AS TICS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXCLUSÃO OU INCLUSÃO DOCENTE?

AS TICS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXCLUSÃO OU INCLUSÃO DOCENTE?

Clebiana Dantas Calixto¹ (clebianageo@hotmail.com)

Clediana Dantas Calixto² (clediana_dantas@hotmail.com)

Jane Cleide Cardozo dos Santos³ (janycardozo@hotmail.com)

1. INTRODUÇÃO

Numa sociedade em rápida e constante mutação, impulsionada pela evolução tecnológica, a escola está permanentemente desafiada. Ela deve ser criativa, dinâmica, participativa e democrática. Para não se imobilizar e burocratizar, ela precisa de profissionais também dinâmicos e criativos, capazes de promover e conduzir as mudanças percebidas como necessárias. Além disso, a permanente mudança no próprio ambiente escolar em sintonia com as transformações em curso na sociedade brasileira e num mundo globalizado, demanda um novo perfil de gestor, professor e coordenador capaz de mudar rotinas e atitudes mecanicamente determinadas pelo passado e pela inércia.

Nessa nova perspectiva, a tecnologia pode e deve desempenhar um papel fundamental. Ela permite o armazenamento e a circulação de informações, além de multiplicar as possibilidades de utilização do saber, ela abre ao gestor, professores e funcionários da escola a possibilidade de dar continuidade ao seu próprio processo de aprendizagem e de toda a escola.

A utilização das Tecnologias da Informação e comunicação na educação não é uma novidade. O uso de diferentes tipos de publicações com finalidades educacionais, como jornais, revistas, livros, periódicos impressos e eletrônicos já é comum e enriquecedor na aprendizagem.

Porém, não se trata de levar para a escola indiscriminadamente tais recursos, pois isso não trará benefícios, mas cabe aqui apontar que a consciência de que alguns conhecimentos prévios são necessários e necessitam que o professor venha adquirir novas habilidades e competências,tais como: noções técnicas do funcionamento de tais equipamentos para identificar as limitações e opções oferecidas por eles; programar adequadamente o uso dos recursos, impedindo que o método de trabalho seja alterado ou simplesmente ditado pelo recurso escolhido; criar um ambiente de aprendizagem colaborativa, motivador e rico em informações, possibilitando assim o desenvolvimento de um cidadão crítico, consciente e colaborador do processo.

Diante das exigências da nova Sociedade da Informação, vê-se a necessidade da mudança de paradigmas tanto na produção de bens e serviços quanto na educação e formação dos profissionais. (Bernini 2007).

O presente trabalho refere-se à formação do professor para o uso das novas tecnologias em sua prática pedagógica. A escolha dessa temática de estudo partiu de observações e indagações durante a realização de um curso sobre Tecnologias da informação e comunicação (TICS). Estaria o professor preparado para incorporar um novo modelo didático-metodológico, que utilizasse as Tecnologias da informação e comunicação (TICS), como instrumento educacional e não como repetição do trabalho de sala de aula incorporando em sua prática educativa a utilização dessas novas ferramentas?

Este trabalho tem como propósito ainda, elencar os principais obstáculos inerentes ao desenvolvimento pleno da aplicação das TICS na educação.

2. NOVAS TECNOLOGIAS E NOVOS PARADIGMAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O papel relevante das TICS, no campo educacional, depende de muitos fatores, dentre os quais a formação de professores parece ser o que merece grande destaque e um estudo aprofundado por serem eles, os professores, os atores principais na disseminação do conhecimento e no desenvolvimento intelectual, social e afetivo do indivíduo. Se o computador pode ser um instrumento para auxiliar este desenvolvimento, o professor necessita saber utilizá-lo com competência e eficiência. Para tanto, estuda-se como deve ser esta formação docente, e suas implicações, para compreensão da realidade do complexo sistema educacional. É preciso detectar o que pode e deve ser mudado na busca de uma educação de excelência.

É bastante sugestivo que se reveja o papel do professor no contexto escolar, bem como sua formação e sua prática pedagógica para que este perceba a necessidade de se desenvolver e melhorar a prática profissional, transformando-se em agente de mudança, mesmo que essa adequação possa

gerar insegurança. Não há como evitar as resistências, o receio do novo e o medo de ousar, que se apresentam como impedimento a primeira vista.

2.1 QUEM É O PROFESSOR HOJE?

A profissão docente está em processo de mudança, sofrendo profundas alterações e transformações bastante diversificadas. Alterações que podem ser de ordem pedagógicas, de comportamento, sociais, econômicas dentre outras. Esse novo cenário obriga os professores a enxergar a própria profissão de maneira diferente. (não só os professores, mas todos os profissionais).

As condições de trabalho do professor hoje refletem a precariedade da educação pública brasileira, como revela Cysneiros (1998, p.199-200), ao relatar que a realidade dos professores de grande parte das escolas públicas do país assim se apresenta:

O professor encontra-se sobrecarregado com aulas em mais de um estabelecimento, faltando-lhe tempo para estudar e experimentar coisas novas, recebe baixos salários. Em tais escolas tenho encontrado pessoas ensinando matérias que não dominam, como também casos incipientes de alcoolismo e um semi-absenteísmo camuflado, com o professor evitando sempre que pode a sala de aula ou fazendo de conta que ensina, em parte resultado de um esgotamento profissional prematuro.

São vários os problemas que afetam a vida profissional do professor para exercer o seu papel de educador na escola pública hoje. Um desses problemas pode estar relacionado à apropriação e aplicação das TICS para ensinar. O entendimento das novas exigências atuais para o uso do computador na educação, tem como premissa básica o professor.

Valente (1999), afirma que a preparação docente para a utilização das novas tecnologias implica em muito mais do que somente fornecer conhecimento sobre computadores, implica em processo de ensino que crie condições para a apropriação ativa de conceitos, habilidades e atitudes, que ganha sentido à medida que os conteúdos abordados possuam relação com os objetivos pedagógicos e com o contexto social, cultural e profissional de seus alunos.

Veiga (2001) defende que o desafio à introdução dos computadores na educação é muito grande, o qual apresenta aspectos positivos e negativos. Para introduzir a informática na instituição escolar, é necessário ter um plano

pedagógico, em que estão traçados os objetivos de sua utilização como ferramenta pedagógica, bem como a escolha dos softwares para atingir eficientemente esses objetivos.

Leite et al. (2000) revelam que, em oposição à importância da Tecnologia Educacional, estão os mitos, entre os quais o medo dos professores de que, com o avanço da tecnologia na educação, desvalorize-se ainda mais o papel do professor e o ensino se desumanize.

Estes autores defendem que é fundamental que o professor tenha a oportunidade de dominar o uso das TICs, para que possam adequá-las ao contexto educacional, sem deixar-se levar por modismos tecnológicos, mas para compreendê-las como uma ferramenta pedagógica na construção do conhecimento, refletindo sempre sobre suas possibilidades.

2.2 FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES PARA O USO DAS TECNOLOGIAS

O panorama educacional vigente hoje no Brasil revela a grande expansão das redes de ensino em curto espaço de tempo, especialmente da escola privada a partir da década de 1990, com a ampliação da democratização do ensino e com o aumento do número de vagas e matrículas.

Gadotti (1987) critica o atual sistema de ensino que leva a deteriorização da educação. Transformada em mercadoria, a educação está sujeita à lei do capitalismo, que incentiva a privatização do ensino sem investir na qualidade, privilegiando o lucro através da quantidade.

A crise na educação se agrava à medida que o Estado deixa de cumprir o seu papel e transfere ao setor privado o compromisso com a educação, em especial a formação de professores, sem ao menos fiscalizar a qualidade dos

cursos oferecidos. O discurso governamental acompanhado de redução dos recursos públicos destinados ao setor de ensino reflete o momento político e econômico que o país atravessa.

Segundo Dias Sobrinho (2004), dados sobre universidades, revelam a

crise de financiamento ao ensino. Em 2000, o financiamento ao ensino representava 0,87 % do PIB nacional e passou agora para 0,44%. Houve uma

quebra de 50% no financiamento o que interfere na natureza das universidades.

Outro dado importante é a expansão das universidades particulares, as quais representam 87% das instituições de ensino superior. Atualmente são criados quatro cursos por dia nas instituições de ensino superior, o que demonstra uma expansão quantitativa. A necessidade de maior número de professores para atender a demanda escolar foi atendida em parte pela proliferação do ensino superior privado, na maioria das vezes de baixa qualidade, complementado pela permissão do exercício dos “professores leigos” e a conseqüente desvalorização da profissão docente.

O debate sobre a formação de professores tem se expressado ao longo da história da educação brasileira, no entanto a redefinição das atribuições do professor em face das novas tecnologias foi o questionamento introduzido ainda na década de 70, quando se discutia se suas funções seriam desempenhadas por meio do emprego de outros meios.

A formação de professores e as novas tecnologias configuraram-se como assuntos de interesse restrito por muito tempo, destinados a especialistas da área. Mas foi na última década, porém, que o tema passou a constituir foco de debate em educação, seja a partir do reconhecimento de sua importância por parte do Estado, seja pelo interesse que tem despertado entre educadores e suas organizações no âmbito da sociedade civil organizada.

Para Imbernón (2002), a formação é um elemento importante de desenvolvimento profissional, mas não é o único e talvez não seja o decisivo. A formação é um elemento de estímulo pela luta pela melhoria social e profissional, pela promoção de novos modelos quanto à prática e às relações de trabalho.

Cada pessoa aprende de um jeito e ninguém se desenvolve sozinho. O

indivíduo tem que crescer no grupo, reagir de forma diferenciada diante das inovações. Assim, como coloca o autor (ibid), aprender para pôr em prática uma inovação supõe um processo complexo, e essa complexidade é superada quando a formação se adapta à realidade educativa da pessoa que aprende, e quanto maior a sua capacidade de adaptação, mais facilmente ela será posta em prática, em sala de aula ou na escola e será incorporada às práticas profissionais habituais.

Isso mostra que os cursos de formação docente parecem ter maior possibilidade de favorecer a aprendizagem dos professores em determinadas condições e dentro de determinados limites. Os professores possuem concepções, crenças e teorias sobre o trabalho docente, e essas não se modificam simplesmente na participação em atividades de formação, ainda que

haja diversidade de materiais e meios.

Quanto ao desenvolvimento, segundo Imbernón (2002), caracteriza -se

pela prática do docente e sua história de vida. Ser profissional da educação nos leva a pensar em um trabalhador intelectual que conhece e aplica a teoria, que respeita um código de ética, que tem um status respeitado, é ser um profissional de decisão, que planeja a cada instante o que fazer em cada situação.

É ser um verdadeiro agente social de intervenção e transformação, sem temer a utopia e principalmente, que busque uma formação permanente. O debate sobre a formação de professores tem mudado nos últimos 20 anos seu foco.

Segundo Teixeira, Grígoli e Lima (2003), no primeiro momento, a análise centrava-se na formação inicial na academia, enfatizando os estudos nas teorias, métodos e currículos. No segundo momento, enfatizaram-se os estudos na profissão docente, sua prática e a complexidade que envolve as dificuldades do profissional e da profissão docente, bem como aspectos práticos e científicos, conhecimentos e competências necessárias para o bom desempenho da profissão.

Quando se discute a função docente deve-se levar em consideração os

modelos de formação de professores que permeiam esta prática. Em tese, a formação do professor ocorre na academia, no choque com a realidade e de forma permanente ou continuada ao longo da vida profissional. Portanto, a formação dos professores, é alicerce fundamental para melhoria da qualidade do ensino.

Contudo, a boa formação de qualquer profissional está baseada inicialmente na quali dade do curso oferecido pela instituição de nível superior que este freqüentou.

Portanto, pode-se perguntar: os cursos de graduação cumprem com seu papel, na formação de educadores preparados para ensinar? Em que medida, os cursos de nível superior capacitam os novos profissionais da área educacional para o uso das TICs? Caso o ensino superior não desempenhe seu papel na formação de profissionais bem preparados para o uso do computador, formação contínua atenderá a essa demanda? Como?

Quando se trata da formação inicial de professores, pensa-se nos cursos de nível superior que inicialmente formam os futuros profissionais que irão atuar na educação. Sob esse enfoque discute-se a formação para o uso do computador em educação e que na grande maioria das instituições formadoras os cursos oferecidos ainda distancia-se da nova abordagem que incorpora o uso das TICs. As disciplinas que contemplam conteúdos de informática aplicados à educação mais freqüentes, ainda são específicas, que enfocam a teoria distanciadas da prática, desarticuladas das demais disciplinas sem a oportunidade de analisar as dificuldades, as potencialidades de seu uso e, de realizar reflexões da prática pedagógica (ALMEIDA, 2000).

O estudo ora apresentado foi realizado com professores da rede estadual de ensino da Escola Estadual do Ensino Fundamental e Médio Dom Adauto. Localizada no município de Juarez Távora –PB. Durante a realização de entrevistas para a coleta de dados com o corpo doscente, constatou-se que havia interesse por parte dos professores em trabalhar com a tecnologia e desenvolver projetos nesse sentido. No entanto, mesmo tendo participado de cursos de informática básica e Eproinfo – Ensinando e Aprendendo com as TICS ambos oferecidos pelo governo para os professores da rede estadual, alguns docentes ainda não conseguem dominar essa ferramenta.

Nesse sentido, compreendo que a formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Essa prática possibilita a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno.

Dos 15 professores entrevistados apenas 3 se mostraram preparados para trabalharem coma a tecnologia em sala de aula. Além desse agravante, também elencamos outros obstáculos para a inserção das TICS na prática pedagógica:

 A tecnologia é adquirida e lançada pela escola sendo imposto seu uso ao professor sem que antes este conheça e se familiarize com antecedência para tomar gosto e interesse em utilizá-lo. Isso provoca um sentimento de medo, natural em relação à mudança e adaptação a uma nova realidade.

 O professor ainda não dominando o computador ou outros meios tecnológicos, procura se afastar do laboratório de informática por não se sentir capacitado a realizar atividades relacionadas ao uso das TICS.

 Mesmo conhecendo os recursos básicos disponíveis pela escola, o professor não possui o hábito de criá-las. De modo que mesmo já havendo passado por algumas formações ainda não se encontram capacitados para desenvolverem tais mudanças no contexto educacional. Fazem-se necessárias mais formações para os docentes.

 O maior de todos os obstáculos, a falta de tempo para a realização de outras formações e ou melhor, poder praticar em casa o que aprendeu em curso.

Conclui-se, portanto que não basta ter apenas formação técnica, é preciso ir aprendendo e vivenciando com os alunos nos ambientes de aprendizagem, quer sejam no laboratório de informática ou na sala de vídeo. É preciso proporcionar projetos que estimulem os alunos não apenas na autoria técnica, mas sim na produção do conhecimento, auxiliar que esses alunos saibam interpretar, sintetizar, refletir, ter criticidade, pensamento lógico e serem autônomos.

Por outro lado, as TICS impõem diversos desafios para a formação de professores e para a educação. Debater sua utilização no espaço escolar exige sua compreensão dentro de um contexto mais amplo, analisando-se as políticas educacionais e as várias implicações desencadeadas com sua adoção, sem contribuir, a partir da voz do professorado, com o debate acerca da formação docente para a utilização das TICS, com o fim último de colaborar na construção de uma educação de qualidade e socialmente mais justa e solidária.

3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, M. E. B. de. Proinfo: Informática e Formação de Professores. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2000.

BERNINI, DENISE S. D. DE SOUZA, DANIEL I. SOUZA, C. H. M. . Estudo sobre disciplinas não presenciais para graduandos de engenharia de produção. In: XXVII ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2007, Foz do Iguaçu. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2007. v. 1.

CYSNEIROS, P. G. Novas tecnologias na educação – texto em construção. Recife: [s.n.], 1998. p.205-08.

DIAS SOBRINHO, J. Palestra sobre Avaliação da Educação Superior: Autonomia x Controles. Realizada na UCDB em 14/04/2004.

GADOTTI, M. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática, 1987. IMBERNÓN, F. Formação Docente e Profissional: Formar-se para a mudança e a incerteza. 3ed. São Paulo, Cortez, 2002 (Coleção Questões da Nossa Época: v. 77).

LEITE. et al. Tecnología Educacional: Mitos e Posibilidades na Sociedade Tecnológica. Revista Tecnologia Educacional, ano XXVII, n. 148. an/Fev/Mar/2000. p.38-41.

TEIXEIRA, L. R. M.; GRIGOLI, J.; LIMA, C.M. Saberes dos professores e ambigüidades da prática docente na rede pública de Campo grande, MS. Anped, 2003.

VALENTE, J. A. O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED/UNICAMP, 1999.

VEIGA, M. S. Computador e educação? Uma ótima combinação. In: BELLO, José Luiz de Paiva. Pedagogia em foco. Petrópolis, 2001. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/inedu01.htm Acesso em 5 de janeiro de 2010.