ANÁLISE DO FILME: “O NOME DA ROSA”
O enredo do filme nos leva ao ano de 1327 da Europa medieval ( período histórico dominado pelo pensamento teológico, onde a igreja católica exercia um poder quase que absoluto nos campos econômicos, político e religioso). A área de abrangência geográfica é o norte da Itália, espaço marcado por grande desenvolvimento intelectual, tendo como referência um mosteiro de monges Beneditinos, famoso por ser considerado um dos mais respeitados centros do saber, equiparado a outras instituições da época, por possuir estudiosos de renome no cenário europeu que atuavam em vários campos do saber ( pensadores, filósofos, teólogos, tradutores etc...). O momento econômico é caracterizado pelo feudalismo, onde a desigualdade em classes distintas se dava pela exploração agrária do trabalho humano; de um lado os senhores feudais ( duques, arquiduques , barões, reis, rainhas ) detentores da posse das grandes propriedades de terra; de outro lado camponeses que produziam as riquezas da elite feudal que por sua vez recebia enorme influência da igreja católica que também enriquecia as custas da exploração do povo.
No filme observamos a existência de várias correntes de pensamento. Mesmo sendo o momento histórico dominado pelo teologismo cristão, essas outras formas do pensar humano se expressam ( empirismo, filosofia grega ), pois estes conhecimentos já tem existência histórica anteriores.
O empirismo é bem caracterizado na cena em que o personagem Willian de Baskerville, juntamente com outro monge, efetuam a necropsia de um cadáver e no diálogo entre ambos, ocorrem várias citações de caráter empírico:
“Um talo de bistorta para tratar diarréia”•
“Quando uma cebola é administrada em pequenas quantidades quente e úmida ajudam a prolongar a ereção”.•
“O arsênico é um remédio eficaz para distúrbios nervosos se tomado em pequenas doses. Em grandes quantidades ocasiona a morte.•
Este último trecho tem importante relação com o desenrolar da trama, pois o arsênico é utilizado para envenenar alguns personagens que se atrevem a ler a obra proibida de filosofia grega.
O pensamento filosófico grego é direcionado a figura de Willian de Baskerville que se apropria de conhecimento aplicando a lógica para efetuar as sua deduções racionais necessárias para a conclusão de sua investigação no mosteiro, como hoje os fazem os cientistas modernos. Uma expressão que ressalta bem isso e a expressão pronunciada por Willian de Baskerville para Adso, seu discípulo – Os sentimentos não possuem valor relevante ao seu objetivo primeiro, que é a investigação”.
Além do teologismo, do empirismo e do pensamento filosófico grego, observamos também a existência do “conhecimento ”baseado na mentalidade mágica, que se argüía de explicações fabulosas, sem nenhuma fundamentação lógica. O personagem do filme que simboliza esta forma de pensar é a figura do monge Franciscano Ubertino . A analogia é bem caracterizada quando o monge Ubertino ao se defrontar com o cadáver do tradutor grego Venâncio, anuncia o fim do mundo amparado pelo livro do “Apocalipse” da bíblia cristã.
Nesse contexto a Teologia cristã atua de forma bem clara e evidente na sociedade medieval para efetuar a dominação, fundamentada na ideologia do respeito ao sagrado, na adoração de um ser supremo e perfeito; Deus. Agindo assim, a igreja católica procura arrebatar todas “as ovelhas possíveis “e as que por ventura se desviarem, serão purificadas pelo fogo ( Inquisição ). Essa ideologia é levada aos extremos. O personagem que se encaixa nessa análise seria a figura de Bernado Gui, que age cegamente para defender a unidade da igreja e a manutenção da ordem da verdade absoluta.
Outro fato que nos chama atenção, são os métodos que o personagem Willian utiliza para a solução dos enigmas do mosteiro. Ele elege para si o racionalismo e a lógica da filosofia grega, que são os parâmetros para que a sua investigação minuciosa, aliada a observação da natureza pudesse proporcionar o surgimento de hipóteses conclusivas.
Cabe-nos uma indagação – Willian aplicou realmente o racionalismo ou na verdade o seu racionalismo não poderia ser classificado como tal?
Cremos que não poderíamos qualificar o racionalismo do período medieval, como um racionalismo verdadeiramente científico, pois, as ciências naquela época estavam em fase de gestação e maturação. A lógica de Willian não era a lógica científica, mas a lógica empírica amparada nos estudos dos filósofos gregos, que embora fossem conhecimentos sensatos e aceitáveis, não contavam com o apoio da tecnologia que hoje se observa na ciência atuais.
Todo esse jogo entre correntes distintas de pensamento, nos leva a perceber como saber, pode ser apropriado e utilizado como forma de alienação, requisitos básicos para a instauração da ditadura do saber. Na Idade Média não poderia ser diferente. O saber se restringia a uma minoria que detinha a posse do conhecimento, constituindo assim, a elite intelectual ; principalmente os “sábios” da teologia cristã, onde a igreja católica influenciava muitas nações do mundo medieval.
Após efetuarmos a analogia do filme “O Nome da Rosa”, concluímos que o período medieval é caracterizado pela supremacia de uma linha de pensamento sobre as demais; supremacia esta, mantida pela doutrinação do saber e pelo totalitarismo intelectual, na qual a igreja católica usava de instrumentos coercitivos , quer sejam ideológicos ou materiais, para instaurar a dominação política, econômica e religiosa, a fim de salvaguardar a inquestionabilidade, a inviolabilidade e a infalibilidade do