MÁ EDUCAÇÃO
Notícia da semana em curso, em famoso periódico, dá conta de uma entrevista com famosa top model. A mesma, de rara beleza, relata que ao tentar abandonar a carreira de modelo em Nova York, isso aos 13 ou 14 anos, ouviu da mãe: - Filha, no Brasil, você só terá a chance de ser garçonete. Você quer mesmo isto para a sua via? Temerosa de "ficar em pé o dia inteiro" (sic) decidiu tentar mais um pouco.
O que está em pauta: hoje, aos invés dos pais mandarem seus filhos à escola, incentiva-os a ganharem dinheiro rápido e da maneira mais fácil possível. Sem querer, absolutamente, desqualificar a profissão de top-model, carreira digna e dificil como outra qualquer.
Permito-me, para ilustrar este artigo, trazer à tona o fabuloso livro de Guy Debord, que nos esclarece em sua "Sociedade do Espetáculo":
"A vedete do espetáculo, a representação espetacular
do homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um
papel possível, concentra pois essa banalidade. A condi
ção do "vivido aparente", o objeto de identificação com
a vida aparente sem profundidade, que deve compen-
sar o estilhaçamento das especializações produtivas
de fato vividas". (p.40)
Neste livro, Guy Debord mostra-nos as especificidades do Espetáculo, da sociedade consumista, que impõe seus produtos a qualquer custo, mesmo que não precisemos, absolutamente, deles.
Voltando à modelo, parte também deste espetáculo, penso no papel "tão subsidiário" em que virou hoje a educação. A tarefa de nós, pais, é mandar nossos filhos à escola, e mais, não achar que a escola irá educá-los, pois a educação cabe à família, núcleo central da sociedade. A escola é formadora dos "laços" entre a familia, ela própria (a escola) e a sociedade, que deve estar apta a amparar este indivíduo, assegurando-lhe trabalho, garantias de dignidade e educação de qualidade.
Ocorreu um "boom" de evasão escolar tão grande nas últimas décadas, e a família ficou perdida, pois com os pais tendo que ir para o mercado de trabalho, delegou o papel de educar, quase que exclusivamente à escola. Com a precariedade do sistema público de ensino, e a baixa remuneração dos docentes, cada um faz a sua parte precariamente: a escola recebe o aluno, o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende, ou seja, um velho padrão perpetuado "ad infinitum". Uma pena.
Que possamos orientar nossos filhos a persistirem no conhecimento, único bem indissolúvel, perpétuo e "não roubável", por assim dizer.
Que possamos incentivá-los a irem à escola, pelo menos, até que concluam o ensino médio, pois "irem à universidade ou não" será tarefa deles, de escolha, pois já estarão aptos a decidir. Mas, se ao invés disso, se agirmos "como a mãe da modelo", eles dirão simplesmente: "não, vou tentar mais um pouco aqui", e amargaremos a culpa de não lhes ter dado escolhas possíveis. A boa educação forma cidadãos aptos a tirar suas próprias conclusões, e é por isto mesmo que as escolas estão tão vilipendiadas hoje, pois quem pensa, decide melhor sobre seu destino e seu VOTO.