O Discurso da Concórdia
Uma professora, chamada Amanda Gurgel, fez sucesso na internet e no último domingo foi parar no Programa do Faustão. Lá respondeu perguntas da platéia e falou sobre a repercussão do seu vídeo no You Tube. O conteúdo do vídeo é um discurso direto que retrata as péssimas condições da Educação no Rio Grande do Norte, que não são diferentes de todos os outros estados. Todos já estão carecas de saber que as nossas escolas vão de mal a pior.
Amanda Gurgel participava de uma audiência da Assembléia Legislativa do seu estado, e lá soltou o verbo. Começou falando do seu salário, baixíssimo, e foi muito ousada em perguntar se os parlamentares manteriam seu elevado padrão de vida se ganhassem o mesmo ordenado que os de sua categoria recebem. Com um salário base de R$ 930,00, o professor potiguar precisa dobrar ou triplicar sua carga horária, ou seja, trabalhar manhã, tarde e noite, se quiser ter um padrão razoável pra sobreviver e sustentar a sua família.
Do You Tube, o vídeo foi circulando rapidamente pelas redes sociais e serviu para que a sociedade enxergasse a ótica do profissional da educação. Sempre quando fazem greve, os professores são veiculados pela imprensa como vilões. A televisão mostra a paralisação como se fosse um crime, e culpa os profissionais que estão nas salas de aula. O educador é tão vítima quanto os alunos. Como a Profª Amanda diz: Ela não pode ser a salvação do país só por ter um giz e um quadro em sua frente. Ela possui nível superior, pós-graduada, e recebe um salário infame de R$ 930,00.
A Educação nunca foi vista como prioridade, por nenhum governo. Recentemente uma propaganda mostrava vários países desenvolvidos, como França e Coréia do Sul, só pra citar exemplos, e perguntava a qual profissional o sucesso de tais nações deveria ser atribuído. Resposta: O professor. Só que o marketing governista não menciona os benefícios que estes recebem nesses países que levam a sério a Educação como um instrumento de cidadania. Esse apelo é desesperador. Faltam professores, pois ninguém quer passar quatro anos na faculdade pra ser mal remunerado e ainda por cima não ter a mínima estrutura física e pedagógica para ministrar suas aulas.
O discurso feito por Amanda Gurgel não é novo, e se repete diariamente pelas escolas do Brasil afora. Homens e mulheres que são apaixonados pelo seu trabalho, mas que acumulam frustrações devido ao cenário caótico produzido por mero descaso das autoridades públicas. Estressados, depressivos, com problemas cardíacos ou vocais, os professores estão definhando e suas forças se esgotam. Lutar parece não levar a nada. Entregar-se aos ratos e as baratas parece ser a única alternativa. Existe um ditado que diz: Se não pode vencê-los, junte-se a eles. É exatamente isso que acontece, o descaso do poder público gera a apatia de quem está nas salas de aula das escolas municipais e estaduais.
Mas é possível reverter tal quadro? Sim. Para isso a sociedade deve se aliar e não se opor aos educadores. As reivindicações deles são para o bem da população e não apenas para satisfazer suas particularidades. Educação é um direito de todos. É um bem do qual ninguém deve ser privado. Vamos continuar divulgando esse vídeo. Vamos debater nas redes sociais, nas escolas, nos sindicatos, na imprensa, nas praças e dentro de nossas casas. Amanda Gurgel não queria ter 15 minutos de fama. Sua causa é mais nobre. É a nossa causa. Não havendo essa unidade, tudo se torna vão, e continuaremos na mesma, ou melhor, continuamos piorando.Bem mais do que apenas concordar com ela, devemos agir, e esse caso requer certa urgência.