EDUCAR COM AFETIVIDADE...
Ano após ano parece que a discussão dos profissionais do magistério continua sempre a mesma: "por que os alunos não querem mais aprender? O sistema de avaliação não está bom? A qualificação profissional dos professores ainda permanece insuficiente? Que metodologias devemos usar? Que conteúdos devemos ensinar? O nível dos alunos baixou? ...". São dúvidas, questionamentos e tentativas de explicações para o alto número de alunos que ficam para a recuperação no fim do ano, a queda no percentual de aprovação, os altos índices de evasão, entre outros problemas como as dificuldades de leitura, escrita e cálculo, mais preocupantes quando diagnosticadas em alunos que cursam o Ensino Médio.
Ás vezes, diante de todas essas perguntas sem respostas, uma reflexão é esquecida: o poder da afetividade no processo de ensino-aprendizagem.
Intrinsecamente ligada à cognição, a afetividade constitui-se fator essencial na vida escolar e pessoal, devendo, pois, o professor, sobretudo da Educação Infantil, estar ciente dos problemas que pode enfrentar e estar preparado para resolvê-los. Isso porque muitas crianças revelam rejeição à escola devido a uma primeira infância tumultuada e carente de afetividade, principalmente da figura materna.
A afetividade sempre pareceu ligada à Educação, tanto que normalmente o papel do educador foi considerado pertinente à Mulher que, acreditava-se, era mais afeita às questões da afetividade.
O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas também e, principalmente, em aspectos afetivos. Assim, a sala de aula é um grande laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno, muitas vezes, a ficar desgastado e sem estímulo.
O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos (amor, raiva,tristeza...) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas...). Para SEBER (1997), dentro da teoria de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência e, é responsável pela ativação intelectual. Com suas capacidades afetivas e cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas mesmas. Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima.
Claramente é percebido que a afetividade é fundamental para vida humana e que representa um dos aspectos mais significativos na construção de seres humanos mais saudáveis e especialmente, mais capazes de tomar decisões sábias e inteligentes.
Assim, Vygotsky, defende a tese de que diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico, e busca romper com as teses que relativizam o papel que a afetividade detém para a promoção do desenvolvimento psico-social do homem, colocando-a independentemente de especificidades culturais. Para ele, existe a necessidade do reconhecimento de que a afetividade possui um caráter de ação volitiva1, que norteia toda atividade humana.
Este postulado teórico, em que o desenvolvimento cognitivo pressupõe-se uma base afetivo-volitiva, também estará presente nos princípios teóricos de diversos autores, como Henry Wallon e Jean Piaget, em maior ou menor intensidade.
Nos últimos anos do século XX, surgiu uma série de trabalho, procedente do campo da Neurologia e da Neuropsicologia, que apresentou uma nova visão sobre a problemática dos sentimentos. Cada vez mais, no estudo do cérebro está presente a dinâmica, integradora entre inteligência e afetividade.
António Damásio (2004, p. 91) se dedica a estudar o papel das emoções e dos sentimentos no funcionamento cognitivo. Depois de estudar uma série de pacientes com lesões cerebrais localizadas na área pré-frontal, considerada fundamental para o raciocínio, encontrou em todos eles uma importante redução da atividade emocional, o que o levou à conclusão de que existe uma profunda interação entre a razão e as emoções.
Isto nos leva a entender que os trabalhos feitos sobre afetividade e os sentimentos têm uma ampla repercussão e que a dialética sentimentos/cognição resulta numa reflexão muito oportuna e significativa.
“A ação, seja ela qual for, necessita de instrumentos fornecidos pela inteligência para alcançar um objetivo, uma meta, mas é necessário o desejo, ou seja, algo que mobiliza o sujeito em direção a este objetivo e isso corresponde à afetividade” (Dell’Agli e Brenelli,2006, p.32).
Os seres humanos diferem uns dos outros em vários aspectos como a inteligência, as habilidades, os esquemas de conhecimento que empregam, as estratégias de aprendizagem, os interesses, as expectativas, as motivações e todos esses aspectos incidem sobre os processos de ensino-aprendizagem de forma distinta e particular para cada aluno.
Os sonhos, as tristezas, as necessidades, os questionamentos podem ser educados, educa..dor!
FERNANDA DE SOUZA LEAL
Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional _ FACINTER
Especialista em metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literaturas- IBPEX
Graduada em Letras Vernáculas – UEFS-BA
Professora da rede publica e particular de Língua Portuguesa e Produção Textual.
Ministra aulas em cursos preparatório para concursos
Trabalhos desenvolvidos com assessorias pedagógicas