Um Prato de Trigo para Dois Tigres Tristes - A Desvalorização do Profissionalismo

Meu namoro com o Turismo começou junto com o meu profundo amor pela Natureza. Quando pressionada pelo stress no trabalho, do cotidiano, da correria da cidade, ia me enfiar lá na Ilha Grande. E não contente em ser visitante, resolvi que tinha que ir morar lá, emprestar minha eloqüência, minha simpatia e o meu sorriso para o receptivo local. O casamento deu certo, mesmo que nessa época eu fosse apenas um intrujona na área, acabei por perceber que deveria me especializar. Foi aí que começou o perrengue.

De família pobre, ralei pra cacete, no íntimo desta palavra para fazer uma faculdade. Porque pobre é assim, ele não se contenta de estar lá num lugar paradisíaco, na liberdade de gerir um estabelecimento e de vez em quando dar uns mergulhos naquela água límpida e esverdeada, ele tem que pegar o canudo, ser “dotô” pra mostrar pro pai e pra mãe que fez uma universidade. Isso na Hotelaria é pura ilusão.

Vim para o mercado cheia de experiências práticas adquiridas em minhas idas e vindas pelo lugares por onde andei, adicionada a meu conhecimento acadêmico, Caxias por excelência, daquelas que pesquisa um tema que o mestre citou na sala de aula por acaso, me aprofundando em leituras e trabalhos que por muitas vezes eu mesma sugeria que fossem feitos.

Tolice. Quando você cai num hotel aqui no Rio, por mais sofisticado que seja, você dá de cara com auxiliares administrativos, auxiliares contábeis, operadores de telemarketing, caixas, telefonistas. Todo tipo de profissional, os caras são formados em Mecatrônica, Acupuntura, Massoterapia, e todos os "ura"s, "icas" e "ias" que se possa imaginar, mas quase nunca em Turismo e Hotelaria, e caíram na profissão de pára-quedas, em todo o sentido da palavra. Daí que até mesmo o seu chefe, quando você utiliza um termo utilizado na profissão te olha com aquele ar de “onde essa babaca aterrissou com sua nave espacial?”.

Isso tudo porque a profissão não é regulamentada, sendo assim qualquer um pode trabalhar nesse meio, pois não necessita de registro. Não funciona como para advogados, médicos ou contadores. Dezenas de petições e abaixo-assinados já foram feitos, sem sucesso, chegam lá para serem votados no Congresso e por lá ficam. É uma lástima, porque termina que qualquer um trabalha nesse meio sem ser profissional da área e os profissionais da área que caem nesse meio, enlouquecidos quando caem num hotel, pois percebem que a maioria da gentileza e da excelência de serviços que aprenderam e deveria ser utilizado, só ficaram nas páginas dos livros, terminam por vezesa desistir e debandam para serviços administrativos.

O pior disso tudo é o lugar-comum da remuneração baixa em que caiu a profissão. Nada tenho contra os nordestinos, pelo contrário, tenho amigos do Nordeste, e adoro a natureza daquele lugar, porém são estatísticas e estão aí para quem quiser comprovar.

Explico: Um amigo formado pelo Senac em Gastronomia, umas das especializações mais caras do momento, acaba por ser remunerado em ridículos R$ 1.100,00, para atuar como cheff. Porque aqui no Rio de Janeiro virou uma febre. Os nordestinos vêm para cá sem ter muitas necessidades, dividem um biombo com 3 e 4 amigos e só usam seu salário para tomar cachaça e comprar celulares, daqueles mais modernos para andar pendurado na cintura que nem pochette (desculpe, mas é o que acontece!), não querem formar famílias porque já vieram fugindo dos 5 filhos que tiveram lá na terrinha, e da escabrosa pensão que “iriam” ter que pagar se estivessem por lá. Sendo assim, não precisam de muito para viver... Chegam aqui e de cara pegam emprego nos restaurantes de ajudante de cozinha, de ajudante passam a cozinheiro e para a cozinha de hotel isto é um pulo. Conclusão: mão de obra barata para os empresários, donos de hotéis que já não gostam de pagar muito mesmo, e sabem que o serviço deles qualquer seiscentinhos paga. Daí o chute na bunda do meu amigo especializado no Senac, que na verdade deveria estar ganhando uns R$ 3000,00. Além disso, o empresário sabe que o indivíduo formado não leva desaforo pra casa, porque ele tem cacife pra arrumar outro emprego melhor, e esses donos de hotéis adoram esculachar os outros, de forma que um empregado sem qualificação, mal remunerado e sem conhecimento de seus direitos trabalhistas é um prato cheio pra eles.

Pra final de conversa, muita gente cismou, principalmente as agências de recursos humanos que pipocam o Rio de Janeiro que o turismólogo tem porque tem que trabalhar em hotel. O turismólogo é muito mais do que isso, ele tem conhecimento para captar o tônus turístico de certa localidade que não tem receita nenhuma revertida para essa área e transformá-la num destino dos mais procurados. Não sei se foi esse o caso de Varginha, mas acredito que nos bastidores sim. Varginha era uma cidadezinha sem graça, desconhecida, quem sabe até chegar um turismólogo e dizer: - Vamos inventar um tal de E.T. de Varginha que todo mundo vai querer conhecer esta cidade! – Resultado? Agora todo mundo já ouviu falar de Varginha por causa dessa estória.

Sinto indignação por estes casos, passei por lugares que nem adianta mudar a filosofia, as pessoas são apáticas no bem-atender, luto contra isso, mas ainda falta muito para chegar lá e muita gente desconhece o que acontece por detrás disso tudo: a falta de educação e de ética nos procedimentos hoteleiros. Simples, eles não tiveram que prestar juramento na hora de assumir a profissão. Faço um pedido para aqueles que “vendem” sua mão de obra por merreca e acabam por depreciar o profissional qualificado: NÃO OFEREÇAM SUA MÃO DE OBRA POR TÃO POUCO, VALORIZEM-SE!