Sobre violências e paz
Há algum tempo participei do Seminário Paraibano de Prevenção à Violência na Escola, organizado por um grupo de professoras da UFPB. Entre professores-doutores convidados estrangeiros, e de outros Estados do Brasil, ouvimos relatos de relações violentas e suas muitas significações culturais em várias partes do mundo, além de se discutirem teorias sobre as causas e conseqüências da violência, caracterizando-a em suas nuances.
Para o Prof. Dr. Jaccques Pain (Universidade de Paris – França), por exemplo, “o processo de ‘modernização’, com seu estabelecimento de valores, tem sido o promotor direto de manifestações de nossa potencial violência”, sendo a família e a Escola “os únicos lugares onde se pode desenvolver a civilização”. Já para a Profa. Dra. Vera Caudau (PUC, Rio de Janeiro), “a Escola não apenas sofre as conseqüências da violência, mas também produz violência. As manifestações da violência na Escola vão desde ameaças e agressões verbais e físicas, passando pela cultura do narcotráfico, pela violência familiar, por depredações e pichações”.
Para o Prof. Dr. Bernard Charlot (França / Universidade Federal de Sergipe - UFS), “é preciso cuidado ao se pretender abrir a Escola à comunidade. A Escola é um lugar onde não se fazem as coisas como na comunidade, onde se desenvolvem conhecimentos e procedimentos diferentes dos que ocorrem na comunidade. A Escola deve participar da comunidade de forma específica: apresentando uma peça de Teatro, editando e divulgando um jornal produzido na Escola etc.”. Para ele – que acredita na “educabilidade de todo ser humano” – “estatisticamente falando, é mais perigoso morar no Brasil do que no Iraque”, sendo a violência física decorrente da “incapacidade de resolverem-se conflitos através de argumentos”.
Para o Prof. Dr. Adir Luiz Ferreira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN), “a indisciplina não está necessariamente associada com a violência, nem com a agressividade, mas pode significar cidadania em ação”, não sendo saudável se considerar “violência” um conceito ambíguo. Fazendo uma crítica à estrutura da Escola no passado, já que são muitos os que consideram melhor a chamada “escola tradicional”, ele disse que “a escola dos ‘tempos dourados’ nunca existiu. Em ‘O Ateneu’, de Machado de Assis, encontramos um personagem, professor de uma escola do século 19, que é um carrasco” – sendo esse tipo de professor mais ou menos comum naquela época – observando, ainda, que “as pessoas que não se sentem amadas são mais propensas à violência”.
O psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980) acreditava que “a paz é resultado de uma mudança interior onde a união substitui a alienação. Por isso a idéia da paz não pode separar-se da realização da humanidade. A paz é algo mais que a ausência da guerra; é a harmonia e a união entre os homens, é a superação da separação e da alienação”.
Concordo com ele.