DOIS PENSADORES DA EDUCAÇÃO
José Neres
Aprender é algo bom e essencial para o ser humano. Aprendemos a todo momentos, com os próprios erros/acertos e com as experiências alheias. Aprendemos com a natureza, no contato com o próximo, com o passado e com as inovações do presente. O mundo é uma grande sala de aula com portas e janelas abertas para quem quiser aprender, com inúmeros professores que ministram suas aulas em tempos de bonança ou mesmo em momentos a extremas adversidades.
No meio desses inúmeros professores que contribuem para o progresso da educação em todos os seus níveis e potencialidades, alguns de destacam não apenas por seu comprometimento com o fazer pedagógico, mas também por defenderem ideias que vão além do senso comum e que apontam para novos horizontes no âmbito da aprendizagem. Entre esses exemplos de profissionais que vão além da atividade em sala de aula, podemos destacar Maria Cândida Moraes e Luiz Síveres.
Tida por intelectuais do mundo inteiro como uma das mais importantes estudiosas da complexidade e da transciplinaridade, além de ser apontada como uma das pioneiras nos pesquisas sobre a ecologia dos saberes e sobre as estratégias do “sentipensar”, Cândida Moraes defende em suas teorias e aplica em suas práticas educativas o princípio de que “é importante aprender a viver/conviver com as diferenças”. Seus livros “O Paradigma Educacional Emergente” e “Educar na Biologia do Amor e da Solidariedade” já atingiram diversas edições e se tornaram leitura obrigatória para quem deseja imiscuir-se pelas veredas das modernas pesquisas educacionais.
Defensora da ideia de que um educador não deve limitar-se à mera transmissão do conhecimento essencial à sua disciplina, a professora da Universidade Católica de Brasília defende a tese de que quem está envolvido com a educação deve preocupar-se também em desenvolver uma “escuta sensível”, capaz de ouvir o silencioso pedido de ajuda de quem muitas vezes não tem voz nem forças para gritar por socorro. Certa de que a educação tem um papel essencial nas relações entre o homem e o planeta, Maria Cândida Moraes diz que é “necessário desenvolver competências e habilidades que nos ajudem a enfrentar os desafios da globalidade, da complexidade da vida e da sustentabilidade ecológica”.
Autor, coautor ou organizador de diversos livros, o filósofo e educador Luiz Síveres parte do princípio de que ética é muito mais que uma palavra ou um conceito abstrato, sendo, sim, uma forma de agir respeitando as diferenças e interagindo com o próximo. Usando um interessante jogo de palavras, o professor comenta que nos dias atuais, “a ética precisa de uma nova ótica”. Amparando-se em pensadores diversos como Hegel, Marx, Kant, Levinas, Habermas, Buber e Morin, Síveres tira lições de todos eles e constroi seu próprio percurso epistemológico, que pode ser uma estrada, uma vereda, um rio ou um mar, pois o conhecimento, “assim como a água, está sempre em movimento e conectado em uma grande e infindável rede.”
Geralmente empregando metáforas, Luiz Síveres preocupa-se também com os rumos da educação, em todos os níveis. Em todos os seus trabalhos, principalmente em seus dois livros mais conhecidos, “A Dimensão Humana no Processo Educacional” e “Universidade: Torre ou sino”, o educador gaúcho utiliza-se de alegorias para expor suas ideias sobre educação e deixar claro que, nos estudos em geral, o papel de um professor é fazer o possível para levar o alunado à reflexão e ao desenvolvimento do senso crítico.
Muito mais que pesquisadores reconhecidos mundialmente ou professores de grande conhecimento e imenso tino didático/pedagógico, esses dois pensadores da educação transmitem a seus alunos e/ou leitores a noção de que, no percurso que compreende o ensino e a aprendizagem o que realmente importa não é a aspereza da casca ou a dureza dos caroços, mas sim o sabor da seiva que emana do maravilhoso fruto chamado conhecimento.
(O Estado do Maranhão, 18/12/2010)