O Retrato do descaso na oferta dos serviços públicos em Alagoas – O caso da Educação
Certamente o que a população que paga impostos - e não é pouco - deseja é que quando precise de um serviço público seja atendida a contento, na educação, na saúde ou em qualquer outro serviço. Se alguém se der ao trabalho de verificar que serviço funciona a contento, certamente irá confirmar que a realidade é assustadora e o caos se avizinha.
Dias desses assistimos no noticiário local ao desabafo indignado do Major Carlos Burity, do corpo de Bombeiros que criticou a estrutura da corporação quanto às condições de trabalho, pois, pasmem, faltou água na viatura tanque durante o combate de um incêndio. A população indignada vaiou quem tentava a duras penas fazer seu trabalho e o major explodiu na imprensa denunciando o sucateamento da corporação. A Secretaria de Estado da Defesa Social determinou sua prisão por 72 horas, por descumprir ‘regulamento interno’ ao colocar assuntos da corporação em público, sem autorização. Mas a indignação popular e a Associação de Oficiais Militares de Alagoas foi em sua defesa e, ainda bem, ficou apenas 25 horas preso.
Falar a verdade deu cadeia e certamente que nem todos nós, os servidores públicos, têm a responsabilidade e a consciência de deixar claro para a população que paga por nossos serviços que o “mau serviço” quase sempre é por conta das condições de trabalho que são dadas para que se realize alguma tarefa.
No caso das escolas públicas de Alagoas há muito tempo que a situação é de agonia explícita a despeito de todo discurso da mídia paga (com nosso dinheiro) pelos governos, de que nunca se fez tanto e se trabalha mais para quem precisa...
O retrato das escolas públicas de Alagoas é o do descaso e se acharem que estou exagerando vão conferir, pois quem sabe verão o que quem é serio vê, pois mesmo aquela de aparência razoável ou muito boa, tem sérios problemas.
A começar pela precariedade da infra-estrutura física das escolas, considerando telhado, pintura, piso, redes hidráulica e elétrica, sanitários, bebedouros, etc. Depois de alguns dias de chuva, escolas "davam choque”, colocando em risco a vida de estudantes e servidores que ali estavam. Sem contar que lixo na porta, rachadura e cupim em parede parecem fazer parte da decoração...
Dizia Freire: “A Escola é o lugar onde se faz amigos.Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima (...)” Mas há algumas que chamamos de “escola” porque parafraseando Freire, escola não é só parede, pois parece uma prisão, sem ventilação natural, sem janelas...Quando as crianças precisam ir ao banheiro, pulam umas por cima das outras, não têm espaço adequado para servir a merenda, nem lugar para as aulas de educação física... Já presenciei inúmeras vezes crianças e professoras chorando de dor de cabeça, explosões de brotoejas em algumas delas devido ao calor insuportável. Como aprender e ensinar nessas condições?
A escola não é ilha e, quando a cidade é “terra de ninguém”, o roubo é naturalizado. A insegurança é total. Em Maceió, há uma escola que acumula o triste nº de dezoito (18) arrombamentos! O quadro é aterrorizante, com trabalhadores/as da educação apavorados/as, acuados/as, ameaçados/as nas ruas, nos pontos de ônibus, nas salas de aula.
Problemas é que não faltam e seriam assunto para vários artigos.Desde a má gestão dos recursos, problemas com merenda, com prestação de contas, com a falta de profissionais em algumas áreas, acarretando problemas para a conclusão do ano letivo de muitas escolas.
Se a rede física está em péssimas condições, os recursos humanos também inspiram cuidados. A rede estadual tem funcionado com monitores, nova modalidade de trabalho escravo, sem direito a nem reclamar, recebendo um salário-miséria, adoecendo antes mesmo de, oficialmente, serem trabalhadores/as da educação.
Na rede municipal de Maceió a opção por terceirizar serviços faz com que se precarize os serviços de apoio, pois faltam vigias, merendeiras, pessoal de serviços gerais e professores para algumas áreas.
Não bastasse tudo isso, os governos nos tratam como cidadãos e cidadãs de segunda classe. Na rede estadual, o descumprimento do Piso Nacional e de itens importantes do Plano de Cargos e Carreiras são dois dos problemas que destaco. Na rede municipal de Maceió, o desrespeito e falta de entendimento do chefe do executivo em querer tratar por igual o que em sua natureza é diferente. Educação e Saúde deve ser prioridade, não simplesmente “GASTOS”, mas “INVESTIMENTOS”.
Naturalmente que nossa cota de indignação diária ultrapassa o tolerável. Salários dignos e condições de trabalho são direitos! Estamos em greve na rede municipal de Maceió por tempo indeterminado e em paralisação por 72 horas na rede Estadual. Estamos fazendo a luta e a greve, o remédio mais amargo, a estratégia mais radical para chamar a atenção da população, da sociedade civil organizada, dos governos e da justiça, foi a nossa saída.
Estamos em greve para que se cumpra a lei. O direito à Educação está previsto na lei máxima deste país e é em atendimento a esse direito que cidadãos e cidadãs devem exigir que os governos, eleitos e regiamente pagos por todos e todas nós, cumpram seu papel.
"Estudar numa escola pública bonita, com instalações e ambientes confortáveis, limpos e seguros, contendo laboratórios, computadores, bibliotecas, quadras de esportes, profissionais qualificados e valorizados, com as condições necessárias para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano, garantida e financiada pelo Estado, é o que a sociedade brasileira exige e a população merece" * Além de ser um direito, é nosso desejo e nossa necessidade, tendo em vista o dinheiro público que se investe e que se precisa investir, para que o retrato da educação melhore pois já estamos pagando um preço alto demais pelo descaso, pelo abandono das políticas públicas para a juventude desse país.
*Carlos Abicalil - Educador e ex dirigente da CNTE.
Certamente o que a população que paga impostos - e não é pouco - deseja é que quando precise de um serviço público seja atendida a contento, na educação, na saúde ou em qualquer outro serviço. Se alguém se der ao trabalho de verificar que serviço funciona a contento, certamente irá confirmar que a realidade é assustadora e o caos se avizinha.
Dias desses assistimos no noticiário local ao desabafo indignado do Major Carlos Burity, do corpo de Bombeiros que criticou a estrutura da corporação quanto às condições de trabalho, pois, pasmem, faltou água na viatura tanque durante o combate de um incêndio. A população indignada vaiou quem tentava a duras penas fazer seu trabalho e o major explodiu na imprensa denunciando o sucateamento da corporação. A Secretaria de Estado da Defesa Social determinou sua prisão por 72 horas, por descumprir ‘regulamento interno’ ao colocar assuntos da corporação em público, sem autorização. Mas a indignação popular e a Associação de Oficiais Militares de Alagoas foi em sua defesa e, ainda bem, ficou apenas 25 horas preso.
Falar a verdade deu cadeia e certamente que nem todos nós, os servidores públicos, têm a responsabilidade e a consciência de deixar claro para a população que paga por nossos serviços que o “mau serviço” quase sempre é por conta das condições de trabalho que são dadas para que se realize alguma tarefa.
No caso das escolas públicas de Alagoas há muito tempo que a situação é de agonia explícita a despeito de todo discurso da mídia paga (com nosso dinheiro) pelos governos, de que nunca se fez tanto e se trabalha mais para quem precisa...
O retrato das escolas públicas de Alagoas é o do descaso e se acharem que estou exagerando vão conferir, pois quem sabe verão o que quem é serio vê, pois mesmo aquela de aparência razoável ou muito boa, tem sérios problemas.
A começar pela precariedade da infra-estrutura física das escolas, considerando telhado, pintura, piso, redes hidráulica e elétrica, sanitários, bebedouros, etc. Depois de alguns dias de chuva, escolas "davam choque”, colocando em risco a vida de estudantes e servidores que ali estavam. Sem contar que lixo na porta, rachadura e cupim em parede parecem fazer parte da decoração...
Dizia Freire: “A Escola é o lugar onde se faz amigos.Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima (...)” Mas há algumas que chamamos de “escola” porque parafraseando Freire, escola não é só parede, pois parece uma prisão, sem ventilação natural, sem janelas...Quando as crianças precisam ir ao banheiro, pulam umas por cima das outras, não têm espaço adequado para servir a merenda, nem lugar para as aulas de educação física... Já presenciei inúmeras vezes crianças e professoras chorando de dor de cabeça, explosões de brotoejas em algumas delas devido ao calor insuportável. Como aprender e ensinar nessas condições?
A escola não é ilha e, quando a cidade é “terra de ninguém”, o roubo é naturalizado. A insegurança é total. Em Maceió, há uma escola que acumula o triste nº de dezoito (18) arrombamentos! O quadro é aterrorizante, com trabalhadores/as da educação apavorados/as, acuados/as, ameaçados/as nas ruas, nos pontos de ônibus, nas salas de aula.
Problemas é que não faltam e seriam assunto para vários artigos.Desde a má gestão dos recursos, problemas com merenda, com prestação de contas, com a falta de profissionais em algumas áreas, acarretando problemas para a conclusão do ano letivo de muitas escolas.
Se a rede física está em péssimas condições, os recursos humanos também inspiram cuidados. A rede estadual tem funcionado com monitores, nova modalidade de trabalho escravo, sem direito a nem reclamar, recebendo um salário-miséria, adoecendo antes mesmo de, oficialmente, serem trabalhadores/as da educação.
Na rede municipal de Maceió a opção por terceirizar serviços faz com que se precarize os serviços de apoio, pois faltam vigias, merendeiras, pessoal de serviços gerais e professores para algumas áreas.
Não bastasse tudo isso, os governos nos tratam como cidadãos e cidadãs de segunda classe. Na rede estadual, o descumprimento do Piso Nacional e de itens importantes do Plano de Cargos e Carreiras são dois dos problemas que destaco. Na rede municipal de Maceió, o desrespeito e falta de entendimento do chefe do executivo em querer tratar por igual o que em sua natureza é diferente. Educação e Saúde deve ser prioridade, não simplesmente “GASTOS”, mas “INVESTIMENTOS”.
Naturalmente que nossa cota de indignação diária ultrapassa o tolerável. Salários dignos e condições de trabalho são direitos! Estamos em greve na rede municipal de Maceió por tempo indeterminado e em paralisação por 72 horas na rede Estadual. Estamos fazendo a luta e a greve, o remédio mais amargo, a estratégia mais radical para chamar a atenção da população, da sociedade civil organizada, dos governos e da justiça, foi a nossa saída.
Estamos em greve para que se cumpra a lei. O direito à Educação está previsto na lei máxima deste país e é em atendimento a esse direito que cidadãos e cidadãs devem exigir que os governos, eleitos e regiamente pagos por todos e todas nós, cumpram seu papel.
"Estudar numa escola pública bonita, com instalações e ambientes confortáveis, limpos e seguros, contendo laboratórios, computadores, bibliotecas, quadras de esportes, profissionais qualificados e valorizados, com as condições necessárias para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano, garantida e financiada pelo Estado, é o que a sociedade brasileira exige e a população merece" * Além de ser um direito, é nosso desejo e nossa necessidade, tendo em vista o dinheiro público que se investe e que se precisa investir, para que o retrato da educação melhore pois já estamos pagando um preço alto demais pelo descaso, pelo abandono das políticas públicas para a juventude desse país.
*Carlos Abicalil - Educador e ex dirigente da CNTE.