Quem Interpreta é o Leitor
Quem Interpreta é o Leitor
Autora: Solange Gomes da Fonseca
Ao despertar do leitor para o imaginário poético ou literário de uma obra, e para a sua participação enquanto “autor” no momento da interpretação; este texto aborda o aspecto prático do ato de interpretar e retratar a importância de se saber chegar às entrelinhas fomentando a consciência crítica na construção de um leitor em potencial.
Ao interpretar o universo de cada autor e obra, assim como, a leitura de uma notícia; o leitor interage com o texto e deixa sua posição passiva de receptor da mensagem passando a construtor de novos saberes.
É nesta interação, que entra o papel do leitor na recriação do texto, que tratarei aqui como interpretação do leitor.
Ser capaz de interpretar um texto é intitular-se ao seu universo imortal. Pois, de mero leitor passa-se a criador no instante em que internaliza o objeto lido e digere para transformá-lo, logo em seguinte, repleto de si mesmo.
O leitor capaz de interpretar uma obra, não só o objeto lido, mas o mundo que se esconde por trás de cada termo, de cada palavra é comparável à ação criadora. Gerando assim, uma nova idéia, um novo sentido, uma nova vida.
Ao interpretar uma obra ou um texto, o leitor depara-se, freqüentemente, com o desafio (ou prazer) da interpretação, por isso ele é um leitor especial, porque não lida com uma única e específica verdade, mas com várias possibilidades de construção da assim chamada “verdade do texto”, ou, tecnicamente, “verdade poética” ou “verdade literária”.
O autor ao criar a obra literária deixa de ser simples criatura para torna-se o criador. A Literatura tem esse “dom” de elevar homens à condição divina de Criador!!!
O autor é o criador da sua obra, dando vida ao que antes era só imaginação. Mas, depois da obra feita ela percorre uma trajetória que irá rumo a sua reformulação. E, passa a fazer parte da interpretação do leitor, que recebe a mensagem que o autor transmitiu ao escrever a obra, e faz sua própria interpretação, participando diretamente, do ato da criação da obra.
O processo de interpretação ou de descoberta do sentido do texto possui três elementos fundamentais: o autor, o texto e o leitor.
O autor escreve um texto, o leitor lê e interpreta. Porém, qual dos três é fundamento último de determinação do sentido???
A história da hermenêutica mostrou que a modernidade abraçou o autor e negou o texto como fundamento último de determinação do sentido. Todavia, com o passar do tempo, descobriu que Schleiemacher e Dilthey estavam equivocados, o sentido da interpretação não poder ser determinado pelo autor. Hoje, mais uma vez o texto é deixado de lado. E, então, a bola da vez ficou com o leitor.
O texto é para nós a tentativa desesperada de nos reconhecer como imortal.A obra literária transgride o tempo. Através, dele, hoje, temos acesso à natureza do homem do século passado ou de qualquer outra época. Conhecemos os defeitos, as paixões, os amores, os medos, os pensamentos que se eternizaram na história da Literatura.
É essa visão personificada da palavra que poderíamos transmitir ao leitor, para que ele se aproxime do universo da palavra como quem se aproxima de si mesmo. Podemos criar essa identificação, como a palavra do espelho do “eu” e/ou do “nós”.
A interpretação crítica de um texto constitui uma atividade na qual o leitor desempenha o papel principal. O texto esta inerte até que o leitor/interprete entra em contato com ele e constrói uma rede de significação elaborada sobre os campos referenciais construídos pelo autor.
De fato a interpretação (seja do que for: um texto, uma obra, um filme, uma musica, um conto, uma poesia, um poema), pressupõe, que exige uma atitude empenhada daquele que se propõe interpretá-lo. Todavia, há sempre o problema de o interprete ter uma determinada pré-compreensão, derivadas das suas experiências/conhecimentos. E aí, reside o grande drama/dilema do processo hermenéutico/interpretativo: acaso conseguirá o leitor desligar-se dessa pré-compreensão de modo a lograr obter um resultado justo, imparcial e adequado? Bem, nesse caso, creio que a coerência lógica é o ponto essencial. Desde que o resultado obtido seja argumentativamente viável, e desde que racionalmente fundamentado a persuadir o leitor.
E para que o texto seja compreendido no sentido literal da importância de quem interpreta a obra, é o leitor, lançamos mão da Análise Literária, que é uma disciplina auxiliar da Teoria da Literatura, apresentadas nos cursos de Letras, que tem por objetivo principal analisar e avaliar o texto literário, através do recurso a determinados métodos e disciplinas, como a História Literária, a Sociologia da Literatura, a Crítica Psicanalítica ou a Análise Textual.
Na abordagem da obra, o leitor/crítico colocado numa posteridade relativamente ao texto, assume-se como um leitor dotado de conhecimentos específicos que lhe permitem desenvolver uma atividade sistemática de decodificação e avaliação estética do discurso. Neste processo de desmontagem do feixe de elementos constituídos do autor, o leitor formula muitas vezes uma interpretação do texto, onde a funcionalidade destes elementos constitutivos é explicada à “luz” de um sentido globalizado.
Finalizo o texto com uma simples, porém profunda e simbólica reflexão da seguinte frase:
... “Assim o livro e o prazer. Viver, como escreveu Guimarães Rosa, é muito perigoso. A leitura também. Mas só vale a pena viver o que é arriscado...”