Criatividade e Persistência

A criatividade está para o trabalho como a habilidade e o entusiasmo estão para uma atividade esportiva. A energia do corpo e da mente não está dissociada do resultado vitorioso, mesmo que imbuída em uma competição. O verdadeiro competidor, aquele que valoriza o seu desempenho acima de sua colocação, reconhece que obteve o máximo do seu esforço na prova; a sua posição não está relacionada com sua falta de preparo ou de vontade. Simplesmente, aquele que o superou soube aproveitar melhor as condições do momento e colheu o fruto; não tem nada a ver com superioridade. Seria este o verdadeiro espírito do esporte: reconhecer que há diferenças de desempenho em diferentes provas; o que ficou atrás hoje poderá, tranquilamente, estar na dianteira amanhã. Isto posto, tentemos encaixar a criatividade em um contexto amplo, visando à globalidade do desempenho.

O que leva uma pessoa a diferenciar o seu trabalho de outra? O que a faz sobressair-se em uma atividade? Está provado que ferramentas iguais não estão, necessariamente ligadas a resultados semelhantes. A ferramenta não passa de um instrumento de facilidade no desempenho de uma tarefa. Um simples lápis pode traçar, sobre uma superfície, rabiscos incompreensíveis, uma caligrafia comum, mas pode também embevecer o olhar do apreciador ao depositar ali formas geométricas fascinantes, uma fantástica obra de arte em forma de desenho artístico ou outras imagens que elevam a alma e encantam o espirito. A criatividade parte de um desejo interno, de uma percepção profunda despertada pela análise do alvo em todos os seus contornos. Quem já aplicou a criatividade em uma tarefa, transformando-a, de comum e trivial, em uma fonte de apreciação e elogios, conseguiu sentir a sensação própria inerente aos grandes mestres. Mesmo que por minutos. Mesmo que não tenha se apercebido disto no momento do ato ou do elogio, mas depois, quando a mente perdurou no que foi feito, e ali pairou o desejo de extrair mais criatividade em tarefas vindouras.

A persistência é a mãe da criatividade, uma pari a outra a fim de que a arte da vida permeie as tarefas. São irmãos da criatividade o entusiasmo, o esforço, a vontade e a imaginação; esta, como mais velha e responsável, sustenta os demais com sua luminosidade, guia dos afazeres, fomentadora da união e da disciplina. É através da imaginação que a vontade se agiganta e conclama a ação do esforço. O entusiasmo, aquecido por este clarão incontrolável, une sua força a dos demais, como a cavar, na multiplicidade de opções, as trilhas que a criatividade irá percorrer até a conclusão da jornada. Ao final desta, o troféu da realização vitoriosa é o reconhecimento, a admiração e o respeito. Não há feito que, abarcado por esta família infalivelmente poderosa, resulte em fracasso ou mesmo em sucesso mediano. Não haverá quem, ao examinar, avaliar e comentar uma obra resultante desta operosidade conjunta rejeite sua aplicação, em que sentido for, para benefício do mundo, porquanto seu próprio conteúdo já traz, embrionado, o germe da utilização superior; em qualquer situação e em qualquer cenário será muito mais do que bem vinda, o que significa ser disputada com veneração e orgulho.

A persistência liga-se a não desistência. É fator primordial de sucesso. Difere cabalmente do simples esforço, mesmo quando é este ligado a uma meta. Mesmo que a ambição envolva toda e qualquer empreitada, se, anteriormente à iniciativa não trouxer, o fazedor, a persistência na bagagem de suas ideias, não importa qual seja a grandiosidade do plano, este tende a falhar ou deixar no caminho, a frustração da renúncia. E, o sentimento, nesses casos passa, da expectativa e da prospecção para a frustração e o desalento. É, portanto, a persistência, a mola mestra da integralidade de ações. Seu fomento exige concentração acima do empenho comum. Se analisadas todas as grandes obras, de como foram executadas, a partir de suas concepções, passando pelos altos e baixos até a execução final, ter-se-á, na persistência, o fio condutor de todas as ações levadas ao êxito. Não há como descartar a força da persistência em todo e qualquer feito digno de maestria e mérito abeirante à unanimidade.

E quanto à persistência e criatividade nas tarefas menos grandiosas, mas que exigem afinco do empreendedor? Aí, com muito maior evidência, pode-se sentir a diferença entre o medíocre e o notável. O estímulo à continuidade, acicatado pela aplicação da criatividade nos afazeres que podem ser encarados como rotineiros, perfaz o todo do dever, dotando-o de elegância. É incrível como um trabalho comum aos olhos da maioria consegue se destacar quando vem embebido pela criatividade do seu praticante. O dia a dia das situações traz o perigo

de deixar sua marca rotineira naquilo que não exige um esforço acima do mediano. Torna-se o ato tão mecânico e fácil de ser executado que deixa suas características desfiguradas de estilo e daquele algo mais contido na alma criativa. Nada, além de uma decisão de fazer o melhor, buscando um destaque, seria o requisito básico, prévio da ação. Depois disso, uma análise completa dos pontos que podem ser melhorados ou modificados. Colocar esses pormenores assentados pela escrita no lugar de utilizar a memória, apenas, pode evitar um desvio da meta ou o esquecimento do que tenha sido, antes, idealizado.

O passo seguinte seria por mãos à obra sem perda de tempo, pois que o ânimo é gado arredio, ávido da fuga, do retorno à mesmice da zona de conforto. Em seguida, permeando toda a extensão da obra, precisa estar a tão importante persistência. Mais uma vez: criatividade e persistência precisam caminhar de mãos dadas. A realidade do mundo em que vivemos dá evidências claras e comprobatórias do quanto é perniciosa a falta de persistência; sem ela, todo esforço é menor, senão nulo. É só verificar a quantidade alarmante de trabalhos que não passaram da iniciativa; de planos que ficaram largados à deriva da dúvida e do medo. Não é, nesses casos, em hipótese alguma, a falta de talento, de condições apropriadas, nem de incentivo o que impediu a finalização com sucesso ou a finalização pura e simples. Foi a falta de persistência, de simplesmente imbuir-se de levar, a todo custo, ao término, à conclusão, tudo aquilo que foi iniciado. Não há outro meio para se avaliar o talento próprio, pois que a força e a vontade crescem a todo pano para a obra seguinte, com certeza, superior a todas feitas anteriormente. É assim que se galga, passo a passo, o êxito nas ações individuais, embrião e espelho das ações coletivas de qualidade nobre.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 04/03/2011
Reeditado em 14/03/2011
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