A DOUTRINA DO ACONSELHAMENTO

É inútil rasgar a terra com enormes rodovias, construir gigantescas pontes, perfurar os mais altos montes, semear a terra com fábricas, com as mais sofisticadas máquinas se as pessoas não conseguem a paz interior e a harmonia com os seus semelhantes.

De todas as ciências o estudo do ser humano ainda permanece o mais importante. De nada vale o conhecimento de todas as coisas se não aprendemos os caminhos do auto-conhecimento. As ciências que mais contribuem para penetrar nosso mundo interior e social são a sociologia, a psicologia e a filosofia. O aprofundamento nestes campos do conhecimento nos leva a uma melhor aproximação conosco mesmos e com os nossos semelhantes.

A psicologia nos ensina que o ser humano não se resume em racionalidade. Agitam-se nele também as energias de sua natureza física, emocional, espiritual e animal. Possuímos instintos e emoções que, muitas vezes, dormem em nosso subconsciente, para irromperem subitamente na realidade consciente.

A personalidade de alguém somente estará bem desenvolvida quando souber conservar o equilíbrio entre suas dimensões “animais” e “espirituais” . Quando não houver harmonia entre estas duas facetas da personalidade humana aparecerão desequilíbrios psíquicos. E para preservarmos a paz interna necessitamos agir de acordo com nossa dinâmica existencial. Nem sempre isto é fácil, pois em muitas ocasiões permanecemos na dúvida quanto à ação mais conveniente. E agir equivocadamente, muitas vezes, terá consequências desagradáveis no futuro. Dali a pergunta, como se decidir para ações que no futuro não necessitam de arrependimentos ou resultem em sentimentos de culpa?

Com a finalidade de evitar aborrecimentos na vida e construirmos uma vida mais prazerosa, a psicologia ensina que, de quando em vez, necessitamos de aconselhamentos. E para não corrermos o risco de ouvir conselhos de “conselheiros amadores” a psicologia desenvolveu uma metodologia científica de aconselhamento. Com esta técnica de aconselhamento podem ser beneficiados especialmente os jovens, psicologicamente mais inseguros para tomarem decisões para toda a sua vida. Em função desta realidade, será proveitoso ao jovem em geral, mas também ao adulto, que encontre pessoas com as quais possa dialogar francamente. No período escolar os conselheiros mais naturais deveriam ser os professores. Especialmente aqueles que se prepararam para isto. . Mas nem todos os mestres têm habilidade para isto. Também os pais deveriam ser conselheiros para os filhos. Se os pais se dispusessem a ouvir e conservar com seus filhos, as famílias estariam mais protegidas contra sua dissolução. Se as famílias e as escolhas praticarem um aconselhamento adequado da juventude, com certeza, as novas gerações encontrarão com mais acerto sua vocação, e assumirão a vida com mais responsabilidade.

Para que o jovem escolha com mais acerto seu modo de vida, é de capital importância o aconselhamento. Onde existir um aconselhamento adequado haverá menos casos de desajustamento pessoal e social. Os mestres nas escolas deveriam se preocupar mais com o desenvolvimento integral das potencialidades de seus alunos. Mas o ritmo de vida em nosso tempo faz com que muitos professores apenas cumpram as suas tarefas em sala de aula, e não possuam tempo pra repararem nos conflitos existenciais de seus estudantes. O rendimento de muitos estudantes sofre por causa de suas angústias e conflitos internos. E uma situação de conflito sempre está acompanhada de sofrimento físico ou psíquico. É certo, estes estados dolorosos fazem parte do desenvolvimento de cada ser humano. E a vida ensina que muitos sofrimentos se convertem em bem, quando bem equacionados. Uma pessoa que nunca sofreu na vida, muitas vezes, é psiquicamente subdesenvolvida. O sofrimento absorvido e superado enriquece o caráter. Mas, o jovem, para equacionar adequadamente os sofrimentos da vida, precisa de aconselhamentos serenos de pessoas mais experientes. Com a presença de tais “conselheiros” a insegurança com que se debatem muitos jovens em nossa época será mais facilmente superada. Por isto, a ciência do aconselhamento psicológico poderá ser um auxílio substancial para que cada um encontre o caminho do equilíbrio entre os instintos, as emoções e a espiritualidade no decorrer de sua existência.

Inácio Strieder é professor de filosofia – Recife/PE