A Metogologia Aplicada Numa Sala de Língua Portuguesa
A Metodologia Aplicada Numa Aula de Língua Portuguesa
Autora: Solange Gomes da Fonseca
Considerando que a prática é o próprio desafio a receber solução, não se pode pensar a metodologia como simples conjunto de técnicas elaboradas para atingir metas determinadas, e que se configurem como passos obrigatórios, ou seja, que podem ser seguidos mecanicamente.
Ou ainda: como um conjunto de técnicas que aparecem como um discurso preparado por “conselheiros”, cuja voz em certa especialidade tem prestígio, e pressupondo-se que houve um conjunto de experiência bem sucedido a corroborar seu funcionamento. Assim, como um método é trazido para sala de aula para desenvolver um tópico disciplinar ou toda disciplina, torna-se difícil à interação efetiva, dado que tudo está previsto (Inclusive as respostas que devem ser fornecidas pelos alunos). Assim restritivamente concebido, o método não serve à concepção de linguagem aqui assumida: ele é o modelo do discurso acabado.
A metodologia do trabalho deve, em primeira instância, ser entendida como “orientação pedagógica geral” para o processamento de uma prática congruente, não dissociada daqueles princípios que regem a concepção de linguagem assumida, com todas as sua implicações.
Em segunda instância, a metodologia diz respeito à orientação específica assumir dentro de um campo de trabalho. Ela é, de qualquer forma, subordinada à orientação geral, e tem o zelo da plasticidade, uma vez que somente a dinâmica das relações no âmbito escolar é que indicará o espaço subseqüente. Em outras palavras: são os “acontecimentos” cotidianos que estabelecerão marcos no processo.
A metodologia, nesta perspectiva global, implica um processo múltiplo integrado, de modo que não há como pensar que cada sujeito é dono absoluto de um domínio.
As disciplinas, os conteúdos não são mais que um conjunto de tarefas de um grande trabalho de pesquisa para o desenvolvimento do qual a responsabilidade é individual na exata medida de sua coletividade.
As ações pedagógicas (relações de ensino e aprendizagem) deverão caracterizar o movimento social a partir do micro-universo da sala de aula. O que significa que a sala de aula é uns espaços específicos, apropriados para algumas tarefas.
É bom salientar que a escola priorizou o “ensino” (pelo professor) e esqueceu a “aprendizagem” (do aluno e do professor). Aqui há duas questões implicadas: Por que é necessário ensinar sistematicamente? Como se aprende?
De modo geral, sente-se como óbvio que é necessário ensinar, mas o processo de aprendizagem não tem merecido questionamento em termos de perspectiva dentro da escola.
Tais experiências serão necessariamente vinculadas ao mundo vivido aqui e agora, ao contrário do que tentam fazer as muitas lições do livro didático.
É nessa perspectiva que se pode abordar o vário aspecto (ou conteúdos) da gramática, a partir do seu funcionamento nos textos.
A atividade discursiva, essencialmente humana e socialmente orientada, não tem sido priorizada em toda as suas facetas nem no Ensino Fundamental nem no Ensino Médio.
Se a linguagem, a par de ser um conhecimento, é também o meio privilegiado de obter conhecimento, em qualquer domínio, ela percorre todas as instâncias e não pode ser, pensada apenas no domínio que chamamos Língua Portuguesa. Esta perspectiva esta bem marcada em Vygotsky quanto em Bakhtin.
Como a linguagem acompanha qualquer ação, sendo ela mesma enquadrada como ação, convém reprisar a seguinte distinção, da qual o professor lançará mão desde a abertura do seu trabalho:
... no agenciamento dos recursos expressivos que o (sujeito) mobilizam e ele (o sujeito) mobiliza, há ações que se realizam com a linguagem (avaliar, persuadir, informar, divertir, convencer, doutrinar, seduzir, etc.), há ações que se realizam sobre a linguagem, criando novos recursos expressivos a partir daqueles já existentes (especialmente através dos processos metafóricos e metonímicos, mas também através de paráfrases, paródias e mesmo se utilizando a produtividade dos processos de estruturação sintática), e há ações da linguagem que delimitam sistemas antropoculturais de referência através da estrutura categorial, estilo de pensamento socialmente condicionado, incluindo ideologias e utopias, que internalizamos nos processos interativos que participamos... (GERALDI, 1996, p. 20-21).
Explicitando: o trabalho lingüístico é algo que envolve uma forte influência das línguas já constituídas sobre seus usuários (ações da linguagem) e ao mesmo tempo uma influência sobre essas línguas (ações com a linguagem e sobre a linguagem), cujo horizonte de funcionamento é toda uma sociedade.
Com o avanço assustador das forças produtivas, através de recente revolução da microeletrônica e da informática, que permitem a automação flexível, estamos colocados diante de um desafio enorme: simplesmente recriar as formas de organização do trabalho, as relações humanas, a cultura, uma vez que as condições para reprodução material da vida estão dadas potencialmente; todavia, ao mesmo tempo, estão aprisionadas num modelo ultrapassado de organização social.
O professor (não o “dador” de aula) trabalha com a produção do sentido. Hoje, diante do clima de perplexidade do mundo, as pessoas estão procurando ansiosamente sentido para as coisas. É, portanto, o tempo por excelência do autêntico conhecimento, do verdadeiro mestre e do estudo na sua perspectiva radical.