AGORA É HORA...
Vera Lúcia Ciuffo
Agora é hora da mídia parar de explorar a tragédia na escola de Realengo.Obviamente, que todos nós ficamos terrivelmente assustados e abalados com o que aconteceu ali, na quinta feira dia 7 de abril de 2011,ficamos solidários com todas as familias dos que morreram e dos que ficaram, com todos os professores e funcionários, vizinhos, enfim, o famoso bairro que recebeu "aquele abraço" do Gil, continua sendo envolvido num abraço carinhoso de todos nós.
Entretanto, estamos sendo bombardeados EXAUSTIVAMENTE, com as cenas daquelas crianças, gritando, correndo, fugindo;do desespero dos pais , do policial Alves atirando contra o Wellington e mais ainda, bombardeados por uma série de "especialistas" a analisarem o comportamento, as patologias, a vida de quem cometeu tamanha insanidade.
Acredito eu que esteja na hora de se respeitar a dor das familias e dos envolvidos.Entrevistar esses adolescentes sobreviventes, nos leitos de hospital e seus familiares ainda preocupados com as seqüelas que advirão desses fatos;atropelar familiares em cemitérios e em suas casas, caçarem professores, vizinhos e funcionários a qualquer custo, beira o mau gosto, isso se não analisarmos o DESRESPEITO FLAGRANTE de alguns repórteres e apresentadores em momentos tão delicados.
Acredito que esteja na hora de deixarmos que as famílias enterrem seus mortos, que todos que estavam ali vivam seu luto, recompor-se física e psicologicamente, tempo para estarem a procura de "juntar os cacos" como disse uma das professoras entrevistadas no domingo passado, "porque a vida continua, na luta entre a razão e a emoção."Que lhes seja dada a chance de um tratamento, de um encontro e, principalmente,a chance de reorganizarem suas vidas.
Claro que essas crianças, nesse momento, vão dizer que não querem mais estudar, nem ali , nem em nenhum lugar, não lhes dão a oportunidade de respirar outros ares, ficam martelando o tempo todo a cabecinha delas com palavras, sons e imagens que precisam e querem esquecer.Não permitem que ninguém elabore o ocorrido, não deram aos pais desses meninos e meninas tempo para acarinharem, acolherem e abraçarem suas crias.
Mas, além de tudo isso, o preconceito que instalou contra determinadas religiões e patologias, mais ainda contra as escolas públicas, já tão sofridas e depauperadas ao longo do tempo.
Gente, vamos deixar esses meninos e meninas,suas famílias, vizinhos, professores e funcionários terem tempo para respirar o oxigênio da restauração de sua psiquê.
Encerro com um trecho do poema Fronteira de Tasso da Silveira:
"...Há uma saudade da vida
porém tão perdida e vaga,
e há a espera, a infinita espera,
a espera quase presença
da mão de puro mistério
que tomará minha mão
e me levará sonhando
para além deste silêncio,
para além desta aflição."
Que todos os envolvidos nesse episódio triste e doloroso recebam um abraço respeitoso que os conduza para além dessa aflição.Com o respeito de todos, principalmente da mídia voraz por sensacionalismo barato.