O peso de um elogio
Outro dia recebi um elogio o qual me incitou. Passei a observar então os efeitos desse acontecimento. Notei que a eloquência desse elogio não estava na palavra dita, mas no fato de eu conhecer o autor (fonte inesgotável de conhecimento) de tamanha generosidade.
A partir disso, lembrei-me que, em nossas salas de aula, Brasil a fora, possivelmente existam centenas de alunos quietos, apagados, inexpressivos, inócuos, despercebidos. Estão à espera, não de um milagre, mas de um elogio.
É notório: todo ser humano gosta e mais (em alguns casos) precisa ser elogiado. Não destaco bajulações, ou elogio vazio, carregado de intenções implícitas, mas o encômio comedido, honesto, possível sem ser emblemático. Reporto-me ao escritor e psicoterapeuta Augusto Curi quando diz que “o elogio deve ser em público e a crítica em particular”, pois assim os efeitos são surpreendentes.
Além disso, é importante evidenciar que o elogio tem peso e esse peso é oriundo, silenciosamente, do currículum do emissor de tal gabo. Se o técnico de uma equipe, que outrora fora grande cabeceador, enaltecer um feito de um jogador justamente no ato de cabecear, este receberá o peso do elogio, isto é, não é qualquer interessado que poderá emitir uma opinião positiva e isso acarretar, ao elogiado, uma sensação motivadora. É preciso ter peso.
Se um pai elogia seu filho por uma excelente conduta (mesmo em situações simples do cotidiano – lixo no lixo, agradecimentos, pedidos de desculpa), sendo esse pai adepto a posturas convergentes às evidenciadas, tal gracejo permitirá recair sobre esse filho toda a certeza de valorização de sua ação. Assim, o reconhecimento, por parte dessa figura tão representativa para o filho, trará consigo a carga de significado arraigada no papel social do pai.
Um gerente de uma empresa elogia seu subalterno e este se sente estimulado, pois o cargo da gerência é ocupado por alguém que apresenta conduta irrefutável.
Caso um professor elogie seu aluno durante as aulas, o educando pode, dependendo da biografia e postura do mestre, sentir o peso, a satisfação e motivação diante desse elogio. Palavras simples como “seu texto está um primor”, “você realizou um excelente trabalho” vindo de alguém cuja experiência denota conhecimento é maravilhoso, pois a retórica do elogio está na autoridade daquele que o profere, não no discurso propriamente dito.
A ministração de aula deve (ou pelo menos deveria) ter na figura do professor a credibilidade, não só no que tange ao conteúdo curricular a ser ministrado, mas esse profissional deveria ter, no seu discurso, o peso para o elogio, assim como lisura de caráter a fim de ter peso para ponderações.
Segundo o psiquiatra e educador, Içami Tiba, se estas pessoas (professores, parentes ou quaisquer outras pessoas) forem “saudáveis educadores”, isto é, souberem dosar bem os elogios e críticas, contribuirão para aumentar a autoestima da criança e adolescente. Mas de nada adianta o professor retumbar receitas de sucesso se ele é representação de fracasso, desânimo, descrença no seu magistério, na sua função social.
No esporte, nas famílias, nas empresas, na escola, o elogio, às vezes tão escasso, pode ser a ponte entre o ser fadado à modorra e o indivíduo potente e que logra sucesso, seja emocional ou profissional. Educar é também elogiar, basta ter peso.