Por que aluno escreve tão mal? 2


Os mitos e os ritos por trás das letras

“Por que os alunos vão tão mal na redação? Eis um belo mote para dissertação, com ingredientes de sobra para um debate acalorado. Por muito tempo, porém, em vez de procurar argumentos, defender pontos de vista e buscar soluções, muita gente preferiu fugir do tema” (Hélio Consolaro, 2007).


A pergunta de Hélio Consolaro (2007), me levou a observar o tratamento dado ao ensino da gramática e da redação. Defini esses dois fatores a partir de um comentário do consultor do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Reginaldo Pinto de Carvalho, na entrevista intitulada “Tem uma redação no meio do caminho”, publicada no portal “Por Trás das Letras”, concedida a Hélio Consolaro, da qual destaquei a citação. Atualmente, a página não está mais no ar, mas encontrei a mesma entrevista publicada no wordpress "Fala Bonito".

Sobre a questão “por que os alunos vão tão mal na redação?”, o próprio texto inicial da entrevista sugere que pelo menos algumas perguntas girariam em torno do despreparo dos alunos e da falta de interesse em se discutir esse problema. Porém, o texto publicado no portal não mostra nem afirma que a pergunta foi feita ao consultor do Enem e, portanto, não há uma resposta sobre o tema.

Entretanto, um comentário do consultor sugere suficientes desdobramentos a respeito do tema desta pesquisa. Na opinião dele, a exigência da redação nas provas do Enem e nos vestibulares, “poderá fazer com que a sociedade exerça pressão sobre a escola para que ela cumpra sua obrigação de dotar os alunos das competências para produzir um texto coerente" (4º parágrafo do texto de abertura da entrevista).

Dessa opinião pode se concluir que as dificuldades de aprendizagem da escrita não têm sido exclusivamente um problema dos alunos. Talvez o fato de a escola não estar cumprindo corretamente sua função de ensino da Língua Portuguesa esteja contribuindo com essa situação. Isso não significa absolutamente que bastaria um maior empenho por parte das instituições escolares na aplicação de exercícios de redação para resolver o problema. Existem outras questões a serem evidenciadas, como o próprio ensino e a capacitação e atualização dos professores.

Essas duas questões levam à reflexão sobre como a gramática tem sido ensinada ao longo dos anos e o que precisaria ser repensado nesse ensino. Os processos históricos de sistematização da língua falada reduziram-na aos signos da escrita, através dos vários alfabetos dos vários idiomas, visando uma construção correta e simples, de fácil compreensão do elemento escrito, que guardasse as informações com fidedignidade. Na língua portuguesa tal processo redundou, no entanto, em um sem-número de regras gramaticais. Criadas para facilitar os processos de registro da língua falada, tornaram-se complexas, dificilmente aprendidas pelo aluno e até mesmo por muitos professores.

(continua)