A Invenção das Tradições
HOBSBAWN, Eric. A Invenção das Tradições (Introdução). In: HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (Org.). A Invenção das Tradições. – Tradução de Celina Cardim Cavalcante – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, PP. 9 – 22.
Neste Capítulo, o autor discorre sobre a Invenção das Tradições fazendo algumas observações importantes sobre as tradições genuínas, as tradições inventadas, como também a diferença entre tradições e costumes. O autor cita ainda exemplos extraídos do nosso cotidiano aos quais estamos totalmente adaptados, mas que de forma geral, não nos detemos para fazer observações sobre estas diferenças. O autor inicia o trabalho definindo o que é tradição genuína e tradição inventada. Ele afirma que as tradições genuínas são as tradições que “surgiram e que se tornam difíceis de localizar num período limitado e determinado do tempo”. Ou seja, não é possível determinar o surgimento destas tradições ao longo do tempo, enquanto que na tradição inventada, segundo o autor, prevalece um conjunto de práticas que visam apregoar certos valores e normas comportamentais que determinam uma continuidade em relação ao passado. Nesse aspecto, a tradição inventada seria a continuidade da tradição genuína, porém, com a inserção de modificações impostas ao longo do tempo, alterando desta forma, sua originalidade ou mesmo tradições inventadas sem nenhum referente no passado.
No que se refere ao “costume”, o autor faz uma observação sobre a diferença entre tradição e costume, deixando claro que na tradição, inclusive na tradição inventada, predomina sua característica de invariabilidade. Segundo ele: “O passado real ou forjado a que elas (tradições) se referem impõe práticas fixas (normalmente formalizadas), tais como a repetição” (p. 10). Referindo-se a diferença entre “tradição” e “costume”, é pensamento do autor que isto se baseia no fato de que o costume pode mudar, não impedindo inovações, devendo, no entanto, permanecer compatível ou idêntico ao precedente. Para tornar claro sua explicação entre a diferença concernente à tradição e ao costume, o autor cita o exemplo prático dos juízes. Ele mostra com esse exemplo, que o costume se revela no procedimento do juiz, ou seja, a substância ou ação do magistrado. Enquanto que a tradição se revela na indumentária usada pelos magistrados, como por exemplo, a toga e a peruca . Entre as suas argumentações, o autor alerta para o fato de que, o poder de adaptação e a força das tradições genuínas, não devem ser confundidos com a “invenção de tradições”. Enfatiza ainda que não seja necessário inventar tradições quando velhos usos ainda se conservam. Com essa afirmação, o autor sugere que as tradições inventadas têm seu início, a partir do momento que velhos usos da tradição genuína entram em um processo de degeneração.
O autor conclui seu trabalho citando a experiência de um especialista em idioma flamengo. Segundo ele, o referido estudioso observou que o flamengo ensinado hoje na Bélgica, não é a língua com que as mães e avós de Flandres se dirigiam as crianças. Em suma, é uma “linguagem materna” apenas metaforicamente, não no sentido literal.