O PAI DA PEDAGOGIA SOCIAL NO BRASIL

José Neres

Professor e escritor

Em um primeiro contato com a Pedagogia Social, alguém pode pensar que se trata de algo romântico, oriundo de quem deseja salvar o mundo sem atentar para os inúmeros obstáculos que poderão ser encontrados durante o percurso que vai da teoria à prática. No entanto, realizar milagres ou esperar que estes aconteçam, como forma de sanar os problemas detectados em uma comunidade ou em grupo de risco não é o objetivo maior da Pedagogia Social, que é uma ciência e, como tal, tem seus suportes teóricos e metodológicos.

Em termos gerais, a PS está preocupada com o ser humano em sua dimensão de conflito e/ou risco social, buscando formas de compreender e tentar sanar problemas como violência, uso de drogas, delinqüência e demais situações de risco. E embora a nomenclatura possa até ser nova, os problemas são antigos e estão sempre em busca de quem possa pelo menos minimizá-los.

Ao longo de toda a História da humanidade, sempre houve discussões a respeito do papel e da interferência do educador nos aspectos concernentes à formação social das pessoas. Pensadores como Platão, Hegel, Kant, Beccaria e Pestalozzi já demonstravam em seus textos preocupações com o desenvolvimento social da educação, não apenas nos aspectos informativos, mas também no âmbito da formação global do indivíduo. Contudo, é só a partir da segunda metade do século XX que esses estudos ganharam projeção e começaram a ser sistematizados, principalmente com as iniciativas de Paul Natorp e depois com os estudos de Hans Uwe Otto, Bernd Fichtner e Jorge Camors, entre outros pesquisadores que se dedicaram ou se dedicam ao assunto.

No Brasil, os trabalhos relativos à Pedagogia Social são ainda mais recentes. Atualmente, são diversos os estudiosos que se dedicam à compreensão do processo educacional pelo viés social, como é o caso de Antônio Carlos Gomes da Costa, Maria Stela Santos Graciani, Roberto da Silva, João Clemente Souza Neto, Rogério Moura e Maria da Glória Gohn.

Porém quem pode ser considerado o introdutor desses estudos no Brasil é o professor ítalo-brasileiro Geraldo Caliman, que, em 1988, publicou o livro “Desafios, riscos e desvios”, considerado pelos estudiosos no assunto como o marco inicial da Pedagogia Social em terras brasileiras.

Geraldo Caliman, atualmente professor da Universidade Católica de Brasília, é um homem que dedicou sua vida aos estudos, à Igreja e às causas sociais. Graduou-se em Pedagogia (pela Faculdade Dom Bosco) e em Teologia (pela PUC-MG), depois foi para a Itália, onde fez curso de especialização em Filosofia, mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universitá Pontificia Salesiana, instituição na qual ocupou vários cargos docentes e administrativos. Mas a grande quantidade de títulos não tornou o professor um homem que se limitasse a transmitir seus vastos conhecimentos em sala de aula e se pôs em campo, trabalhando diretamente com o público que era objeto de suas pesquisas, ou seja, com pessoas em situação de risco social.

Ao voltar para o Brasil, Caliman percebeu que o País ainda não havia despertado para o estudo de algumas situações de risco em que jovens e adultos estavam envolvidos. Começou então a produzir trabalhos voltados para a divulgação e sistematização dos elementos norteadores da PS, estudos estes já bastante avançados na Europa e na América do Norte. Incompreendido a princípio, pois suas concepções iam de encontro a diversos dogmas arraigados na formação de muitos educadores que ainda não conheciam essa linha de estudo, o professor perseverou e conseguiu arregimentar alguns seguidores que disseminaram suas ideias pelo país.

Unindo teoria à prática, o pesquisador elaborou vários projetos e comandou diversas pesquisas voltadas para a compreensão e possível solução de alguns problemas como toxicodependência, jovens em situação de risco, marginalização, trabalho infanto-juvenil, formação de gangues, entre outros temas de grande relevância social. Para atingir um público formador de opinião e que disseminasse as novas teorias, o pesquisador publicou diversos artigos e livros, como, por exemplo, “Os Paradigmas da exclusão social” e “Desvio social e delinquência juvenil”, alguns de seus trabalhos mais recentes.

Hoje, cerca de duas décadas depois de aportar no Brasil, a Pedagogia Social começa a ganhar reforço de outros pesquisadores que veem nesse estudo um caminho para diminuir o incômodo fosso que exclui uma parcela importante da sociedade brasileira. E Geraldo Caliman é visto não apenas com um pioneiro, mas como o verdadeiro pai dessa tendência no Brasil.

José Neres
Enviado por José Neres em 17/11/2010
Código do texto: T2619828