Cadê os Negros nas |Universidades?
Estamos vivendo o momento natural de todos os finais de ano: 13º salário, aquecimento nas vendas de produtos que vão do champanhe ao computador, da moto usada ao tão sonhado carro zero. É também o momento das trocas de cartões natalinos desejando saúde, felicidade, prosperidade e muita paz ao próximo. Tudo isso é natural, afinal término de ano é tudo isso e muito mais. É também o momento das grandes propagandas de divulgação dos aprovados nos vestibulares, principalmente os das universidades federais e estadual. Até aí tudo bem. Nada de anormal. Mas algo me incomoda quando leio o jornal e busco em meio às propagandas, principalmente as que tratam da divulgação dos aprovados nos vestibulares, o povo negro pernambucano, principalmente os jovens.
Na leitura imagética que faço, busco, procuro em vão a visibilidade desse povo, então me pergunto: "Onde estão nossas (os) jovens negras (os) nessas propagandas?". Os anúncios que ocupam quase páginas inteiras dos jornais não me deixam ver esse povo, que é maioria, nas comemorações jubilosas permeadas de sorrisos felizes e alegres. E insisto na pergunta: "Cadê os negros aprovados nos vestibulares das federais?" continuo a interpelação, e não me venham dizer que vejo racismo em tudo. Porque vejo apenas o que está diante dos olhos, não apenas meu como de qualquer cidadão que pense sobre o assunto.
Os rostinhos brancos e cabelos lisos compõem não só o cenário dos aprovados em primeiro, segundo, terceiro e outros tantos lugares nos vestibulares das federais, como também o quadro de profissionais da educação responsáveis pela vitória do ingresso nas universidades. Isso é impossível de não se ver! Mas a pergunta que não quer calar, e por isso escrevo esse artigo. Onde estão nossos jovens pretos? Quais os espaços das notícias jornalísticas lhes são reservados? Será preciso revelar nesse polêmico texto? Ou o leitor sabe do que falo?
Bom! A visão positivista de mundo não pode justificar tal situação, também o Determinismo, que um dia pregou a incapacidade da evolução de negros, devido à raça, caiu por terra. Então só resta a reflexão da razão de tanta exclusão e a busca de soluções para que, em breve futuro, nossos negros possam também fazer parte dos rostinhos publicados nas propagandas de aprovados nos vestibulares, dando-lhes, assim, a oportunidade de ingresso em instituições de ensino superior, a fim de usufruir dos bens científicos e materiais produzidos por esse nosso imenso país, abandonando o "lugar menor", como diria o cantor Edson Gomes, e assumindo o seu devido lugar de cidadão, podendo, em fim, realizar o sonho de passar no vestibular, tomar um champanhe e comprar um carro. Nada de anormal, não acham?
Carlos Roberto Tomaz // Professor, membro do MNU e Rede Afro LGBT
Texto publicado no Diario de Pernambuco em 31 dezembro 2008