EDUCAÇÃO EM CHEQUE

Hoje se discute muito sobre a qualidade da educação no Brasil.

Como professora, revejo todo meu caminho escolar, o que me foi ensinado, o que aprendi sozinha, lendo muito, foi o que me salvou.

Da terceira série, ao segundo grau, estudei em escola pública, em Miguel Couto, (Nova Iguaçu). Terminei o curso de formação de professores, aos vinte anos de idade, já era atriz profissional, tinha o DRT, na carteira de trabalho, mas a minha formação até então, fora toda com trabalhos amadores e pequenos cursos livres, eu queria ser uma atriz completa, queria dançar, cantar, ter uma voz impostada, e um bom conhecimento teórico, fui a UNIRIO, tentar o vestibular de artes cênica, eu tinha talento, vocação, sabia que ia passar. Qual não foi minha surpresa quando diante de uma banca de gente cheia de ranço, pedantismo, me vi avaliada da forma mais idiota possível, uma prova escrita que não avaliava nada, me lembro de uma pergunta que até hoje me faz rir.

O que é uma orquestra de câmera? pensei muito e tentando acertar dentro do meu pequeno conhecimento, respondi, são várias câmeras de tv. é claro que fui reprovada. Mas lá na minha escola, nunca ouvi nada sobre nenhum tipo de orquestra, não ia a recitais de música erudita...

Mas os alunos das boas escolas particulares, responderam certo e entraram em uma faculdade que o maior requisito era a vocação, conheci alguns desses alunos, que abandonaram a graduação logo no primeiro período.

A resposta correta:é uma orquestra é formada, apenas, por instrumentos de corda. Aprendi isso quando estudei teoria musical e canto lírico, na Escola Municipal de Música Villa-Lobos.

Fiquei sabendo que essa faculdade, não tinha dança, não tinha canto, pra mim não servia. Tratei de estudar tudo isso nos melhores lugares e finalmente conheci Heitor Villa-Lobos, nosso gênio maior da música no Brasil, na minha opinião, como alguém termina o ensino médio em formação de professores e não escreve uma linha sobre ele? ou Monteiro Lobato?

Em uma cidade lá no fim da Europa, as crianças conhece Villa-Lobos, isso é o que separa a educação do primeiro mundo, dessa coisa que temos aqui, que não motiva ninguém, que não valoriza os nossos.

Levei um um susto, quando preparando um seminário sobre Angola, descobri uma África, de lutas sangrentas e covarde, de homens bravos, inteligentes, poetas incríveis, um primeiro presidente poeta, médico...

Um encanto de riqueza e bravura de um povo que vive aqui, sem saber do quanto eles tem que ser orgulhar da sua origem.

A educação por aqui, precisa olhar para o seu povo mestiço e principalmente para os negros, e revelar valores que a história esconde, precisamos de crianças que saibam da vida dos nossos gênios, e são muitos, na literatura, na música, na ciência, elas precisam deixar de se mirar nos padrões estrangeiros, que são empurrados pela mídia, que não nos oferece nada, além dos enlatados violentos americanos, uma música de péssima qualidade, enfim, tudo muito sem graça, em um modismo que logo passa, para em seguida comprarmos, e comprarmos, afinal esse é o objetivo desse capitalismo selvagem.

Querem melhorar a educação no Brasil? mudem o foco dos valores, e como diz o querido Paulo Freire, só se aprende, quando nos reconhecemos no conteúdo, ou seja, temos que valorizar o aluno, valorizando nossos melhores exemplos de brasileiros, para que eles possam se identificar e sintam orgulho de ser brasileiros.

Embora tenhamos um país muito jovem, temos muito a oferecer, muito a nos orgulhar, e até de sentir vergonha, mas isso faz parte da educação, o aluno precisa saber dos fatos e tirar suas próprias conclusões. Só ai teremos individuo com capacidade de criar, criticar, ocupar o seu lugar na sociedade e fazê-la crescer.

Quando nossas crianças dos morros tiverem essa educação, teremos doutores, cientista, artistas, porque potencial eles têm, talento também, falta só vontade e oportunidade de mudanças reais na forma de oferecer o mesmo conteúdo que as crianças ricas recebem.

A maior injustiça da educação no Brasil e esse PCN, tão maleável, que permite que as escolas sejam tão desiguais, onde os mais ricos sempre aprendem mais, e a maioria da população, fica restrita ao mínimo, e as vezes nem esse mínimo, porque as vagas precisam aparecer e os alunos são empurrados para as séries seguintes, sem ter aprendido tudo que devia aprender, mas quem se importa? os filhos dos senhores que fazem as leis, certamente não estudam nessas escolas.

Quando os nossos governante, realmente, quiserem mudar a educação para melhor, será fácil, basta valorizar o professor, oferecer local de trabalho com o mínimo de conforto e material didático, pagamentos dignos, que nos permita está sempre atualizados com as mudanças do mundo, em todos os sentidos, tanto o professor como o médico não podem, nunca, parar de estudar, porque o que era verdade em um momento, deixa de ser em um outro. Temos o exemplo do átomo, na minha época de escola, era a menor partícula da matéria, hoje essa verdade caiu por terra, se o professor não se atualiza, fica ensinando eternas verdades, que já viraram mentiras.

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 23/09/2010
Reeditado em 09/10/2010
Código do texto: T2514818