Inteligência Espiritual

Mais do que talento ou vocação, é vital se ter um propósito

De vida que nos direcione e impulsione além de nossas razões e emoções. Alta qualidade, baixo preço,certificações e líderes desempenhando papéis que busquem apenas a sobrevivência das organizações não são mais os requisitos suficientes para um profissional ou uma organização

competitiva. O mercado de trabalho já sabe, no mundo inteiro, que o ambiente interno e externo das empresas deve garantir a harmonia entre seus atores sociais: líderes, colaboradores, prestadores de serviço e clientes. Em alguns casos, falta praticar.

Mais do que descrições de funções ou cargos, a concepção e a vivência daquilo que se entende por “inteligência” evoluem em velocidade espantosa. Por isso mesmo, hoje ganha força o conceito e a prática da Inteligência Espiritual (IE), acima da Intelectual ou da Emocional, ou de muitas outras inteligências somadas.

Para esclarecer do que se trata e o quanto esta nova competência irá influir no mercado de trabalho buscamos informações com duas das mais conceituadas consultoras neste segmento:

Helena Ribeiro, fundadora e Presidente da Razão Humana Consultoria (Campinas- SP) é graduada em Administração e pós-graduada em Gestão Estratégia Global de Negócios. Aplica cursos de Inteligência Espiritual em organizações de diversos portes; enquanto Leontina

Rita Trentin (São Bernardo do Campo– SP), Diretora do Instituto Atlântida,também possui carreira em Administração, com vasta trajetória de trabalhos organizacionais e educacionais no campo espiritual. Ambas são escritoras e acumulam mais de duas décadas de experiência no tema.

“Muitas empresas se destroem devido à desarmonia entre administradores, colaboradores e clientes; pois já sabemos que tudo o que jogamos ao universo volta para nós potencializado, ou seja, atraímos todo o estado de vibração de energia em que nos

encontramos; sendo assim, é preciso haver um somatório positivo de entes pensantes da empresa que,em harmonia, encontram sucesso”,

assegura Leontina Trentin.

Segundo Helena Ribeiro, anos de pesquisas demonstraram que no âmbito profissional nem sempre os mais qualificados intelectualmente ou mesmo emocionalmente eram os mais competentes para exercerem determinadas funções.

A descoberta efetiva de que a dimensão espiritual impacta na ação

humana aconteceu ainda nos anos 90, quando o neuropsicólogo Michael Persinger e o neurologista Vilanu Ramachandran identificaram, no cérebro, um ponto que aciona a necessidade

humana na busca do “sentido da vida”. Através de escaners, os

cientistas mostraram que a área se iluminava toda vez que os pacientes discutiam temas espirituais. Segundo os pesquisadores “o Ponto de Deus”,nome dado a esta região, mostra que o cérebro evoluiu para fazer perguntas existenciais, em busca de sentidos

e valores mais amplos de vida. Quase dez anos mais tarde, a física e filósofa americana Danah Zohar, em parceria com o psiquiatra Ian Marshal, publicou o livro “QS – Inteligência Espiritual”. Eles

asseguram que, o QS torna o ser humano uma pessoa mais efetiva.

Ter ou desenvolver inteligência espiritual aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. Segundo a Dra. Zohar, há uma profunda relação entre a crise da sociedade moderna e o baixo desenvolvimento da nossa inteligência espiritual.

“Usar a inteligência espiritual é acionar a intuição para colocar em

nossas experiências e ações um sentido de valor norteado por valores morais”,define Helena Ribeiro. profissional do futuro como predominantemente espiritual. “Um grande profissional, administrador, colaborador,deverá abraçar grupos de ideais

humanizados e galgará valores incomensuráveis, justamente porque saberão entender as conexões da vida e os seus porquês”, justifica.

E Helena Ribeiro reforça esta tendência ao afirmar que as pessoas espiritualizadas (com alto grau de Inteligência Espiritual) respondem ao perfil mais esperado do mercado: profissionais capazes de inspirar e influenciar os outros para a ação. “Pesquisadores

mundiais sobre o tema garantem que pessoas com alto nível de inteligência espiritual são vibrantes, refletem seu Ayrton Senna, Princesa Lady Di e o sociólogo Betinho são apenas alguns

entre tantos que souberam fazer a diferença não apenas a seu favor, mas,sobretudo, em benefício do coletivo.

Mas como identificar no dia a dia, em meio a tanta gente agindo “de forma politicamente correta”, um profissional naturalmente inteligente espiritualmente?

Em geral, o profissional com esta competência consolidada sabe ouvir com atenção e respeito, se relaciona muito bem, respeita qualquer respeita qualquer um independente de hierarquia, sabe conciliar com justiça, fala sem soltar farpas, opina para ajudar, liderasem ofensas, escuta e analisa críticas e não pré-julga, é idealista e sabe.

As especialistas reforçam a tese de que a Inteligência Espiritual traz inúmeros diferenciais para o dia a dia de trabalho em que muitas pessoas, por vezes, nem se cumprimentam direito.

“Quando a pessoa busca a espiritualidade, equilibra-se naturalmente,

isto é o que faz com que saiba se relacionar bem com todos, saia-se bem em todas as situações de pressão e transponha obstáculos com menos esforço”, esclarece Leontina. Ela define o maior diferencial sustentável do entusiasmo e desenvolvem grande capacidade de estabelecer conexão emocional com os outros, utilizando

diariamente suas habilidades com empatia, assertividade e autoconfiança”, informa a consultora.

Não é muito difícil citarmos, nos mais diversos segmentos da atividade humana, exemplos de grandes aplicadores da Inteligência Espiritual ao longo da história. Mahatma Gandhi,Nelson Mandela, Dalai Lama, Maria Tereza de Calcutá, Chico Xavier, como gerar e aproveitar oportunidades diante da adversidade, visualiza o

todo e não as partes, segue seu instinto,tem compaixão pelos outros equestiona o mundo com freqüência.

O próprio conceito de Liderança Servidora tem ampla ligação com o

de Inteligência Espiritual (IE). Cresce em todos os mercados a visão de que “o verdadeiro líder é aquele que consegue fazer ou dar suporte para que cada pessoa liderada por ele alcance

felicidade no seu dia a dia e tenha sucesso na lei da ética, da moral e do amor”.

Destacamos aqui quatro competências que evidenciam a boa prática de Inteligência Espiritual (IE) descritas por Helena Ribeiro que aborda os seguintes conceitos: autoestima, autocrítica,resiliência e trabalho em equipe. A consultora ressalta a autoestima como poderosa

competência que influencia asdemais. “O sentimento que uma pessoa

tem em relação a ela mesma transforma uma vida, pois os outros sempre tratam você como você se trata”, explica ela ao garantir que ter a consciência de seu valor pessoal nem sempre é tão simples.

“Precisamos trabalhar a autoestima constantemente, pois quando ela está baixa, acreditamos não ser capazes e ficamos inseguros; pois, no mundo dos negócios, os líderes querem trabalhar com pessoas que saibam o que dizem, que não hesitam e que confiam em si

mesmas”, argumenta. Por isso mesmo, a capacidade de desenvolver a autocrítica é outro diferencial do profissional

mais procurado pelas empresas. Como já dizia Bernard Shaw: “O erudito se vale dos seus conhecimentos para criticar os outros, enquanto o sábio critica a si mesmo”.

Afinal a somatória das competências fruto da presença simultânea de

várias inteligências – como é característico da IE – permite que o profissional se aprimore mesmo diante de crises e “tempestades”. “Desenvolver IE em alto nível também inclui a capacidade

de se manter otimista, de receber e dar apoio aos colegas de

trabalho mesmo quando tudo está indefinido, valorizando o trabalho em equipe com conexões racionais, emocionais e espirituais, cumplicidade e harmonia independente da situação”,define Helena.

Espiritualidade gera predicados

na Votorantim Cimentos

Ser inteligente espiritualmente em trabalhos de equipe combina com

pessoas proativas, que procurem se colocar no lugar das outras. Precisamente esta era uma das necessidades da Votorantim Cimentos – divisão da holding Votorantim que conta com sete fábricas no Nordeste e um total de 850 funcionários – ao contratar os serviços da Razão Humana.

“Em nosso segmento o fator humano é cada vez mais decisivo; as

pessoas precisam estar engajadas; ter habilidade técnica e os cursos

necessários não é mais suficiente”,revela Elísio Alcântara, Gerente Geral de Operações Norte/Nordeste da Votorantim Cimentos. Entre os funcionários de fábrica havia sempre muito boa vontade, mas era preciso reforçar, por exemplo, a integração entre as áreas de manutenção e operação, situação atingida por meio de vários trabalhos vivenciais para que cada um pudesse respeitar melhor o espaço do outro.

Na Votorantim Cimentos todos os profissionais são técnicos, com pelo

menos o 2º grau completo. Cada umdeles recebe por ano pelo menos cercade 100 horas de treinamento. Mas este perfil não preenchia as lacunas na questão comportamental. Um ano intenso de trabalho para implementação de novas práticas foi decisivo.

“Por mais simples que pareça, faz muita diferença uma pausa em nossa rotina para nos colocarmos no lugar do outro e entendermos sua situação; essa mudança de postura ampliou muito nossa produtividade”, destaca Ivanilde Rodrigues Gomes, gestora e

Analista de Desenvolvimento Humano e Organizacional da unidade Sobral (CE) / Votorantim Cimentos.

Outros pontos cruciais desenvolvidos pelas práticas espirituais foram

os da Humildade, Iniciativa e Empreendedorismo.

“Os funcionários de chão de fábrica tinha uma dependência muito grande dos gestores, baixa autoestima e pouca iniciativa;

no momento em que levamos, por exemplo, a convivência familiar ao

ambiente de trabalho mexemos com eles e revertemos totalmente esse quadro, hoje há intensa humildade entre as pessoas e ampla confiança delas consigo mesmas para empreender

ideias”, comemora Ivanilde ao mesmo tempo em que lembra do

grande desafio superado que foi cultural: pessoas com perfil muito operacional tiveram certa resistência em aceitar mudanças.

O trabalho de Inteligência Espiritual começa por detectar no ambiente

da empresa as necessidades dos colaboradores e líderes e pode incluir, em uma etapa posterior, a aplicação de cursos, palestras e ações de integração. De qualquer forma, o ser inteligente espiritualmente deve estar se fazendo e respondendo constantemente a pergunta: qual contribuição eu posso dar ao mundo?

Aliás, trata-se de uma pergunta cuja resposta não é única e pode

mudar o tempo todo.

L

10 dicas para desenvolver e manter Inteligência Espiritual no estudo a

Por Leontina Trentin

• Coloque-se no lugar do outro e pense antes de falar e agir. Esta atitude acalma-nos e facilita conexões extra-sensoriais que dão suporte ao entendimento e discernimento para a tomada de decisões. Antes de revidar ou criticar, analise e pondere, assim a decisão e a ação serão sempre certeiras.

• Seja feliz e isso é um estado de espírito interior e não do meio exterior causado por algo ou alguém; basta nos fixarmos no positivo e não nos problemas.

• Não reclame! Essa postura gera “sujeira espiritual” que compromete a nós e ao ambiente de trabalho.

• Busque novos e sérios conhecimentos. É prudente evitar tudo que nos remeta a tragédias, violências. Este tipo de informação nos coloca em uma faixa vibratória negativa e, obviamente, no desequilíbrio.

• Trabalhe com prazer e sem demasia. O aproveitamento do tempo com equilíbrio é que nos torna produtivos e bem-sucedidos. Descansar, estar com a família, relaxar e fazer o que se gosta, refaz energias e renova.

• Seja eficaz e eficiente: cada assunto deve ser tratado por grau de importância. Resolver os assuntos por prioridade abre condições para conciliar muitos afazeres ao mesmo tempo, todos de forma bem sucedida.

• Um pequeno sorriso, aperto de mão, agradecimento, elogio, torna nossa vida mais prazerosa. Assim seremos alavancados para as melhorias constantes e todos à nossa volta serão envolvidos.

• Analise de forma criteriosa o que ouve e jogue fora o que não é construtivo. Comentários mal-intencionados chegam até a acabar com empresas e equipes.

• Humildade: muitos se acham importantes e insubstituíveis. É o início da queda. O que realmente importa é quão humano somos, o respeito começa aí.

• Comunique-se: não deixe que o outro fale por você, que se alastre o que não é verdade. Respeite o outro e o que tiver que ser dito que seja com palavras calmas e amenas envolvendo positivamente quem as recebe.

Helena Ribeiro
Enviado por Helena Ribeiro em 05/11/2010
Reeditado em 25/04/2012
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