O ATO DE ESCREVER.
Há dias venho pensando em escrever este texto que me foi sugerido. No entanto, dois fatores me tem afastado desta incumbência que se me colocou. O primeiro fator é a oportunidade de cumpri-la. Percebo os dias passarem-se, as horas preencherem-nos, os minutos assentarem-se aos milhares, mas não chega a hora mágica. O segundo é o fator prazer, que a meu ver seria o fator primordial e absolutamente necessário do exercício do texto. Escrever um texto é algo mais complexo do que articular pensamentos em língua escrita, porém para poucos é algo tão mais rico e simples do que aglomerar milhões de letrinhas a respeito de um tema qualquer que se lhe impingiu.
O prazer do texto está mais na tessitura emotiva do tema abordado do que no próprio fazer-se do texto. Talvez a maior dificuldade em escrever esteja na intimidade, na promiscuidade mesma que se permitam autor e texto no embate prazeroso com um leitor qualquer.
Toda produção de texto exige uma complesa elaboração mental de conhecimentos necessários e precedentes ao ato de escrever. Essa eleboração mental é a tentativa conjugada que o autor realiza em tempo reduzidíssimo, entre o que se pode dizer sobre o tema proposto( o que sabe ) e as estruturas textuais já internalizadas ( a forma de compor o texto ).
Dessa tentativa conjugada é que surge a predisposição ou indisposição ao ato de escrever. É nesse espaço reduzido de tempo que se avalia suas possibilidades de sucesso frente ao desafio. É o instante mágico em que acessamos e selecionamos uma porção de nossos conhecimentos pertinentes ao proposto, estruturamo-los na tentativa mental de se colocar como vencedor do desafio.
È mágico por ser o instante em que pensamos, criamos hipóteses, refutamo-las, ou as confirmamos, colocando em evidência nossos saberes diversos processados em estruturas lógicas internalizadas...mágico é a realização de variadíssimas operações mentais em frações ínfimas de segundos, mágico é o computar realizado.
Se há alguma dificuldade em escrever ou uma dificuldade menor, como querem alguns, talvez seja ela a articulação dos pensamentos em língua escrita sobre um assunto sugerido, em um período de tempo tão exíguo quanto este em que me exercito, ao apagar das luzes deste quinta-feira friorenta, em véspera da entrega deste meu texto.
Áliás, menores ou maiores são respectivamente as satisfações tiradas no contato primeiro com o tema, ou no envolver-se prazeroso do desenvolvimento daquele. A língua é só mais um instrumento para a efetivação do outro, do ato de escrever.