CLIMA ESCOLAR E APRENDIZAGEM

José Neres

No início de 2010, foi lançado o livro-relatório “Factores asociados al logro cognitivo de los estudiantes de América Latina y el Caribe”, assinado por alguns dos mais renomados pesquisadores da área de Educação da atualidade. No livro, o grupo, formado por Ernesto Treviño, Héctor Valdés, Mauricio Castro, Roy Costillas, Carlos Pardo y Francisca Donoso Rivas, discute os problemas encontrados no processo educativo dos países que serviram de base para uma longa e exaustiva pesquisa, que teve início em 2004 e foi concluída em 2008. Depois de meses de análise dos dados levantados, a pesquisa culminou no livro acima citado, publicado pela UNESCO e que se encontra disponível gratuitamente na internet.

Em uma leitura rápida, alguém poderia pensar que o objetivo maior dos autores é comparar os sistemas educacionais dos países envolvidos na investigação, contudo, lendo página a página o trabalho, percebe-se que os autores vão mais além e sugerem soluções para diversos dos problemas que atravancam o progresso das crianças nas escolas dos países latino-americanos e do Caribe.

Um dos pontos que chamam a atenção no trabalho dos educadores-pesquisadores é o que fala da relação entre clima escolar e aprendizagem. Ao longo de todo o relatório, os autores alertam para o fato de que “os estudantes aprendem mais quando frequentam escolas onde se sentem acolhidos e se dão relações de cordialidade e respeito entre alunos e professores” (pág. 15) e há a constatação de que “a gestão do diretor é a variável que ocupa o segundo lugar nos processos educativos quanto à consistência de sua relação com o rendimento” (pág. 125). De modo geral, o relatório deixa claro que “o clima escolar e a gestão do diretor são elementos essenciais para explicar uma melhora na aprendizagem, seguidos pela satisfação e o desempenho dos docentes” (pág. 107).

Fica claro então que o clima escolar ao qual eles se referem está diretamente ligado à relação de empatia entre alunos, professores e gestores, com a áurea de respeito mútuo que deve pairar entre os atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Sem dúvida alguma, o aluno se sente mais à vontade em uma escola onde ele se sente respeitado em seus direitos e onde sabe que será ouvido em seus anseios e necessidades.

Alguns gestores, infelizmente, pensam que esse clima educacional se resuma à limpeza física do ambiente e às estratégias de apenas fornecer recursos didático-pedagógicos para que os professores possam manter os alunos ocupados e, de preferência, calados durante a maior parte do período de aula. Claro que uma escola limpa, com bons recursos tecnológicos, com livros à disposição de alunos e professores, com lanche e locais apropriados para o lazer muito ajudarão no desenvolvimento social e cognitivo dos alunos. Porém, além dos recursos materiais, é preciso também investimento no ser humano, no fortalecimento de valores positivos e no crescimento do capital imaterial dos alunos, dos professors e da comunidade em geral.

Os próprios pesquisadores admitem que não é fácil atingir esse clima dentro das escolas, já que se trata de “uma medida complexa que denota o trabalho de docentes e diretores para criar uma sociedade acolhedora e respeitosa para os estudantes” (pág 15). Como o clima escolar não é uma variável mensurável e que possa ser divulgada como marca de sucesso administrativo, geralmente fica relegada a um plano secundário, contudo, o livro alerta para a necessidade de toda a comunidade escolar envolver-se com esse objetivo. Há no estudo a constatação de que “o clima escolar tem efeito positivo sobre o rendimento dos estudantes na maior parte dos países (pág. 107).

Mas também há a comprovação de que esse clima positivo alcançado na escola pode ser potencializado em aprendizagem de leitura, matemática e ciências, se houver também um clima familiar que favoreça a permanência do aluno em sala de aula. O trabalho infantil é apontado pelos autores como um mal a ser combatido, pois, “um menino que trabalha obtém, em média, 7 a 22 pontos a menos que os alunos que não trabalham” (pág. 124), e isso irá se refletir, sem dívida no clima escolar, pois o aluno dificilmente poderá concentrar-se, durante seu período na escola, apenas às tarefas educacionais e, possivelmente, sentirá bem menos os efeitos do clima escolar sobre as ações educativas em geral.

Mas o livro não se resume a essa discussão sobre clima, pelo contrário ele é bastante rico em sugestões de políticas educacionais e em sugestões para professores, gestores e para a comunidade em geral. Vale a pena ser lido na íntegra.

José Neres
Enviado por José Neres em 13/01/2011
Código do texto: T2726740
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