PNL- CONHECER NÃO É SABER

Um discípulo procurou Mestre Nan para aprender a praticar o Zen. O mestre recebeu o discípulo e o convidou para tomar chá com ele. Enquanto servia o chá, pediu ao discípulo que lhe dissesse o que pensava acerca do Zen. O discípulo começou a falar sobre tudo que havia aprendido o assunto, os cursos que fizera, os mestres com quem estudara, os exercícios que sabia fazer, os cursos que já dera, etc, etc. Enquanto ele falava, Mestre Nan ouvia atentamente e ia enchendo a xícara do discípulo com chá. “ Mestre”, disse o discípulo, ao perceber que a sua xícara estava transbordando e alagando todo o chão: “ O senhor não percebeu que a minha xícara já está cheia?” ‘ Exatamente, meu caro jovem” disse o Mestre Nan: “Como você pretende aprender o Zen, se mente já está cheia com o que pensa que já sabe?”
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Já falamos que a aprendizagem é um processo que se cumpre em quatro estágios: a incompetência inconsciente (não sei que não sei), a incompetência consciente (eu sei que não sei), a competência consciente (sei, mas ainda não tenho habilidade para executar), competência inconsciente (sei e tenho habilidade para executar).
No primeiro estágio, estamos lidando com algo que não existe para nós. No segundo, já fomos informados a respeito, mas ainda não sabemos do que se trata. No terceiro, sabemos do que se trata, mas não conseguimos usar com habilidade. No quarto já estamos perfeitamente familiarizados, na teoria e na prática, com esse conhecimento.
Isso é o que acontece quando estamos aprendendo a dirigir automóvel, por exemplo. A nossa habilidade, a eficiência como motorista só acontece quando nos tornamos competentes inconscientes do que estamos fazendo, ou seja, quando dirigir se torna uma atividade inconsciente. Imagine se você tivesse que pensar em como passar marchas, virar a direção, parar no sinal vermelho, pisar na embreagem, brecar, desviar-se de algum obstáculo, etc. Você se tornaria um serial killer do trânsito. Felizmente você faz tudo isso inconscientemente, sem pensar. É como se fosse algo natural, um conhecimento já integrado à sua neurologia.
Nós só aprendemos de verdade alguma coisa quando somos capazes de fazê-la automaticamente. Se precisarmos pensar para fazer, se precisarmos seguir algum manual, então ainda estamos aprendendo. Ainda não sabemos. Quando coloquei as minhas filhas para aprender matemática pelo método Kumon, fiquei preocupado, pois me pareceu, à primeira vista, que o método, na verdade, consistia em vencer pelo cansaço. Repetir a mesma ope-ração centenas de vezes. Levei um tempão para perceber que se tratava de envolver o inconsciente do aluno na operação, para que o comportamento matemático se tornasse uma habilidade natural.
Afinal, é isso que acontece com os comportamentos que incorporamos naturalmente. É assim, também, que adquirimos os nossos vícios. Incorporamos naturalmente o hábito de fumar, de beber, de comer doces, de roer unhas etc.
Um dos problemas para se aprender coisas novas ou melhorar a performance em relação às nossas habilidades é exatamente a dificuldade que temos em superar a fase da competência consciente. Muitas vezes, a sabedoria que pensamos ter sobre um determinado assunto nos impede que vejamos formas mais eficientes de tratá-los. Por isso dizem os praticantes do Budismo Zen que para podermos realmente aprender coisas novas é preciso esvaziar a mente dos conteúdos anteriores em relação aquele assunto. Quer dizer, temos que evitar “pré-conceitos” que possam nos manter aferrados a visões muitas vezes incorretas, ou já superadas daquele assunto.
Não existe uma única pessoa no mundo que não tenha pelo menos uma única habilidade. Seja o que for, isso significa que toda pessoa pode aprender a agir com eficiência. Existem algumas atividades que nos motivam mais que outras, por isso adquirimos umas com mais facilidade e menos esforço do que outras. Mas quem pode aprender a fazer bem uma coisa pode aprender muitas outras. É só aprender a se motivar, da mesma forma como se motivou para aprender aquela atividade que lhe agradava.
Os neurônios que processam a atividade de digitar, por exemplo, são os mesmos que processam a habilidade de tocar violão piano, ou qualquer outra que tenha a sensibilidade tátil como base. É a mesma coisa com dançar e jogar tênis, pintar e desenvolver equações matemáticas e trabalhos de geometria, etc. Quando desenvolvemos uma área do cérebro responsável pelo aprendizado de uma habilidade, também adquirimos capacidades relacionadas com outras habilidades correlatas. Só precisamos exercitá-las para que se tornem uma competência inconsciente.
O nosso cérebro é como uma CPU cujo processamento de programas se dá por relações entre informações. Isso quer dizer que nós somos, como disse Sartre, produtos de relações e de relações entre relações. Joga-se uma informação no cérebro e imediatamente ele já procura relacioná-la com todas as outras matérias correlatas. Ás vezes, a partir de um determinado estímulo, ele constrói uma árvore neurológica tão frondosa que a nossa capacidade de linguagem nem consegue reproduzir. Em PNL, esse descompasso entre a capacidade do nosso cérebro em processar informações e a dificuldade da nossa linguagem em representá-la em nossa mente e reproduzi-la em nossos canais de comunicação é o que chamamos de território e mapa. Território é a informação total, que o cérebro possui. Mapa é a informação que os nossos sistemas de linguagem consegue reproduzir.
Assim, quando falamos em eficiência total o que queremos dizer é que temos que aprender a reproduzir, no mundo real, a informação total que o cérebro possui. Todos nós já tivemos alguma experiência nesse sentido: saber que sabe fazer alguma coisa, mas não consegue executar essa habilidade com a mesma eficiência com que consegue pensar nela. Quer di-zer: sabe todos os passos que deve dar em direção ao sucesso, mas quando tenta fazer isso efetivamente, alguma coisa falha.
Por isso é que sempre dizemos: o corpo e a mente devem andar juntos no processo de aprendizagem. Conhecer não é saber. A verdadeira aprendizagem é aquela que se aloja no inconsciente. Ampliar os nossos mapas é desenvolver os nossos sentidos. Quando isso acontece, ampliamos também a nossa capacidade de ser eficientes nas habilidades que exercemos. Esse é o objetivo da PNL.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 21/01/2011
Reeditado em 21/01/2011
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