Manifesto: Um olhar sobre a Educação.
Este documento nasce com a pretensão de lançar um olhar, mais um olhar diante de tantos outros olhares, fixados que estão na história da educação de nosso país. Olhares que brilham por vezes, que muitas vezes são opacos, que inúmeras vezes exprimem perplexidade e interrogação.
Afinal, os nossos olhos estão lançados para algum ponto, seja para o passado, para o presente ou para o futuro, mas o que vêem? Acreditamos que hoje, mais do que nunca, estes olhos não vêem mais do que reflexos daquilo que já vimos antes: A construção, manutenção e tentativa de perpetuação de uma educação fracassada!
Manifestar um ponto de vista requer a humildade de se perceber por vezes inseridos no erro, no engano, na inação. Porque, afinal, não somos juízes das causas humanas alheias, mas devemos ser juízes, antes de tudo, de nossas próprias causas.
Quando lançamos um olhar para os pais, o estamos lançando para a família, aquela mesma que comemora bodas de papel ou bodas de Nogueira ou Carvalho e, independente do tempo de constituição familiar, suas marcas, seus valores e sonhos serão disseminados nas raízes de sua prole.
Quando lançamos um olhar para os mestres, o estamos lançando a todas as pessoas, inclusive nós mesmos, que nascemos com o desejo da descoberta em nossas entranhas: Quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos? São as perguntas fecundas nos corações humanos desde o começo dos tempos. Então, ignorar que a família seja uma das grandes precursoras da liberação do desejo do aprendizado humano seria tolice.
Quando lançamos um olhar para o Estado ou a conjunção de leis, que de algum modo ajudamos a construir ou por vezes fazemos questão de não questionar, estamos lançando a todas as pessoas que também são uma família com os seus, que são mestres em seu lar e que, por decisão daqueles que lhe são caros ou parecidos, ou que pelos menos deveriam ser, foram lhes confiados o seu futuro, e muito mais, o futuro dos seus filhos.
Repreendemos os pais:
Que de olhos opacos, inertes, sugerem ignorar o problema por conta de uma falsa miopia...
Que se acomodam no egoísmo da descoberta solitária das respostas sobre a vida, esquecendo-se que geraram filhos tão ávidos por respostas como eles o são...
Que transferem a culpa pela falta de entusiasmo dos filhos à pessoa do professor que não detém o conhecimento das marcas deles, de seus valores e de seus sonhos...
Que preferem dizer que não compreendem o diagnóstico social da educação, para que este novo tratamento da doença não altere a produtividade imediata no seu trabalho, na sua vida e no seu lazer...
Que transferem cegamente a responsabilidade pela educação dos seus filhos, à pessoa do outro, como que a negar que uma possível derrota que tenha seus filhos, não tenha sido também por sua culpa...
Repreendemos os mestres:
Que munidos da pretensa superioridade, acham que não são mais aprendizes da vida;
Que aprendem rápido a julgar as causas alheias, mas não conseguem julgar a si próprios como uma família que enfrenta os mesmos problemas dentro de casa...
Que fizeram um juramento sagrado de desvendar o mundo para os semelhantes, mas se permitem ficar, como muitos pais, nas mesmas condições de olhos opacos e inertes...
Que sucumbem às forças opressoras do sistema e não empunham espadas contra aqueles que querem deixar seus olhares perplexos e indignados...
Repreendemos as diretrizes de ensino:
Que ajudam na construção de uma educação fracassada, quando não usam o seu poder de decisão em prol da construção de uma escola aliada à comunidade...
Que sucumbem à falsa ideia do progresso educacional pregado pelas hierarquias do Ensino...
Que se afastam da condição de mestres para incorporar uma nova ideologia elitista imposta pelos poderosos...
Que não fazem das escolas frias, sem vida, uma extensão da sua própria casa, da sua própria família, com seus próprios filhos dentro delas...
Que esquecem que a construção do saber requer caminhar com o mundo, aliado às novas descobertas, comportamentos, e mudanças de atitudes...
Que não investem e nem criam condições aos alunos, seja na escola pública ou privada, para que sejam inseridos no complexo processo de interação que o mundo precisa, com a criação de áreas de cultura, revisão de conteúdos, incentivo às palestras e o aguçamento do desejo da prática da pesquisa...
Repreendemos o Estado:
Que, na figura de alguns leigos do processo ensino-aprendizagem, acham-se no direito de decidir sobre aquilo que não conhecem...
Que não investem na especialização dos funcionários da educação, por considerarem se tratar de gastos desnecessários e não condizentes com sua publicidade política...
Que veicula propagandas demagogas de enaltecimento aos professores, mas reclama que o País não consegue formar pessoas capacitadas para as áreas técnicas...
Que, preocupado com as áreas técnicas que darão sustentação à mão de obra barata das oligarquias empresariais, fecha seus olhos opacos e inertes à necessidade do pensar humano, do questionamento filosófico, do resgate dos valores e da história...
Que permite que a violência chegue cada vez mais próxima das escolas, ou dentro delas, para dizer que se trata de um problema social...
Que cria políticas educacionais distantes da realidade educativa, para encobrir um problema histórico, que cabe ao Estado resolver, mas não resolve porque não quer e porque não é capaz...
Que fecha seus sistemas para o próprio servidor, deixando-o à mercê de trabalhos burocráticos e lentos, para depois atestar-lhe incapacidade...
E que, finalmente, parece pregar a ideia da continuidade do fracasso dos outros, claro, desde que os interesses de alguns durem até que a morte os separe!
Concluímos, então, que todos devem lançar um novo olhar para a educação, com a certeza de que não vejamos os fracassos sendo refletidos, mas sim, uma luz de esperança na família, nos professores, e principalmente nos alunos, que sempre foram e sempre serão nossa maior riqueza.
Alunos do Curso de Letras- Fig-Unimesp (3º sem, 2011)