

O caso reforça, porém, a idéia de que o bullying não pode continuar a ser negligenciado pelas escolas, nem pelos pais, poder publico e sociedade.

Cerca de 80% das escolas brasileiras não punem valentões agressores. “Elas ainda não entenderam sua responsabilidade na repressão ao bullying”.

Combater o bullying não é somente responsabilidade do professor! O bullying é uma realidade social e deve ser combatida pela sociedade como um todo.

Não podemos nos calar, omitir, seja onde for, devemos intervir com ações positivas, reflexivas e enérgicas.

Com certeza o Estudo da Sexualidade nas Escolas é um dos caminhos a serem usados como prevenção destes fatos, principalmente durante os estudos da temática puberdade.

“Não há nada mais solitário que o bullying”.

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Rosevel
Enviado por Rosevel em 17/06/2011
Reeditado em 16/02/2013
Código do texto: T3041533
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