REFORMA DO ENSINO
Há pouco tempo o Ministério da Educação anunciou um projeto de ampla reforma do ensino médio. Entende o ministério que o atual modelo se esgotou, pois visava mais o sucesso no vestibular do que a formação de cidadãos conscientes, honestos e democráticos. Para esta nova educação não são suficientes intenções e projetos. É necessária uma ampla mobilização do ambiente educativo. Ao menos, desde Platão(IV século a.C.), na Antiga Grécia, a educação dos cidadãos é uma responsabilidade do Estado. E o Estado é formado por todos os cidadãos. Por isso não estranha que cidadãos particulares, ou grupos de cidadãos, solicitem aos governantes a permissão de educarem subsidiariamente, de acordo com as leis civis.
Nesse sentido, o Brasil é exemplar, pois um amplo número de cidadãos subsidia o governo no múnus educativo. Toda esta rede de educandários visa atender ao público brasileiro. Por isto, parece muito estranho que se fale em educação pública e privada. Pois toda educação se destina ao público. O estranho é que grande parte das escolas, sob adminstração direta do Estado, apresenta qualidade inferior àquelas dirigidas por cidadãos comuns. Por que seria? Não pode ser por causa dos professores. Pois todos eles são formados nas mesmas universidades e faculdades, instituições controladas pelo poder governamental. A diferença apenas pode estar no fato de uns e outros terem mais entusiasmo pelo ensino, e investirem mais de suas vidas e bens nesta tarefa. Então, a primeira grande tarefa de uma reforma do ensino seria igualar os investimentos e a qualidade em todas as escolas brasileiras. Será que as autoridades, coordenadoras do país, estão dispostas para isto?
O segundo passo é a análise e a avaliação da metodologia e da seleção de conteúdos a constarem nos programas de ensino. Parece que o governo novamente apenas pensa neste segundo passo. Claro, isto é importante e significativo. E neste nível gostaria de dar uma sugestão. Muitos dos problemas brasileiros não são problemas de conhecimento, mas de educação, de boas maneiras, de preconceitos, de ética. Se o objetivo da educação é formar cidadãos úteis a seu país, não basta exercitar os educandos apenas para o exercício de uma habilidade profissional.
É preciso que, em primeiro lugar, se cuide em transformá-los em "gente", em um ser humanizado. E aí está um dos grandes problemas que se verifica no processo educativo em nosso meio. Crianças e jovens que não aceitam disciplina, com total ausência de senso de respeito, que não conhecem hierarquia, que não controlam sua linguagem, que são desonestos, pois colam trabalhos da internet, e os assinam como próprios (e pior, professores que toleram tal prática sem problema!). E assim se constata que notórios fora da lei em nosso País estudaram em grandes colégios, inclusive de religiosos. Pois, diante da difícil situação, até os religiosos perdem a mística educativa. E, em vez de conseguirem formar cidadãos ideais, contribuem para lançar na sociedade malfeitores. Diante disto, penso e sugiro que, entre as novidades de uma reforma do ensino médio, esteja a preocupação com o treinamento de boas maneiras entre os estudantes. Neste sentido, deveria haver aulas de boas maneiras, e que cada estudante lesse, ao menos, um livro de boas maneiras.
Boas maneiras na linguagem, boas maneiras na relação e no respeito para com os colegas, os professores e os funcionários. Pois, sem boas maneiras não somos nem civilizados, nem éticos e nem tolerantes, simplesmente não somos "gente".
» Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife/PE