“PORTUGUÊS NÓS JÁ SABE”.

Eu sei que a educação deste país é ruim. Como sei que um dia foi péssima e que, certamente será boa, mesmo que demore um pouco. Eu sei que os governos não têm interesse numa escola digna, porque o povo estudado aprende a votar e não votará mais neles. Eu sei que além disto, educação não dá voto porque não é feita de cal e cimento – as escolas, enquanto unidades físicas, sim. Estas igualmente, nós sabemos que são péssimas, como que combinando com a qualidade do estudo e do ensino. “Talvez no raciocínio lógico de que um produto ruim não precise de boa embalagem”...

Eu sei que o dinheiro da educação quando sai de Brasília, chega minguado aos Estados e quando sai dos Estados chega minguado aos Municípios e que, quando chega às escolas há peneiras pouco confiáveis que ainda mínguam o dinheiro do investimento. É como se fosse um encontro minguado de muitos fatores que alteram a soma: pouco dinheiro, prédios precários, professores mal pagos, alunos mal orientados, sociedade carente de cidadãos capacitados! E tudo míngua alhures, como sabemos: míngua o estudo e com ele fica minguada a esperança de vermos os mais simples libertos pelo conhecimento; míngua a ação do bom professor que termina se “vencendo” pela pouca capacidade que dispõe de ter uma vida financeira digna para o sustento de sua família e que, certamente, se entrega ao casuísmo do processo educacional virando mais um. Na verdade a nossa escola está cheia de gente boa, de professores bons que não suportando mais viram “MAIS UM” – eles cansam do descaso que vêm no dia a dia de sala de aula; cansam de ensinar cidadania sem que o Estado lhes garanta a deles; cansam de ver as manobras politiqueiras se utilizar da educação em proveito próprio.

Eu sei que há alguma luz no final do túnel. Mas há mais túneis do que luz em nossa conturbada educação, especialmente no ensino fundamental e médio. No bojo dos túneis  o mal professor é o que mais me assusta. Neste sentido nos referimos ao professor que mesmo ganhando mal como todos ganham, nem esse salário merece. Há professores que teriam que está em outro local fazendo outra coisa, posto que atrapalham a formação das crianças transmitindo uma pedagogia opressora, discriminatória e preconceituosa. Esses, invariavelmente, não estão “nem aí” para a situação da educação e dos educandos. Nunca viraram “MAIS UM” porque já entraram sendo isto e o que é pior: somam ao estado deletério em que se encontra a educação a errônea concepção de servidor público no pior sentido da palavra.

Parece mesmo que tudo colabora no direcionamento do caos. Como que achando pouco, alguns ufanistas da linguagem querem bagunçar a nossa língua padrão fundamentados na suposta certeza de que há um patrulhamento elitista nos fundamentos teórico conceituais do nosso idioma pátrio. O MEC, segundo sabemos e a imprensa alardeiam, financiou um livro para a rede pública de ensino que estimula os alunos a não concordarem verbal e nominalmente os verbos, dentre outros. Talvez esses intelectuais de “meia tigela” estejam discriminando ainda mais aqueles alunos das escolas públicas para quem já se rotula de escola de segunda categoria. Talvez estejam querendo reinventar Paulo Freire numa versão que certamente ele não aprovaria. A pedagogia do oprimido não vaticina isto. Ela valoriza o conhecimento de cada um, recupera suas significações e permite ao aluno a liberdade do saber e nisto, entra o conhecimento padrão da língua.

Eu sei e muita gente sabe das mazelas da nossa claudicante educação. Tenho a impressão que esses lingüísticos que estão de plantão querendo inovar por inovar seriam mais levados a sério defendendo uma reforma estrutural em nossa educação; que contivesse no seu bojo investimentos mais significativos; que conduzissem a educação como questão de governo, até mesmo de “segurança nacional”. Talvez esses defensores do “Nós pesca o peixe” careçam mais de conhecimento do dia a dia dos alunos. Talvez sejam burocratas de plantão que nem saibam mais sequer como preencher uma caderneta escolar. Filosofar sobre educação nem sabem, mas posam disto e além: discriminam as crianças mais carentes evitando com que elas não tenham acesso às informações que a vida irá lhes cobrar nos concursos público e processos seletivos de emprego. Esquecem outros fundamentos básicos como o raciocínio que se exercita ao se estudar a lógica imanente da nossa língua. Como perguntar continua não ofendendo, indago:

a)      Os estudantes teriam condições de ler um livro que prima pela língua correta?

b)      Não se estaria passando, via escola, a idéia (equivocada) de que certo e errado é apenas uma questão de gosto?

c)       Ao se estabelecer o verbalmente falado como certo, qual o referencial que serviria ao educando como fonte de saber?

d)      Em se firmando essa equivocada forma de ler e escrever, onde ficariam os limites entre os que passaram a vida escrevendo certo e editando livros e os partidários do “falar conforme a ocasião”?

É. Diria Millor Fernandes. Digo apenas que tenho pena deste país com essas idiossincrasias idiotas. Espero que um dia não me obriguem a dizer que “PORTUGUÊS NÓS JÁ SABE”...