A difícil arte de ensinar

A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.

Aristóteles

Refletindo sobre os desafios do cotidiano na sala de aula e a prática docente.

A Educação como essa raiz amarga que nos fala Aristóteles, relata os desafios epistemológicos, sociais, estruturais e até ecológicos da relação professor-aluno. O Professor não tem que pensar somente no seu sucesso, um professor bem sucedido tem que procurar novos desafios e inovação nas suas aulas. A primeira barreira que o professor tem que vencer é a disputa pelo cargo, que, conforme visto nos concursos não é fácil e deixa a muitos pelo meio do caminho. Trazendo para a nossa realidade, lutar contra as regras do diretor e as normas da instituição, nem sempre as mais pedagógicas, é outra árdua batalha que professores e professoras enfrentam no seu dia-a-dia. Depois as resistências dos próprios alunos, que, muitas vezes, não possuem noções de limites, direitos e deveres, nem de ecologia humana.

A pedagogia de Paulo Freire (1983) requer um educador ou educadora “percebedor” e “problematizador” da realidade. O professor tem que ter o mérito de escolher novas formas ou didática para ensinar qualquer turma, mesmo que a turma seja uma “turma-problema” da escola. Mas precisando rapidamente se dá conta que é preciso conhecer a realidade e respeitando a individualidade de cada aluno, de cada aluna. É necessário envolvimento, inclusive emocional, um código de convivência, ajuda e como também o respeito mútuo. O ensino não é uma via de mão única. Como diz Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes”. Todos nós temos algo a aprender e a ensinar. Cabe aos mestres mostrar isso, como muito bem fala Paulo Freire, o envolvimento com os alunos e alunas na hora do recreio, se for repreendido pelo diretor por “comportar-se como criança”. É porque o mesmo não entendeu ainda a metodologia que você estar a aplicar, E daí, com a ajuda da música, do teatro, da arte e da ação-razão o professor consegue, pouco a pouco, o envolvimento da classe e transforma-a em turma melhor. Ensinar é uma arte de difícil compreensão.

Múltiplos olhares

A disciplina Didática do Ensino que pagamos na UFRN nos leva a procurar métodos e formas de lecionar. É necessário agora olhar, com um “novo olhar” enxergar a necessidade do professor, da professora ser mais “experimentalista” e de sempre “buscar novas abordagens”. Necessário mostra que ensinar é uma busca de valores, compreensão e relações e que é preciso entender bem o nível de compreensão da linguagem de quem se está ensinando. Usar a família como referencial nem sempre é funcional porque muitos não têm essa convivência no seu dia-a-dia. A primeira lição é buscar conhecer a realidade do local, da escola de estudantes, fazendo uma parceria escola-professor-família. É preciso, sobretudo, “ser apaixonado pelo que se faz”.

Todos nós precisamos de motivação e o aprendizado deve ser o mais aproximado possível da “realidade” ou do “sonho” de cada um, de cada uma. A cada vitória um reconhecimento. Isso ajuda a elevar a auto-estima. A “vibração” é muito importante no trabalho educativo. É preciso saber respeitar a individualidade e aproveitar o potencial de cada aluno ou aluna. “A melhor avaliação é a presença do aluno na sala de aula”. É necessário também saber mesclar as doses certas de “amor, afetividade e autoridade”. Fica claro que o processo ensino-aprendizagem exige “tempo e disponibilidade”. Não é correndo de uma sala para outra ou de uma escola para outra que se consegue fazer um bom ensino. E isso requer uma mudança de paradigmas não apenas de professores, mas também das instituições e uma renovação dos currículos.

Paulo Freire mostra que ter um bom currículo profissional não é garantia de poder “solucionar os problemas de todos os cantos”. E também que para se “trabalhar com as diferenças é preciso muita atenção”. Cada problemática social exige um tipo de trabalho. Ensinar é transmitir, um “conhecimento voltado para o desenvolvimento das humanidades”. Aquilo que Kormondy e Brown (2002) chamam de ecologia humana. Há muitas “correlações” na arte de ensinar e “o professor não pode cruzar os braços”, pois os estudantes têm uma enorme capacidade de fazê-lo melhorar como pessoa. “Ser professor para o homem é uma experiência sui generis, pois, muitas vezes, ele deve enfrentar o preconceito dentro de sua própria casa”. O Professor tem que resgatar a importância de se estabelecer vínculos e dizer textualmente: “mais importante que um teste é aquilo que se constrói no dia-a-dia da sala de aula”. O “professor dedicado” opera milagres e faz com que ele consiga fazer algo positivo com os piores alunos de uma escola, tirando-os, literalmente, da lata de lixo.

“Positividade, criatividade e determinação” são fundamentais para que o educador e a educadora mantenham a sua “capacidade de não se desencantar com a realidade, mesmo quanto tudo ao redor é contraditório”, inclusive uma infra-estrutura de recursos para se dar aula. Há um limiar entre a obrigação e a devoção. Às vezes “subir na carteira, fazer caretas, jogos teatrais e olhar no olho do aluno, da aluna” são ações necessárias para se poder fazer ouvir e entender na sala de aula. O professor tem que suscitar a pergunta: “Será que eu teria essa habilidade, capacidade, desejo de fazer tudo que este ou aquele professor fez?” Porém, “se ele conseguiu, por que eu não conseguiria?” Ensinar é um desafio novo a cada dia. É preciso saber o que você realmente quer e ter muita “criatividade, inovação para levar sonhos para a sala de aula”. Tem que entrar na pele, reconhecer que é pedagogo, pedagoga. Professor, professora é aquele que “tem a educação como um convite”. É ter o “brilho nos olhos” que faz do mestre um verdadeiro educador.

Professor, professora de verdade é aquele ou aquela que bate na sua porta ou abre suas portas para os alunos e alunas. Esta é “uma experiência que jamais se pode esquecer”. A “valorização que o mestre dá a um aluno ou aluna é o que há de mais importante”. Um incentivo a fazer novamente um teste em que se falhou uma ajuda, material que seja, é sempre “uma luz para as pessoas que se encontra pelo caminho”. Ser professor, ser professora de verdade é saber desenvolver novas estratégias através de músicas, paródias e poesia. Cada caso é um caso, por isso é importante conhecer a realidade, pode-se “aprender mais sendo observador, mas ser professor, professora de verdade é difícil!”

A sala de aula “ultrapassam qualquer técnica, qualquer teoria; esta revelação, este choro” acendem em nós uma chama. “A busca do professor, da professora é um trabalho desafiante; cada nova turma é uma estréia; eles precisam ser artistas e praticar a arte de ensinar-aprender e aprender junto”. É essencial uma “superação do estigma do fracasso, sentido de pertencimento ao grupo na sala de aula, algo além das cadeiras e paredes, e valorização das inteligências múltiplas”. É um “trabalho solitário”, pois, muitas vezes, “falta solidariedade” até dos colegas de trabalho.

Espero que você goste deste artigo é um apanhado do que foi visto e escutado na sala de aula do curso de Didática. É uma homenagem aos mestres: professor, e professora, a todos e todas que fazem as ESCOLAS do Brasil, especialmente a professora Mércia por sua eficiente orientação, aos colegas e a todos e todas que se dedicam e se sacrificam no trabalho da educação na Cidade de Macau. Muito obrigado!

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

KORMONDY, Edward J. BROWN, Daniel E. Ecologia Humana. São Paulo: Atheneu Editora, 2002.

Izan Lucena Lucena
Enviado por Izan Lucena Lucena em 28/03/2011
Código do texto: T2875084
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