SURPRESAS DO COTIDIANO
Hoje, como sempre, vivi uma experiência única na universidade. Eu estava na companhia de alguns amigos e colegas de curso conversando sobre alguns textos. Fomos surpreendidos por uma outra colega (que não citarei o nome), de minha própria turma, do curso de Licenciatura Plena em História, que ao meu ver teve uma atitude estranha: ela chegou e cumprimentou meus amigos e só após algum tempo percebeu a minha presença, me saudando com um simples “oi”. Estranhei essa atitude, pois me senti invisível diante dela. Será que a cegueira era só dela? Não sei. Talvez o tempo me dê uma resposta. Peraí! Será que sou eu que preciso de uma resposta? Ou é ela que precisa refletir mais na sua formação acadêmica. Eu reconheço que ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas quando se trata do conhecido, penso eu que não se ignora qualquer indivíduo que seja, por mais invisível que ele pareça...
Vivemos num país onde a educação é a parte da formação do indivíduo. Como aceitar que no ambiente acadêmico tais situações ainda ocorram? Penso ser inaceitável que uma pessoa disposta a se formar como educadora – seja em qual for a área de atuação – seja capaz de agir de tal forma. Como será a atuação desse profissional dentro do “campo de batalha” – e aqui me refiro à sala de aula, onde, atualmente, a inclusão de pessoas portadoras de deficiência física vem sendo cada vez mais forte –. Será que vai continuar com essa cegueira? Não se coloca venda nos olhos quando o outro existe. Segundo Paulo Freire ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, e é preciso atentar para isso: no respeitar, no observar, no ver o outro, ainda mais quando se fala em educação. Você tem que ser o exemplo a dar e a ser seguido.
Fico imaginando pessoas como essa em um “campo de batalha” onde a adversidade é visível, palpável e real. Será que desistirá de atuar em sua função? Penso que não, pois precisará. A nossa sociedade é uma sociedade anomalíaca, não no sentido mais cruel da palavra, mas quando se trata do aceitar e conviver com a diferença. É muito mais fácil ignorar do que dar ao diferente o que não se tem pra dar: o respeito e a aceitação.
Não gosto de tocar feridas parcialmente curadas, mas nesse caso as irritações me ferem e não aceito. Talvez a vivência não fosse o suficiente para mostrar que não é tempo de ignorância. Ainda assim, acredito que tudo pode se transformar. Não sei como, mas acredito. Socialmente, precisa-se levar um susto para o despertar. Assim eu convivi, e convivo, até hoje com essa dialética – dicotômico como se vivêssemos no tempo onde tudo parou, onde tudo se padronizou –. É preciso quebrar com essa ideia, desconstruir esse discurso falso e irônico de uma sociedade igualitária e aceitadora. Talvez esse sonho se realize. Para isso é preciso gritar bem alto “eu existo!” e, com isso, tocar a alma daquele que não entendeu seu propósito na inclusão.
Joabe Tavares de Souza - Joabe o Poeta.