NA CONTRAMÃO DA EDUCAÇÃO

Quando criança, lembro muito bem minha ansiedade em chegar a hora de freqüentar a escola. Via as crianças mais velhas passando com suas mochilas nas costas, meus irmãos com seus livros maravilhosos, seus cadernos cheios de letrinhas, tudo aquilo deixava eu muito angustiado. Ficava o tempo todo questionando minha mãe:

— Mamãe eu já posso ir para escola?

— Não querido, você ainda é muito criança. Só quando você completar sete anos.

Nessa época, (e não faz tanto tempo assim) as crianças tinham tempo para brincar, fazer suas escolhas de como e quando brincar, com quem brincar e, a medida que iam crescendo sentiam a necessidade natural de aprender, de freqüentar a escola.

Hoje, a criança com três anos já tem que ir para escola, naquela rotina estressante, com horário marcado, brincar todos os dias com os mesmos colegas que ele não escolheu e as brincadeiras que ele não escolheu. Eu certamente se fosse criança hoje, diante desse quadro, quando tivesse que ser alfabetizado de fato, eu já estaria com o “saco cheio” da escola.

Baseados em estatísticas importadas de países europeus e asiáticos, os teóricos dessa área afirmam que a criança deve ficar mais tempo na escola. Com isso, esquecem nossas características e particularidades, sem contar que nossas escolas não oferecem estruturas físicas adequadas, com o agravante de que nossos profissionais em geral são mal remunerados e com baixa qualificação.

Os especialistas em educação certamente irão me classificar de retrógrado, de dizer que estou indo na contramão do pensamento pedagógico dominante, mas, acho que é isso que está ocorrendo com nossas crianças, quando chegam ao Ensino Fundamental e Médio, já estão estressados. É por isso, que se nota nas escolas a falta de interesse e a falta de compromisso com o aprendizado por parte da maioria dos alunos, provavelmente eles também já são vítimas dessa rotina.

Devemos ainda levar em consideração que o principal motivo que leva as crianças a freqüentar a escola com tanta precocidade se deve ao fato das mães não poderem mais cuidar dos filhos, visto terem que trabalhar para ajudar no sustento da casa, quando não, em muitos casos, é a única fonte de renda da família. Portanto, isso é uma falha do sistema capitalista em que vivemos, e que sabiamente transfere a responsabilidade para a escola. E quem “paga o pato”? Alunos e professores.

Las Vegas
Enviado por Las Vegas em 21/01/2011
Reeditado em 30/01/2015
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