GESTÃO ESCOLAR: A QUEM INTERESSA A DESÍDIA?
A omissão é um pecado que se faz não fazendo.
Pe. Antonio Vieira.
A pergunta que intitula esta reflexão parece, a princípio, um tanto estúpida; mas o que, às vezes, parece óbvio, pode não o ser tão assim.
Eu cresci ouvindo ditos populares eivados de conteúdo ideológico de caráter político forjado em preceitos dogmáticos e preconceituosos como, por exemplo: “uma ovelha ruim põe o rebanho a perder”. Certo dia, porém, parei pra refletir e me perguntei: ora, se uma única ovelha convence o rebanho inteiro a se perder, quem, de fato, é o ruim nessa história? A ovelha? A minha conclusão é de que a ovelha ruim pode até ser ruim, mas ainda é mais competente e tem mais personalidade que o resto do rebanho. Do contrário, como o levaria a submissão e o convenceria a segui-la? Com frequência, cito os ditos populares em minhas reflexões porque entendo haver poucas fontes tão ricas em lições para nossas vidas quanto ou mais que estas.
Com exceção dos gestores e seus padrinhos políticos, na rede de ensino público do Amapá ninguém está satisfeito com a Direção das escolas. Certo? Errado. Em tese, sim; mas.... tese é tese; daí a tornar-se lei...
Ora, se ninguém (além dos próprios gestores e seus padrinhos) está satisfeito com o modelo de gestão escolar – a partir da forma (por indicação, ou imposição) como essa é constituída –, por quê não há nenhuma movimentação política coletiva1 da parte dos reclamantes para mudar a situação?! Isso me faz lembrar outra fábula muito conhecida, a dos quatro indivíduos: Alguém, Ninguém, Todo Mundo e Qualquer Um; que, grosso modo, reza: havia uma importante tarefa a ser feita. Todo Mundo sabia que Alguém faria o trabalho que Qualquer Um podia fazer; mas Ninguém o fez. Resultado: Alguém brigou com Todo Mundo porque Ninguém fez o trabalho que Qualquer Um poderia ter feito.
Certa vez, uma vereadora de Laranjal do Jari quisera convencer-me de que o prefeito da cidade era “burro e mau caráter; burro por ter baixa escolaridade e mau caráter por desviar dinheiro público e conseguir manter-se impune”, explicou a Excelentíssima. Tentando fazê-la refletir sobre suas afirmações, retruquei: como pode Vossa Excelência classificá-lo como burro se ele, sendo apenas um e não escolarizado, consegue ludibriar todo o Legislativo que são onze? Quem, de fato, é o burro nessa história? Afinal, vereador vem de verear, que, por sua vez, deriva de ver. E se os 22 olhos não estão vendo as irregularidades que o prefeito está cometendo, como pode ser ele o burro? E como estaria sendo corrupto se não houvesse a quem corromper? Ah, é a tal da ovelha ruim!
O que, a princípio, parecia tão claro, começa a ficar cinzento. Parece que a ovelha ruim já não é tão ruim assim – ou não é a única assim.
Se avaliarmos nossa postura profissional além do verniz do corporativismo hipócrita – com suas consideráveis e justas exceções, é claro –, talvez não desejaremos tão ardentemente que as coisas sejam tornadas diferentes; ou pelo menos entenderemos que o desleixo com a gestão escolar não beneficia, como, a primeira vista, somente a quem dela participa diretamente.
Ou seja, se a gestão escolar fosse exercida com base em critérios meritocráticos e não por fisiologismos políticos, teríamos tantos colegas assinando sua folha de ponto em casa ou mesmo em outras cidades e até fora do Estado? Haveria tanto desvio de função e as secretarias escolares funcionariam sempre à base de improvisos, com apenas um servidor (o secretário) oficialmente lotado neste setor? Seriam mesmo possíveis tantos arranjos, como: perceber vencimentos como servidor efetivo enquanto outro (sem nenhum vínculo) trabalha em meu lugar? Bater o pé e dizer que só vou participar de reunião quando me interessar ou for compatível com o meu outro horário de trabalho? E quanto a assinar um contrato de quarenta horas e trabalhar apenas vinte?
Repetindo: será que é mesmo o nosso íntimo (e sincero) desejo que as coisas andem nos trilhos?
Como?! Se as indagações terminam aqui?! Indagações?! Que indagações?! Quem perguntou alguma coisa?! Eu?!
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1 refiro-me à organização dos professores que tanto reclamam da gestão escolar e dos critérios para a indicação desta.