PSICANALISE: PERGUNTA E RESPOSTA. (*)

 

 

Perguntei a um funcionário de mercadinho acerca de determinado produto que não tínhamos encontrado nas prateleiras. Ele TAMBÉM nos disse que não havia, mas nessa hora percebemos o produto bem juntinho dele. Quando ele viu, ficou meio sem graça. Então falamos:

 

- Se fosse uma cobra tinha te mordido. Ao que ele respondeu:

- "Por que não um leão"?

 

Cenário de interpretação:
 
considerando que o moço reside numa pequena cidade do interior de Pernambuco, com forte tradição machista, inferimos:

 

1 – Simbolismo “cobra” e “leão” – cobra relacionada às teorias freudianas do inconsciente associada à sexualidade; leão, pela sua lógica de “rei das selvas” – aquele sobre quem não cai nenhuma suspeita. O moço, neste caso, tudo indica que viajou no imaginário da “cobra” sobpondo-a ao leão, enquanto coisa de macho. Provavelmente entendeu na minha metáfora alguma insinuação negativa acerca da sua sexualidade, o que não acontecer da nossa parte.

2 – Não significa necessariamente que o moço tenha dúvidas de sua sexualidade, mas que nos oferece esta interpretação oferece. Inclusive porque quando ele arremata "não poderia ser um leão"?, podemos crer que a "emenda ficou pior do que o soneto". A cobra poderia mordê-lo, mas o leão "comê-lo"...

3 – Denota a construção interior do indivíduo com base machista, ainda muito comum nas pequenas comunidades interioranas. Qualquer coisa tipo: “minha masculinidade está acima de qualquer suspeita” e,

4 – “Deve mesmo está acima de qualquer suspeita”, mas se fosse tanto haveria uma garantia disto explicita através da não distorção da colocação sobre a cobra.

5 – A resposta do moço poderia não ter acontecido, posto que o que fora dito foi mesmo no contexto da cobra que mata, após morder. Neste sentido, o ditado “se fosse uma cobra te mordia” é usual na maioria das cidades sem conotações subjetivas e psicanalistas.

6 – A incompetência do rapaz, enquanto funcionário do mercadinho, ficou provada. A super competência enquanto macho ficou estabelecida, mas não politicamente correta. Pensamos em explicar a ele, mas ficamos calados porque já houve situações parecidas que terminaram em agressão física e morte. No interior é assim. Macho é macho. Homem é cachorro, gato, cão.

 

 

A gente poderia concluir dizendo de maneira nada original: “a ignorância é que astravanca o pogressio”, seu Creisso do Caceta que não me deixe mentir.

 

(*) Nossa formação é da área humana/comportamental, mas não somos Psicanalista. Contudo, nove anos de Psicanálise freudiana nos capacita para compreender esse universo rico de símbolos.