Um show de intolerância
Na verdade não foi tanto assim.
O título deste foi escrito só para atrair sua atenção a este comentário, embora pudesse ter sido mesmo o show de intolerância que o título referenda o que ocorreu a alguns anos num encontro de formação continuada das professoras (e poucos professores) de Artes da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa – as quais, por razões várias (há exemplo do que acontece em outras cidades de outros Estados do Brasil), tiveram e tem baixa freqüência nos encontros de atualizações de professores.
Disseram que “peguei pesado” ao desabafar as razões pelas quais sempre se reclama que “não há respeito ao professor de Artes por parte das direções das escolas”, tanto quanto não parece haver pela sociedade como um todo.
Em meu impulsivo desabafo, antes de debulhar as razões pelas quais tais desrespeitos acontecem, preveni aos meus queridos e queridas ouvintes (queridos mesmo) que não pretendia estragar o fim de semana deles, mas que, infelizmente, seria o que poderia acontecer depois que começasse a abrir a boca.
E então, compartilhando suas frustrações (nem sempre explicitadas), lhes revelei o que sinto e sei sobre a trajetória de formações, ou melhor, de deformações e sofrimentos de considerável parte de nossas professoras e professores de Artes – entre os quais incluo os da Rede Municipal, Estadual ou particular de ensino da capital paraibana, tanto quanto de outras regiões do país e do mundo.
E já que falávamos sobre formações, não deixei de responsabilizar também os que fazem a Universidade por todas as deficiências vigentes, sem esquecer de responsabilizar nossos professores e professoras de Artes por certos níveis de comodismos e desinteresses, quer razoavelmente justificáveis quer não, a provocá-los toda baixa auto-estima vigente e toda explícita incompetência.
A despeito do que possam ainda julgar sobre a ausência de um diploma a atestar minha formação artística superior, convivi com as artes e com partes da Universidade Federal da Paraíba – e seus problemas – desde criança, tendo sido meu pai um dos artistas professores-fundadores da instituição que leva o nome de seu amigo e mentor, o Prof. Virgínius da Gama e Melo, também um de seus fundadores – tanto quanto do extinto Curso de Educação Artística da UFPB. E disse “partes da Universidade” porque, naturalmente, não conheci todas as suas instâncias, mas tão somente aquelas ligadas ao Campus I (João Pessoa) e a área de Humanidades, entre poucos representantes professores, colegas de meu pai, que lidam com as ciências ditas “exatas” – que, como o desprestigiado Departamento de Artes, a despeito da elogiada “boa formação” de seus estudantes, também sofriam, como ainda sofrem, carências pessoais e técnico-estruturais ao pleno funcionamento dos cursos que oferecem, sem a superação das quais nada pode funcionar a contento.
Hoje, graças a desabafos como os meus, expressos de todas as formas por décadas, vindos de todas as partes do Brasil, o ex-curso de Educação Artística da UFPB foi revisado e ampliado em suas ofertas de maiores conhecimentos a uma melhor formação de futuros professores e professoras de Artes a atuações em nível fundamental e médio – uma vez que, a nível superior, ainda não oferece especializações, mestrados ou doutorados na área. Apesar da permanência de certas deficiências remanescentes na UFPB (como de resto ainda em todas as instâncias do Poder Público, no que diz respeito a ideais infra-estruturas), meu pai teria gostado das mudanças atualmente propostas ao Curso que ele ajudou a criar. Porque graças ao empenho do Prof. Dr. Erinaldo Alves do Nascimento – entre outros de seus dedicados e bem-intencionados colegas professores universitários – a partir deste ano, a educação artística será desenvolvida em cursos que terão a intenção de melhor formar professores e professoras, especialistas nas Artes Visuais, na Música e nas Artes Cênicas, oferecendo ampliada grade curricular àqueles que se interessam pelo desenvolvimento de conhecimentos, expressões e relações artísticas – tanto as que outros tiveram com o mundo quanto aquelas que devem ser ampliadas à instauração de melhores consciências críticas no presente e no futuro.
No que diz respeito à oferta de um substancial curso de Dança e suas técnicas – cuja competência o Prof. Dr. Guilherme Shculze é referência primeira na UFPB – ainda não se desenvolveu o bastante para atrair turmas específicas de potenciais bailarinos-professores na Paraíba, estando a critério da Coordenação de Educação Física na Rede Municipal de Ensino a formação de grupos de Dança, no âmbito das escolas, que se apresentam em eventos escolares, ou à participação de festividades em suas comunidades e na cidade.
Naquela reunião com as professoras e poucos professores de Artes da Rede Municipal de Ensino, ocorrida no auditório do Passo Municipal, como dizia, tive que referendar a trajetória irresponsável de todas as instâncias da administração da formação artística do contingente de candidatos pouco ou nada familiarizados com os universos das artes, tanto em seus aspectos teóricos – que se iniciaram no fértil Oriente, passando pela filosofia clássica e se expandiram até o pensamento de estetas da atualidade, como Umberto Eco e George Steiner, entre outros – quanto nas vivências com exercícios de artes plásticas, Música, Teatro, Dança ou na simples apreciação de obras alheias.
E tudo pode ser entendido se olharmos friamente para o fato de que, no Ensino Fundamental e Médio, há anos o ensino de Artes nas escolas vem perdendo para disciplinas que, segundo muitos, “podem proporcionar melhores futuros”, estruturadas sob a égide de livros didáticos, e outros equipamentos indispensáveis as suas metodologias de ensino, que, por princípios, em sua ampla utilização, são instrumentos imprescindíveis ao auxílio didático-pedagógico de outras quaisquer disciplinas além de Artes, sendo esta substancialmente importante ao auxílio do pleno desenvolvimento Humano.