“EU ODEIO MATEMÁTICA” – AS TECNOLOGIAS PODEM MUDAR ESSA REALIDADE?
               “I hate math” – technologies that can change reality?
 
Autores: Luing Argôlo Santos
                Nasser Ourives Filho
                Wasley de Jesus Santos
                
Givaldo Rocha Niella
 
RESUMO
É comum na maioria das profissões se introduzir novas ferramentas que as auxiliem e as inovem em seu desenvolvimento. Não há motivos para a profissão de educador ser diferente das demais. A tecnologia e, em especial, as calculadoras e computadores são recursos que se têm disseminado pelos diversos setores do sistema atual. O professor de matemática deve apropriar-se desses recursos, fazendo com que a prática educacional caminhe lado a lado com o progresso da sociedade. Diante disso, o presente artigo tem por objetivo principal sensibilizar os docentes da educação básica e os cursos de licenciatura em matemática à incorporação de práticas inovadoras em sala de aula utilizando tecnologia. Para tanto, apresenta-se aqui uma seqüência didática utilizando o software GeoGebra, como sugestão de aperfeiçoamento do processo experimental e investigativo do aluno, no que tange aos conhecimentos geométricos do Ensino Fundamental II. O embasamento teórico deste trabalho centra-se nas pesquisas de importantes autores, como Nérici (1973), Papert (1994), Henriques (2001), Guimarães (2005) e Bortoni-Ricardo (2008). Este estudo justifica-se pela necessidade de os cursos de licenciatura em matemática serem repensados para que a universidade não continue formando profissionais despreparados para utilizar novas tecnologias. A educação do presente século exige a formação de professores-pesquisadores. Necessita-se de sujeitos que tenham disposição de absorver os novos avanços que permeiam a contemporaneidade, e aplicá-los como fonte de conhecimento nas aulas para melhoria da compreensão matemática dos alunos. A falta desses elementos talvez seja uma explicação razoável para a tão famosa frase: “eu odeio matemática”.
 
Palavras-chave: Tecnologias. Educação matemática. Seqüência didática. Computador.
 
ABSTRACT
It is common in most professions to introduce new tools that help and innovate in their development. There is no reason for the profession of educator be different from the others. The technology and, in particular, calculators and computers are resources that have disseminated by the various sectors the current system. The mathematics teacher must avail-these resources, making the practice educational walk hand in hand with the progress of society. Moreover, this article has the main objective sensitize the teachers of basic education and the licentiateship in mathematics the incorporation of innovative practices in the classroom using technology. Therefore, it presents a sequence didactics using the software GeoGebra, as a suggestion for improving the experimental procedure and examining the pupil, regarding the knowledge of the Fundamental School geometrical II. The theoretical basis of this work-based research of Nérici (1973), Papert (1994), Henriques (2001), Guimarães (2005)andBortoni-Ricardo (2008). This study justifies the need for courses licentiateship in mathematics are analyzed for the university professionals not continue forming unprepared to use new technologies. The education of this century requires the training of teachers researchers. Needs-is subject have provision to absorb new advances that permeate the contemporaneity, and apply-them as a source of knowledge In classes for improving the understanding mathematics of students. The absence of such elements might be a reasonable explanation for the very famous sentence: “I hate mathematics”.
 
Keywords: Technologies. Mathematics Education. Sequence didactics. Computer.
 
 
INTRODUÇÃO
 
     A educação do século XXI necessita de profissionais que tenham interesse em lançar mão dos novos avanços tecnológicos e aplicá-los como fonte de conhecimento nas aulas, para uma maior participação dos alunos em seu processo de aprendizagem.
     Uma vez que, na atualidade, há preocupação por parte das escolas em se equipar tecnologicamente, de forma a atender as exigências da sociedade atual, o presente estudo objetiva mostrar a importância que o uso dessas tecnologias, e, principalmente o computador, têm para o estudo da matemática.
     A esse respeito, muitos autores da área da educação matemática têm enfatizado a utilidade do computador como um poderoso instrumento de auxílio à aprendizagem. Sendo assim, a fundamentação teórica deste estudo vem de, principalmente, autores como Nérici (1973), Papert (1994), Henriques (2001), Guimarães (2005) e Bortoni-Ricardo (2008), os quais, com exceção desta última, afirmam que o computador é bastante significativo como fonte de aprendizado.
     Esse instrumento é muito eficaz no processo investigativo do aluno, além disso, pode ser um auxiliador/facilitador da prática docente.Então, os cursos de licenciatura em matemática devem se preocupar mais com a formação de profissionais que estejam capacitados a utilizar o computador e conscientes de que essa ferramenta tem muito potencial para promover aprendizado mais significativo de matemática para os alunos.
 
SITUANDO O USO DA TECNOLOGIA
 
     Segundo Nérici (1973), “Tecnologia vem do grego (techne = arte, ofício + logos = estudo de) e quer dizer ‘aplicação de conhecimentos científicos na solução de problemas práticos’, ou ‘ciência aplicada’”. As tecnologias vêm sendo aprimoradas ao longo do tempo e a própria definição da palavra induz a pensar que ela possa auxiliar na resolução de alguns problemas relativos ao ensino/aprendizagem de matemática.
     Ao estudar a maneira como que a matemática evoluiu historicamente, sempre é possível encontrar homens se utilizando de tecnologias para medir, contar ou fazer relações. Às vezes utilizavam partes do corpo, como dedos das mãos e dos pés, palmos etc., ou instrumentos, como cordas (estiradores de cordas no Egito), ábaco (China), tábua de contar (Europa e China), entre outros (BOYER, 1974). Com a evolução dessas tecnologias, surge a calculadora eletrônica, que sem dúvida é um instrumento muito eficaz para cálculos aritméticos e que, segundo os PCNs (1998), deve ser incorporada à prática docente.
     Nérici (1973) classifica a calculadora como um aparelho de resposta, ou seja, um aparelho mais restrito à transmissão de resposta. Já os PCNs (1998, p. 115) afirmam que “a calculadora pode ser um eficiente recurso por possibilitar a construção e análise de estratégias que auxiliam na consolidação dos significados das operações e no reconhecimento e aplicação de suas propriedades.” Concordando com os PCNs,Medeiros (2003) apud Ferreira (2006) afirma que o uso da calculadora, de modo criterioso, pode contribuir para uma aprendizagem da matemática de maneira mais significativa.
     De fato, as calculadoras podem contribuir na compreensão do sistema de numeração decimal por parte dos alunos, principalmente nas séries iniciais. Além disso, ela pode ser muito eficaz para familiarizar os alunos com o cálculo de estimativas, operações inversas etc. Portanto, é importante e fundamental nos dias de hoje que o professor utilize recursos tecnológicos para que a educação não fique aquém do desenvolvimento da sociedade. Atualmente, o maior desses recursos, se tratando de potencialidade para a docência, é o computador, que é uma evolução da calculadora, e os softwares educacionais.
 
POR QUE ENSINAR UTILIZANDO COMPUTADORES?
 
     Nos dias atuais, os computadores se fazem presentes nas escolas, mas ainda têm sido muito pouco utilizados para fins educacionais. Com isso, a escola pode deparar-se com os seguintes questionamentos: É importante utilizar ambientes computacionais na educação matemática? Os professores estão capacitados para lidar com o computador na prática docente? Os alunos aproveitam melhor os conteúdos utilizando esse recurso em sala de aula? Esse recurso é mais estimulante para o aluno do que os recursos papel/lápis?
     Papert (1994) se refere ao computador diversas vezes como a “Máquina do Conhecimento”. Ou seja, este artefato, pode e deve ser utilizado para produzir conhecimento nos alunos. O computador pode ser um grande instrumento para promover mudanças significativas no ato de ensinar. O autor afirma também, que o ato de ensinar, ao contrário da maioria das profissões, quase não se modificou ao longo dos tempos. Como tentativa de romper com esse entrave educacional, vários autores como Nérici (1973), Henriques (2001), Baldin (2002) et. al. enfatizam a importância dos recursos tecnológicos e, em particular, o uso do computador, para a prática docente.
     Os computadores têm gerado grande impacto em todos os setores da sociedade atual, e a educação não deve se privar da incorporação desse recurso, ficando à margem do desenvolvimento. São inúmeros os programas educacionais (especificamente em matemática, que há muita variedade) encontrados hoje que podem auxiliar no processo de ensino/aprendizagem. Contudo, para promover esse avanço, necessita-se de profissionais aptos para fazer o bom uso desses materiais.
 
Os computadores podem ser usados para ensinar. [...] para a implantação do computador na educação, são necessários quatro ingredientes: o computador, o software educativo, o professor capacitado para usar o computador como meio educacional e o aluno. Isso prova que no momento atual deve-se haver uma preparação nos cursos de licenciatura nesse sentido. (VALENTE, 1993 apud HENRIQUES, 2001, p. 39)
 
     No parecer de Guimarães (2005), o uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) deve ser planejado por pessoas capacitadas, da mesma maneira que se planejam atividades com quadro negro e giz. Para ele, a utilização desses recursos implica em algumas dificuldades que só podem ser superadas se instituições de ensino, capazes de mudar, auxiliarem nesse processo.
     Segundo Papert (1994), pesquisas têm demonstrado que a maioria dos professores passa a utilizar o computador apenas como um novo instrumento, o que não é significativo para a educação. A mera utilização do computador e o software em sala de aula pode não oferecer o ínfimo auxílio para os problemas do ensino atual. É importante estar atento tanto para a escolha dos softwares, como para a maneira de implantá-los como ferramenta de obtenção do conhecimento. O ideal é que se utilize desses recursos para auxiliar o processo investigativo e experimental do aluno e não somente utilizar o ambiente computacional de maneira mecanicista, tradicional e descontextualizada. Dessa maneira, retoma-se ao mesmo obstáculo educacional a que o uso do computador se propunha auxiliar. Para que isso não ocorra, o professor deve planejar suas aulas com atividades que dêem grau de liberdade investigativa para o aluno, provocando sua curiosidade matemática e fazendo com que este seja um agente construtor do seu próprio conhecimento.
 
PRÁTICAS DO PROFESSOR PESQUISADOR
 
     A forma de organização da sociedade atual, exige que haja maior preparação nos cursos de licenciatura voltada à implementação do computador e dos softwares educacionais como recursos didáticos. Essas ferramentas são indispensáveis para prática educacional. Entretanto, a escola e seu corpo docente não devem buscar apenas introduzir o uso de tecnologias nas salas de aula, mas inquirir sobre elas com estratégias e maneiras pedagogicamente significativas. Para isso, devem estar conscientes dos meios e dos fins a se atingir com a utilização desses instrumentos. É necessário que a universidade forme profissionais que pensam na formação do aluno.
     O professor deve permitir que o estudante contribua para o seu aprendizado pessoal. Isso é uma característica de um professor pesquisador, ou seja, aquele que reflete sobre sua própria prática pedagógica. Bortoni-Ricardo (2008, p. 45)comenta que “[...] há uma diferença crucial entre ajudar um aluno a dar uma resposta e ajudá-lo a atingir uma compreensão conceitual que lhe permitirá produzir respostas corretas e pertinentes em situações semelhantes.” Bortoni-Ricardo (2008) também afirma que o professor pesquisador, além de buscar sanar suas próprias deficiências, se mantém aberto a novas idéias e estratégias de ensino. É consenso de muitos pesquisadores na área de uso de tecnologias para a educação, que o professor não usa o computador em sala de aula, na maioria das vezes, por não sentir-se seguro em operacionalizar com mesmo ou por não ter salas de aula que suportem a quantidade de alunos. Entretanto, para promover mudanças significativas no ensino da matemática, é necessário que o meio acadêmico seja capaz de formar professores pesquisadores aptos a transformar esse artefato em um instrumento educacional.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
     Atualmente podem ser encontrados muitos softwares envolvendo matemática que podem contribuir para o entendimento dos conteúdos dessa disciplina. Há softwares que exploram assuntos abordados tanto das séries iniciais quanto do ensino superior. No texto das Orientações Curriculares para o Ensino Médio, o próprio MEC sugere que a matemática seja usada como ferramenta para entender a tecnologia e a tecnologia como ferramenta para entender a matemática. Ou seja, de fato o aluno pode vir a entender mais sobre matemática utilizando tecnologias.
     Logo, é de responsabilidade do professor de matemática estar sensível às mudanças educacionais. O objetivo desse profissional deve ser buscar a cada dia executar novos rumos ao ensino dessa disciplina que despertem interesse maior para os alunos e possibilitem uma aprendizagem mais ampla, prazerosa e significativa a esses sujeitos.
     Portanto, o uso das tecnologias e principalmente do computador nas aulas de matemática, pode despertar o interesse de alunos que afirmam odiar essa disciplina por não ter a noção do que ela representa para o contexto atual. Os computadores têm a potencialidade de mostrar, de maneira atrativa e agradável, um pouco da beleza que há nos conhecimentos matemáticos.
 
REFERÊNCIAS
 
BALDIN, Yuriko Yamamoto; VILLAGRA, Guilhermo Antônio Lobos. Atividades com Cabri-Géomètre II para cursos de licenciatura em matemática e professores do ensino fundamentam médio. São Carlos: EdUFSCar, 2002. 240 p.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. 135 p.

BOYER, Carl Benjamim. História da matemática. Tradução de Elza F. Gomide. São Paulo: Edgard Blücher, 1974. 488 p.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC, 1998.

FERREIRA, Lucinaldo dos Santos. Utilizando a calculadora na compreensão do sistema de numeração decimal. Campina Grande, 2006. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/6358_2006_MONOGRAFIA_LUCINALDO2.pdf>. Acesso em: 29 set. 2009.

GEOGEBRA. Disponível em <http://www.geogebra.at/>. Acesso em: 20 mar. 2009.

GUIMARÃES, Luciano Sathler Rosa. Novas tecnologias e mudanças no contexto de uma instituição educacional. In: DE OLIVEIRA, Vera Barros (org.); VIGNERON, Jacques. Sala de aula e tecnologias. São Bernardo do Campo: UMESP, 2005. p. 15-28.

HENRIQUES, Afonso. Dinâmica dos Elementos da Geometria Plana em Ambiente Computacional. Ilhéus: Editus, 2001. 200 p.

HENRIQUES, Afonso; ATTIÊ, João Paulo; FARIAS, L. M. S. Referenciais teóricos da didática francesa: uma análise didática visando o estudo de integrais múltiplas com auxílio do software Maple. Educação Matemática Pesquisa. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática, v. 9, n. 1. p. 51-81, 2007.

NÉRICI, Imídeo Giuseppe. Educação e tecnologia. Rio: Fundo de Cultura, 1973. 141p.

OLIVEIRA, Vera Barros de (org.); VIGNERON, Jacques. Sala de aula e tecnologias. São Bernardo do Campo: UMESP, 2005. 142 p.

PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
210 p.

O artigo completo, encontra-se publicado na primeira edição da revista PROPAGARE (2011) da Faculdade de Campo Real.