O Real e o Imaginário
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar... (Chico Buarque)
As crianças vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde a realidade e o faz de conta se confundem. Com o faz de conta o indivíduo cria o seu próprio mundo, da asas a sua imaginação, pode ser o que desejar ser rei, ser bedel, ser juiz, ser feliz.
O imaginário é uma reconstrução ou transformação do real, ao libertar-se do real o imaginário pode inventar, fingir, improvisar, estabelecer relações entre os objetos e incorporar novas imagens fantasiosas. Para Gilbert Durand o imaginário é uma resposta a angústia existencial frente à experiência negativa da passagem do tempo. É a capacidade de fundar o real e percebê-lo. A distinção usual entre a fantasia e a realidade é a de que o mundo da fantasia contém muitas incertezas, enquanto o mundo da realidade contém as certezas que precisamos para continuar vivendo.
A criança passa a descobrir que papai Noel não existe ao mesmo tempo em que descobre que seu pai não é um super herói e que sua mãe não sabe tudo. O que torna essa experiência saudável é a boa relação de interação e confiança com os adultos. A fantasia é uma construção do imaginário que se da nas experiências vividas pelo indivíduo. O imaginário tem a função transcendental de permitir ir além do mundo objetivo.
A criança não difere o real do imaginário, mas desde bebê é estimulada a criar e imaginar, seja através de histórias, contos ou brincadeiras e une tudo isso que aprende com sensações e sentimentos, este fato reflete a importância de um diálogo com carinho de forma clara e participativa , inserindo dados da realidade nas histórias vivenciadas pela criança. No decorrer do seu desenvolvimento a criança aprende que desejar implica em solucionar os desejos, esses desejos nem sempre são satisfeitos pelo mundo real, a criança mergulha então no seu mundo imaginário, onde todos os seus desejos e sonhos serão satisfeitos.
O trabalho mental vincula-se a uma impressão atual, a alguma ocasião motivadora no presente que foi capaz de despertar um dos desejos principais do sujeito. Dali retrocede a lembrança de uma experiência anterior, na qual esse desejo foi realizado, criando uma situação referente ao futuro que representa a realização do desejo. (FREUD, 1907)
A fantasia pode ser considerada como algo que perpassa o passado, presente e futuro do indivíduo, sendo entrelaçados pelo desejo uma vez que permite a liberação ilusória da realidade não satisfeita. A fantasia desrealiza o real tornado-se, às vezes, mais real do que a própria realidade.