Rompendo Práticas Pedagógicas Preconceituosas: por uma educação que promova a Diversidade Cultural e a auto-estima do aluno negro
Sabe-se que tipos de cultura são representações mentais elaboradas socialmente, ou seja, é um produto coletivo que serve como referência e orientação.
Nas palavras de ROMÃO (1999), uma criança negra traz na sua história as características da cultura negra. Com maior ou menor intensidade, a força desses traços culturais se faz sentir em toda parte, pois é dinâmico.
Esse dinamismo que faz parte da vida de crianças negras não é sempre compreendido e respeitado pela escola, pois recebem diariamente estímulos negativos em relação à sua cultura, muitas vezes incentivados pelos próprios professores que freqüentemente traduzem como indisciplina a personalidade de alunos negros, exigindo a anulação dessa postura. Essa anulação acaba por promover a negação da própria identidade desses alunos, fazendo com que estes concluam que sua realidade cultural, social e familiar não é adequada e, por isso, não pode ser incorporada em outras relações sociais.
Neste sentido, o presente trabalho busca formular um estudo em que se possa romper com essas práticas pedagógicas preconceituosas, enfatizando o papel da diversidade cultural na escola como parte de uma coletividade de um grupo cultural e étnico.
Contextualizando...
A partir dos anos 90, a questão das diferenças vem ocupando um outro lugar no discurso pedagógico. A educação escolar está sendo chamada a superar uma visão psicologizante estreita que acaba delineando perfis idealizados de professor/aluno e a incorporar avanços da própria psicologia e de outras ciências, contribuindo muito mais com a produção da exclusão do que com a garantia de uma educação escolar democrática e de qualidade.
Considerando as especificidades que compõem a diversidade cultural, independentemente das diferenças, não se pode esquecer de uma instituição muito importante em qualquer sociedade: a escola, que cumpre sua função social e política não somente pela escolha da metodologia utilizada na transmissão dos conhecimentos, mas também no que se refere aos caminhos trilhados para a construção do diálogo e para a garantia da cidadania à todos.
Sendo a escola um espaço sócio-cultural em que as diferentes presenças se encontram, a reflexão sobre a diversidade cultural não pode ficar restrita apenas ao reconhecimento do outro como diferente. O educador deve estar atento e refletir se a educação como um direito social possibilita a inclusão de todo tipo de diferenças neste espaço. A diversidade cultural conduz a um repensar do papel do professor.
Assim, considera-se que ao romper com práticas pedagógicas preconceituosas está se promovendo e respeitando a diversidade cultural existente na escola, tema de extrema relevância, visto que acabar com a prática docente preconceituosa é o primeiro passo para reconhecer as diferenças, respeita-las, aceita-las e coloca-las no cerne do processo educativo.
Mas refletir sobre a diversidade através do trato pedagógico é algo complexo, pois exige o reconhecimento das diferenças e, ao mesmo tempo, o estabelecimento de padrões de respeito, de ética e a garantia dos direitos sociais.
Os educadores, por vezes, são levados a concluir que ensinar é transmitir conhecimentos para alguém que nada sabe. Esquecem que as crianças vivenciam outros espaços educativos que podem divergirem ou não dos conhecimentos passados pela escola.
O educador que não é preparado para trabalhar com a diversidade, tende a padronizar o comportamento de seus alunos, concluindo que as diferenças étnico-culturais se traduzem nos processos educativos e que as crianças negras não conseguem acompanhar os conteúdos porque são defasadas econômica e culturalmente. Conclusões estas, calcadas em estereótipos e preconceitos.
Agindo desta forma, o educador adota uma postura discriminatória, não investe em mudanças estruturais e acaba por reproduzir a marginalização racial e social presente na sociedade.
Na escola, o ideal seria que os educadores buscassem informações concretas sobre as crianças, possibilitando trocas de experiências entre os diversos grupos sociais e étnicos encontrados no sistema de ensino. Para tanto, é preciso que estes educadores excluam preconceitos e estigmas, tornando-se necessário, no entanto, que estejam preparados, assim, como, interessados e comprometidos com as mudanças que esta prática docente irá promover tanto no âmbito individual quanto no coletivo, pois o educador enquanto mediador de processos de transformação educacional deve atuar contra os preconceitos e promover a igualdade.
A diversidade cultural tem passado pela escola como Tema Transversal, mas muito mais que um tema, a diversidade cultural constitui a própria formação humana.
Neste sentido, a problemática que se coloca é qual é o trato pedagógico que a escola tem dado às diferenças?
Diante da diversidade cultural existente na sala de aula, que tipo de postura cabe ao educador?
E se a diversidade cultural diz respeito às relações estabelecidas entre os grupos e por isso mesmo está inserida nas relações de poder, por que o discurso sobre esta diversidade não abrange uma discussão política?