NACIONALIZANDO O VERNÁCULO

NACIONALIZANDO O VERNÁCULO

Depois que os americanos introduziram a Coca-Cola no pós-guerra, as línguas do mundo – e não só do Brasil – sofreram uma invasão de palavras em inglês, que a cada dia se avolumam mais, chegando a confundir a cabeça das pessoas, especialmente das crianças em idade escolar. Na França, há muito tempo, são proibidas as palavras em inglês. Mesmo na informática, onde proliferam aquelas expressões, eles usam l’ordinateur (o computador), la sourire (a rata, o mouse) e o logiciel (DOS, sistema operacional) e vai por aí. Mesmo assim, se você falar em inglês no restaurante, no aeroporto ou na recepção do hotel todos vai entendê-lo.

No Brasil a gente aportuguesa as palavras estrangeiras, como computador que é o sucessor de computer. Ao invés de iniciar, usamos inicializar (deriva de to initialize). Hoje não se fala em “pagamento em dinheiro”, mas em cash. Nem em moda, mas em fashion. E por aí vai.

Por aqui, no Rio Grande do Sul surgiu uma lei, condenada, por causa do regionalismo, a ser letra-morta, mas que dá mote para algum tipo de debate. O projeto tem origem em um deputado comunista, nitidamente anti-americanista que, antes de querer purificar a língua-mãe, pretende – penso eu – erradicar o inglês da mesa das conversas nacionais. Não vai conseguir, pois, por sua universalidade, a língua de Shakespeare é falada e compreendida no mundo todo. Entendo que se deva preservar o português sem cair em xenofobia.

Eu, embora tenha lecionado inglês, não sou a favor do uso de anglicismos, mas não posso negar a realidade do seu uso em muitas circunstâncias da comunicação verbal. Mesmo nos países de alfabetos diferentes, como na Grécia e no Japão, todas as indicações vêm na língua original e, logo abaixo, em inglês. Trata-se de um uso internacional irreversível.

Assim mesmo tem exageros que podem e devem ser coibidos. Há tempos fui a um seminário onde convidaram para um coffee-break. Ora, por que não dizer pausa para o café? Outra pessoa avisou que mandaria um paper. Não ficaria melhor dizer “bilhete”? Há os que usam print no lugar de “imprimir”. Falam muito, também em “hora do rush”, check-list, workshop, shopping, e-mail, game, homepage e facebook. Outro dia escutei uma moça citando um fast-food e um pedante falando em cocktop referindo-se a esses fogões de mesa. Tem gente que usa tais expressões mesmo sem saber o que está dizendo. Apenas porque acham bonito falar inglês.

Como a língua inglesa é mais prática, existem verbetes que, se você quiser traduzi-los para o português vai ter que usar uma meia dúzia de palavras, revelando ser conveniente manter a expressão estrangeira. É o caso de marketing, franchising, banking, drive-in, overbooking, delivery, release, feedback... etc.

Professor e escritor